Imagine só um cego e um louco dividindo o mesmo apartamento. A trama escrita por Claudia Barral conta a história de dois irmãos que vivem uma vida sossegada e reclusa, sendo o mais velho um pintor que não exerce mais a profissão desde que perdeu a vista e o mais novo que adquire uma prematura responsabilidade para poder cuidar de si e do irmão deficiente visual. Aparentemente tedioso, o cotidiano solitário dos jovens ganha uma reviravolta com a presença de uma nova moradora do prédio e assim, um simples chá entre os irmãos e a nova vizinha se transforma em um thriller psicológico. A história de Nestor, o mais velho e Lázaro, o irmão mais novo, estréia hoje na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, com sessões de sexta-feira a domingo, às 18h. O site HT conversou com Gustavo Wabner, diretor da peça sobre as expectativas para essa primeira temporada.
Quarto espetáculo da Lunática Companhia de Teatro, a comédia dramática O Cego e o Louco representa a primeira incursão do grupo por um texto brasileiro e fica em cartaz até o dia 27 de janeiro. Na bagagem, os elogiados O princípio de Arquimedes (2017), Esse vazio (2016) e Matador (2012). Há um fio de interesse que amarra todos os trabalhos: a presença de autores contemporâneos perspicazes no exercício de refletir as questões do mundo onde vivemos. “Pela profundidade do texto e questões que ele levanta, o espetáculo promove uma espécie de retrospectiva da nossa vida. A relação de irmandade abordada na peça é muito parecida com qualquer relação familiar com todas as dependências, ironias e frustrações. É uma história em que as pessoas se identificam, acham graça em função disso, e, ao mesmo tempo, se vêem emocionadas por se enxergarem ali”, afirmou Gustavo que está em sua primeira direção de montagens da Lunática.
Apesar de ter apenas 16 páginas, a peça escrita em 2002 por Claudia, dramaturga da nova geração, é extremamente rica e aborda a fronteira entre a loucura e a arte, tema já presente no diálogo travado entre touro e toureiro em Matador, primeira montagem da companhia. A pergunta implícita lá – qual o limite da arte? – ganha ressonância agora, a partir de um recorte simples, sustentado na conversa de duas almas doídas. É característico da companhia de teatro carioca a troca criativa e a renovação de equipe e de diretores para cada montagem. E para esta não foi diferente. Diretor convidado da vez, Gustavo Wabner trabalhou no ano de 2017 em O princípio de Arquimedes, mas como ator e em O Cego e o Louco ele dirige o elenco formado por Alexandre Lino e Daniel Dias da Silva.
Gustavo iniciou sua carreira em 1990 e desde então trabalhou com alguns dos mais importantes nomes do teatro brasileiro, como Gerald Thomas, Naum Alves de Souza, Gabriel Villela, Sergio Módena, Pedro Brício, Gilberto Gawronski, Ron Daniels e Deborah Colker. É um dos produtores e diretores da Trupe Fabulosa. Dirigiu os musicais Paletó de Lamê, Mulheres do Brasil e Politicamente InCorretos. Apesar de ter passado por quase todas as áreas que envolvem a produção de montagens cênicas é a direção a grande paixão de Gustavo e ele explica o por quê: “Artisticamente dirigir é criar e conceber um todo de um espetáculo e, por isso, é diferente do trabalho de ator, que é mais individual. Dirigir o ator é muito instigante e foi nisso que vim investindo nos últimos anos”.
Desde quando foi conquistado pelo fantástico mundo do teatro, há 15 anos, Gustavo Wabner dirigiu importantes espetáculos. No ano passado assinou a direção de Dancin Days junto de Deborah Colker. No mesmo ano de 2018 foi o responsável pela direção do elogiado Navalha na Carne a convite de Luisa Thiré, neta da atriz Tonia Carrero, responsável pela liberação do texto durante a ditadura. Depois de estrear no mês de agosto do ano passado em São Paulo, a remontagem vai participar de festivais em Curitiba e Recife em 2019 e com previsão de estrear no Rio de Janeiro no dia 11 de Maio.
O Cego e o Louco, sua mais nova empreitada, tem tudo para conquistar o gosto do público através da identificação com os dramas familiares. Para conseguirem estar com tudo pronto para a grande estreia, a equipe se mobilizou no ultimo mês para dar vida a essa primeira temporada. “Foi um desafio ter que levantar essa peça com tão pouco tempo. Fizemos intensivo de várias horas de ensaio por dia e o resultado está satisfatório. O prazer que tivemos durante o processo se refletiu no resultado final do espetáculo”, afirmou Gustavo.
Serviço:
Temporada: 04 a 27 de janeiro
Horário: Sexta a domingo, às 18h
Local: Sala Multiuso do Sesc Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia), R$ 30 (inteira)
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60min
Lotação: 50 lugares
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