* Por Bruno Muratori
Ninguém duvida que o Rock in Rio seja o maior festival de música do mundo, sobretudo pelas dimensões e longevidade. Ao longo de 30 anos, detém uma história invejável, nasceu no Brasil e acabou indo além-mar até Lisboa e Madri, sempre com a intenção de levar todos os estilos de música aos mais variados públicos. E, enquanto no Brasil a preocupação maior atualmente é a Copa do Mundo FIFA, na Europa o festival tem dado o que falar nestes últimos dias, quando praticamente estabeleceu a chegada do verão na terrinha. Dez anos se passaram desde o primeiro Rock In Rio Lisboa e, em essência, nada mudou. E, por incrível que pareça, Lisboa ultrapassa este ano o Rio de Janeiro como a cidade que mais vezes acolhe o evento, com espaço até para o futebol brasileiro ganhar destaque junto aos acordes de guitarras.
A edição 2014, que encerra neste domingo (1/6) com um line up que inclui Justin Timberlake, contou nesta edição com artistas do calibre dos Rolling Stones, Arcade Fire e Robbie Williams como cabeças de cartaz. Let me entertain you, canta este último. Esse é o seu mote. E essa parece ter sido a chamada do badalo nestes dias de evento, que começou no domingo passado, dia 25, interrompeu e retomou a programação nesta quinta-feira (29/5).
Em curso no Parque Bela Vista, que não poderia ser mais adequado para se transformar na “Cidade do Rock”, o Rock in Rio Lisboa partilha do sucesso de Robbie Williams: sempre entretenimento, tudo entretenimento. E vai seguindo o modelo desenvolvido no Brasil, revelando que, em época de globalização, a padronização para difusão é o grande caminho: como na Cidade-Maravilha, as apresentações são nos quatro palcos (o Mundo, que é o principal, o Vodafone, o EDPRock Street e a Tenda Eletrônica), e até Ivete Sangalo – que vive marcando presença nas edições brazucas – permanece como a queridinha dos lusos e faz niver de dez anos na edição portuguesa, junto com o próprio evento. Ela, inclusive, levou o público ao delírio na madrugada de abertura, em show digno de temperar pastel de Belém com dendê.
Mas, nem só com blockbusters conta o festival, que apostou em nomes variados, como o da inglesa Paloma Faith (estética retrô em batida moderna, um sucesso), a curiosa performance do cultuado Silva e o encontro entre o hip hop de Boss AC e o soul de Aurea. E uma novidade muito esperada pelos portugueses desta vez foram os meninos do Capital Inicial que se apresentaram nesta sexta (30/5) no Palco Mundo, em sua estreia no Rock in Rio Lisboa, depois de terem tocado em quatro edições no festival no Brasil. Foi um sucesso. Os rapazes fizeram bonito em noite de peso, abrindo para aqueles shows mais poderosos que vieram a seguir – Queens of the Stone Age e Linkin Park. E, já na madruga, o badalado Steve Aoki sacudiu a turma com seu set impecável. Prova de que a variedade de estilos comanda o público. 68 mil pessoas foram de A a Z, desde o rock brasileiríssimo da trupe de Dinho Ouro Preto até os riffs pesados dos dois seguintes, se jogando em seguida na pista para suar a camisa sob os sintetizadores do DJ. Aoki, inclusive, jogou seus famosos bolinhos na plateia, ao som de electro house. Com sua desenvoltura peculiar, assumiu as picapes e mandou ver, embora já tivesse dado o ar de sua graça mais cedo, durante o show do Linkin Park, saltitando para lá e para cá feito uma pulga.
Durante este Rock in Rio Lisboa, a Copa do Mundo no Brasil esteve presente em diversos espaços do parque. Em um deles, a Embratur montou um estande com o “Pênalti Virtual”. De frente para uma grande tela, antes de chutar uma bola de verdade, o usuário assiste a uma breve apresentação dos atrativos turísticos do Brasil. De acordo com o chute, a ferramenta traz a resposta se foi gol ou se o goleiro conseguiu agarrar a bola, para a tristeza do particpante. Brindes são distribuídos a quem topa arriscar, enquanto os presentes podem conhecer um pouquinho mais do país por meio de imagens e músicas. Puro merchandising para trazer o público do festival ao evento esportivo no Brasil.
E, nessa levada de rock e futebol, as coincidências não param por aí. Afinal, em uma retrospectiva, são 10 anos e muitas coincidências, quase um déjà vu: naquela época um Beatle, Paul McCartney, deu o chute inicial no palco principal, neste primeiro dia da vida do festival em Lisboa. Há dez anos, esta também era a contagem decrescente para o início do Campeonato Europeu de Futebol realizado em Portugal e, no alinhamento de um cartaz que incluía Peter Gabriel, Sting ou Britney Spears, era possível encontrar Ivete Sangalo e os Xutos & Pontapés, banda local de muito sucesso, lado a lado. Agora, depois desses dez anos, o bienal Rock In Rio Lisboa é certamente, em números de público, o maior festival português, um verdadeiro fenômeno de massa, assim como o futebol em terras tupiniquins. De lá para cá, Paul McCartney até nem mais regressou – mas agora os portugueses tiveram, por sua vez, o privilégio de ver cara a cara a mais icônica e influente banda britânica ainda em atividade: os Rolling Stones, cujos ingressos se esgotaram com antecedência. E mais: nesta edição do festival em Portugal, o futebol volta a rondar as caixas de som, não só pelas ações promocioais do Brasil para divulgar a Copa, mas por outra instituição, bem local, já que a final da Liga dos Campeões será disputada no estádio da Luz em Lisboa, nas proximidades.
*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos pasteis de Belém, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha.
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