Professora cria projeto que usa o teatro como ferramenta de educação e inclusão para crianças de comunidade da Zona Portuária


O intuito principal do Cortejo Favela é o de oferecer referências de arte para crianças e jovens, além de criar uma agenda cultural dentro do complexo de favelas do Caju. “Queremos ocupar os espaços públicos e democratizar o acesso à cultura”, explica Laura

Para facilitar o aprendizado de alunos do Complexo de Favelas do Caju, na Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro, a atriz e educadora Laura Campos Braz fundou, em 2018, o Projeto Cria, onde oferece aulas gratuitas de teatro para crianças e jovens da comunidade. Em nove anos de experiência como professora de teatro em escolas públicas e instituições sociais, Laura notou que muitos alunos tinham dificuldades de assimilar o conteúdo escolar e decidiu tentar mudar essa realidade, usando o teatro como ferramenta educacional.

Ela entende bem este cenário. A profissional também foi uma aluna com muita dificuldade de aprendizagem, o que a tornava muitas vezes, desinteressada. O teatro mudou a sua postura diante dos estudos, dando autonomia para entender a sua própria maneira de estudar. É esta ferramenta que ela leva para o Cria.

“Com a falta de equipamentos culturais no Caju, decidi trabalhar com teatro de rua, atuando em uma quadra, localizada na Praça do Mar. Com o objetivo de estimular os alunos, montei um espetáculo teatral, o Cortejo Favela, que conta a história do Caju e do surgimento das favelas, integrando o teatro e a música com aulas de História, Literatura e Escrita Criativa. O Cortejo Favela foi apresentado nas ruas da Quinta do Caju, sendo assistido por mais de 100 espectadores”, lembra Laura.

Por conta da pandemia, o projeto teve que parar com as atividades presenciais por um tempo. Recentemente, eles voltaram com a prática de montagem, da turma que estava ensaiando o Cortejo Favela. “Fizemos uma gravação do teatro de rua dentro da favela. A ideia é exibi-lo de forma online. Queremos que a comunidade tenha acesso a este trabalho. Que ela se veja e se orgulhe da sua arte”.

O intuito principal do Cortejo Favela é o de oferecer referências de arte para crianças e jovens, além de criar uma agenda cultural dentro do complexo de favelas do Caju. “Queremos ocupar os espaços públicos e democratizar o acesso à cultura”, explica Laura. Ela ainda acrescenta: “Como muitos moradores não têm conexão de internet, optamos por realizar o Cortejo Favela de forma presencial, obedecendo às normas de proteção, e em espaço aberto”.

Este slideshow necessita de JavaScript.

A ação foi possível graças a parcerias com diferentes entidades e do reconhecimento que a ONG recebeu por meio do Prêmio Ações Locais, do auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc. O Cortejo de Favela é um espetáculo de teatro que acontece pelas ruas da comunidade e conta a história do bairro do Caju e do surgimento das favelas. O estudante de teatro Pedro Bento, um dos beneficiados pelo CRIA, se apresenta na peça e acredita que a atividade traz representatividade aos moradores locais. “É um exercício de movimentação corporal e projeção de voz, uma vez que é uma apresentação ao ar livre. A população verá o seu dia a dia no Cortejo, a rotina do povo de periferia, e acho que isso trará o sentimento de aceitação para todos”, conta. Vale ressaltar que algumas cenas foram escritas pelos próprios alunos.

Pedro faz parte do projeto desde sua inauguração, em 2018, e considera que desenvolveu habilidades artísticas e pessoais dentro da ONG. “Conheci gente nova, coisas novas, fiquei mais solto. Eu era muito tímido e o teatro aumentou minha capacidade de expressão, é uma experiência que todos deveriam ter”, avalia. O jovem ator, de 19 anos, pretende seguir carreira teatral e está empolgado para a performance de domingo. “Vai ter um impacto positivo, uma das melhores peças em que já me apresentei”, finaliza.