Sheila Mello é criticada nas redes sobre post aliando autoestima a peso e pele


A pesquisadora em narrativas sobre mulheres Maria Carolina Medeiros, professora e doutoranda em Comunicação na PUC-Rio, fez uma análise sobre o conteúdo e, segundo ela, é um “desserviço às mulheres”. E lembra que “essa lógica é social, não individual, e que nunca terá fim. Sempre haverá algo que você não fez e que será convencida de que precisa fazer. Basta se lembrar: não será assim que vai construir autoestima”.

A legenda da foto postada por Sheila Mello em suas redes sociais repercutiu forte na web. “Como está sua autoestima? A autoestima da mulher está super ligada à sua saúde e corpo. Desde o peso, a pele e a forma como nos olhamos no espelho”, escreveu a atriz e ex-dançarina do grupo É o Tchan!. A pesquisadora em narrativas sobre mulheres Maria Carolina Medeiros, professora e doutoranda em Comunicação na PUC-Rio, fez uma análise sobre o conteúdo e, segundo ela, é um “desserviço às mulheres” e pontou em sua conta no Instagram que esse tipo de comentário não é exclusividade da loura do Tchan!

Segundo Maria Carolina, “a apropriação da “autoestima”, como Sheila Mello diz, como algo relacionado à beleza, ao peso e a pele, tem uma única finalidade: colocar na mulher a responsabilidade sobre manter-se bela. “Ah, mas eu faço unhas porque gosto”. Não é porque você gosta. É porque você vive em uma sociedade em que te foi ensinado a gostar. Mas a culpa não é sua. Nem de Sheila. Essa pressão é social e estamos todas nessa lógica. Não é para deixar de fazer as unhas, se te apetece (mero exemplo dentre tantos outros que eu poderia dar). Mas é para lembrar que essa lógica é social, não individual, e que nunca terá fim. Sempre haverá algo que você não fez e que será convencida de que precisa fazer. Basta se lembrar: não será assim que vai construir autoestima”.

Sheila Mello (Reprodução Instagram)

Maria Carolina Medeiros lembra que a História mostra a beleza como ativo para “um bom casamento”. Simone de Beauvoir já debatia em 1949 como a beleza é virtude para a mulher , enquanto a feiura é a desgraça a qual as “feias” são relegadas. Uma construção que acontece diante da necessidade da conquista do olhar do homem.

Entretanto, essa beleza, que até o século 20 era algo inato, um dom, passa a ser um dever e um prazer. Como mostra a professora Denise Bernuzzi Sant’Anna (autora do artigo ‘Descobrir o corpo: uma história sem fim’) se embelezar com maquiagem e ornamentos era visto como algo moralmente suspeito, mas, na metade do século 20, se torna uma “prova de amor por si mesma e pela vida”. Para a autora, essa mudança complica as “maneiras de ver e examinar a própria imagem”.

Essa certa autonomia – “só é feia quem quer” – coloca na mulher a falaciosa liberdade de fazer o que quiser com o próprio corpo. “Meu corpo, minhas regras”, te soa familiar? Acreditamos que só depende de nós, mas, paradoxalmente isso implica em termos ainda menos escolha. Quanto mais opções de nos embelezarmos existirem, maior será a cobrança para o que virou “cuidado de si”.