*Com João Ker e Rillen Rymes
Alexander McQueen (1969-2010) e John Galliano podem ser considerados como os anjos rebeldes da moda, cada um a seu modo. Famosos pela irreverência e criatividade, eles são o exemplo de que, como ocorre na maior parte dos casos, o talento genial pede o seu preço. Amados e conhecidos por muitos, mas ainda assim indecifráveis, os dois estilistas gozaram de sucesso e prestígio, mas o topo do mundo pode ser um lugar solitário, e a excentricidade nem sempre é bem entendida. Os escândalos e dramas de suas vidas refletem a verdade agridoce de que apesar da fama, no fim, os astros são apenas humanos. E é isso que o livro “Gods and Kings: The Rise and Fall of Alexander McQueen and John Galliano” pretende mostrar.
Com lançamento previsto para o próximo dia 10, a autora Dana Thomas traça a biografia dos dois designers, incrivelmente habilidosos, mas que tiveram seus grandes momentos de queda. A ideia surgiu quando a jornalista e ex-modelo estava escrevendo um artigo sobre o infame surto anti-semita de Galliano e começou a relacionar a depressão de Tom Ford, os vícios de Marc Jacobs e a histeria criativa de Christophe Decarnin, ex-designer da Balmain. “Eu escrevi esse parágrafo e pensei: ‘Uau! Tem alguma coisa aqui”. Thomas então ligou para seu editor e começou a pesquisar entre seu arquivo sobre as histórias de ambos os estilistas.
Entre os entrevistados de “Gods and Kings”, estão familiares de Alexander McQueen e John Galliano, colegas de trabalho e o jornalista André Leon Talley. O livro ainda traz detalhes de todos os desfiles dos estilistas, além de alguns boatos que circularam pela indústria e suas respectivas lutas contra a depressão e os vícios. No trágico caso de McQueen, a pressão da indústria para que ele se adequasse aos moldes, o suicídio de sua alma gêmea criativa, Isabella Blow, em 2007, e a aquisição de sua marca pelo conglomerado LVMH foram pontos decisivos em uma morte que, de acordo com a autora, já teria sido planejada outras vezes.
Já no caso de Galliano, as polêmicas envolvendo o escândalo anti-semita e a sua demissão da Dior foram o estopim de um alcoolismo que estava anunciado há meses entre seus colegas de trabalho. No livro, Dana Thomas conta que tanto o diretor geral da grife, Sidney Toledano, quanto o responsável pela Louis Vuitton na LVMH, Bernard Arnault, tentaram convencer o designer a se internar em uma clínica de reabilitação, o que não surtiu efeitos. O que se seguiu foi o exílio fashion mais comentado e noticiado dos últimos anos, que ainda está longe de um fim, por mais que o estilista esteja voltando aos poucos para o universo da moda, como prova sua recente coleção para a Maison Martin Margiela (que você viu aqui).
Críticos e VIPs que já tiveram acesso ao livro se dividem em opiniões: uns acham que Dana pegou pesado com McQueen, outros consideram que ela exagerou com Galliano, muitos têm certeza de que o lançamento é ofensivo para a memória e reputação de ambos, já que além de falar das conquistas profissionais, a autora também se aventura pelo universo romântico e pessoal de cada um. Seja como for, biografias nunca são bem recebidas de uma maneira geral, ainda mais quando seus retratados são pessoas polêmicas com vários esqueletos no armário.
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