Thiago Amaral vem se destacando cada vez mais no universo artístico. Atualmente, o ator está em turnê pela Europa com a peça “Odisséia”, realizada pela companhia Cia Hiato, da qual é co-fundador. O espetáculo conta a história do regresso de Ulisses à região de Ítaca após dez anos. “A inspiração de montar Odisséia, texto clássico de Homero de 1800 a.C., se deu para nós observarmos quais são os mitos que ainda estão presentes na nossa cultura. Como trata-se de um livro da literatura ocidental é uma maneira de nós percebermos que os textos escritos pela humanidade vêm se repetindo como padrões e entender como esses mitos estão presentes até hoje – e quais seriam os mitos contemporâneos. Observamos que na obra muita das deusas, por exemplo, não têm voz, pois é muito pautada na figura masculina de Ulisses. Então, o estudo se deu a partir de como dar voz à essas figuras, como seria a fala de Penélope, como seria resgatar o mito de Penélope – aquela visão de que a mulher está sempre à espera enquanto o marido está na jornada em busca, e na tentativa, de voltar pra casa – então fizemos um estudo de mitologia”, declarou.
Thiago é bacharel em Interpretação pela Universidade de São Paulo (USP), e na televisão, o ator coleciona importantes papéis e participações. Integrou o elenco da série “Amigo de Aluguel”, do Universal Channel, e em “A Garota da Moto”, exibida nos canais SBT e FOX. Participou também de “3 Teresas” e “Surtadas na Yoga”, no canal GNT, “A Mulher do Prefeito”, na Rede Globo, e “3%”, produção brasileira da Netflix. Além de ator, ele é produtor, coreógrafo e palhaço profissional. Sobre a valorização da arte no país, ele comenta: “A arte enfrenta todos os tipos de dificuldades para ter reconhecimento no Brasil. Desde o apoio, recursos, leis, oficinas culturais que estão sendo fechadas, à censura. Coisas horrorosas que estão acontecendo! Já é uma verba tão curta sendo destinada para a cultura, e só tem piorado. Então sim, o artista tem a obra com dificuldade de ser valorizada, a arte tem uma dificuldade de ser valorizada e entendida como essencial por uma civilização e está acontecendo um retrocesso que deixa tudo mais difícil ainda”.
A peça, que passou pela Holanda em março, chegará a Portugal em maio e depois segue para quatro apresentações na Alemanha, em junho. A recepção do público europeu tem sido calorosa e com quase todas as sessões lotadas: “A Odisséia tem duração de quatro horas e quarenta minutos, um tempo bem grande de convivência entre as pessoas. Esse tempo, com um público que não nos conhecia e não sabia de onde a gente era, fazia muito sentido porque nós éramos estrangeiros. Isso tem tudo a ver com a narrativa de Homero, que passa por uma cerimônia de recepção de estrangeiros ao desembarcar numa ilha. É um momento que chama “xenia”, que é a cerimônia de recepção dos refugiados e imigrantes. Na Europa, essa questão é muito forte, o que acaba mexendo com o público”.
Ao ser perguntado sobre a diferença entre o público nacional e o estrangeiro, o ator respondeu: “O que a gente percebe é que o espetáculo é muito polêmico. Na Holanda, nos apresentamos no interior, em cidades pequenas, e as pessoas muitas vezes ficavam bem chocadas com a presença do nu em cena. Alguns lugares já estão censurando a peça. O texto tem uma questão política muito forte, que fala sobre Atena. A gente percebe que o público mais conservador tem muita dificuldade em digerir a peça. Em Curitiba, algumas pessoas saíram com a peça ainda em andamento, porque não estavam preparadas para aquilo. Comentamos sempre sobre essa dificuldade que temos com essa peça no Brasil, e até quando ela pode ser permitida pelo rumo que as coisas estão tomando – o que é um terror”.
Aproveitando o gancho político dado pelo tom da produção, o paulista, nascido em Taubaté, opinou sobre a atual realidade política brasileira e o seu impacto nas artes: “O momento é de medo e de desespero. Projetos e oficinas estão sendo fechados, leis estão sendo cortadas, obras estão sendo censuradas e tenho medo que isso só piore nessa onda de acontecimentos”.
Apesar da versatilidade, Thiago revela que ainda não fez tudo o que gostaria. Segundo o ator, papéis mais ousados, que exijam um alto nível de entrega, estão entre os seus principais desejos: “O personagem que eu mais gostaria de fazer no cinema seria o Coringa do Batman. Adoro esse antagonista e esse tipo de figura. Acho que eu me encaixo bem e gosto mais de fazer. Eu gostaria também de fazer um filme com Sacha Baron Cohen, que se joga na experiência, e faz como ele fez em “Brüno”, “O Ditador” e “Borat”. Queria fazer um filme assim, queria ter um personagem pra fazer um filme assim”.
“Os projetos no forno: uma segunda edição do Bollywood Clown, que eu pretendo fazer envolvendo várias unidades do SESC, culminando no SESC Ipiranga. Outro projeto é um filme que ainda está no seu estado embrionário de roteiro, e é dirigido pela Marina Person e quem estará comigo é o Johnny Hooker. Tem uma peça que quem escreveu e irá dirigir é o Vinícius Calderoni, e meu parceiro de cena será o Fabrício Licurs. Irei fazer algumas participações em longas que ainda serão exibidos e lançados no Brasil. Eu volto com o espetáculo “Buddha”, que é da Banda Mirim e vai entrar em cartaz em São Paulo. É um espetáculo para todas as idades, e que foi muito premiado! Eu recebi indicações de melhor figurino e melhor ator coadjuvante nesse espetáculo no Prêmio São Paulo de Arte. Por fim, as apresentações da Odisseia pelo mundo!”, declara o ator sobre os seus futuros trabalhos.
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