Uma das mais notáveis obras do escritor franco-argelino Albert Camus, publicada em 1947, ganha nova vida nos palcos brasileiros. A Peste, em uma inédita montagem nacional, chega ao teatro em formato de monólogo, estrelado por Thiago Lacerda e dirigido pelo renomado Ron Daniels. A aguardada estreia será dia 10 de outubro no Sesc Santana, em São Paulo, onde ficará em cartaz por uma curta, porém impactante temporada.
Ambientada na cidade de Orã, uma colônia francesa na Argélia, a peça nos convida a refletir sobre a sociedade por uma perspectiva coletiva. Seguindo os passos do romance original, a história é conduzida pelo relato do Dr. Bernard Rieux, que narra, de maneira fluida e reflexiva, o avanço implacável da peste. A partir de seu ponto de vista, acompanhamos o surgimento da epidemia, os efeitos devastadores para indivíduos e coletivos, as tentativas de contenção e os desdobramentos das ações humanas diante da calamidade.
Após um ano enfrentando a peste, Dr. Rieux se dirige ao público, desfiando suas reflexões sobre a luta constante contra o bacilo e os males que ele simboliza. O contexto é ampliado pela metáfora da Guerra, em especial a ocupação nazista na França, tornando a peste uma imagem pungente da miséria moral e da fragilidade da civilização contemporânea.
Foi em 2020, no auge da pandemia de covid-19, que Ron Daniels sugeriu a adaptação do clássico de Camus para os palcos, uma proposta prontamente aceita por Thiago Lacerda. A parceria entre os dois não é novidade: ela teve início em 2012, com encenações bem-sucedidas de peças de Shakespeare, incluindo Hamlet (2012), Macbeth e Medida por Medida (2015). Segundo o diretor, as semelhanças entre o contexto da peça e os tempos atuais são inúmeras. Contudo, o que mais sobressai é a sensibilidade com que Camus explora a condição humana – seja no amor, no sofrimento, no exílio ou na eterna busca pela justiça e pela solidariedade.
Com tradução de Valerie Rumjanek e produção de Érica Teodoro, A Peste fica em cartaz no Sesc Santana até o dia 10 de novembro, oferecendo ao público uma oportunidade rara de refletir sobre as profundas questões levantadas por Camus em tempos tão desafiadores.
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