Na internet se faz, na internet se paga. Ao longo da estreia do “MasterChef Júnior”, nesta terça-feira, o país inteiro se chocou quando declarações públicas de pedofilia foram direcionadas à participante Valentina, de apenas 12 anos, via internet, nas quais alguns homens se declararam atraídos pela garota, para dizer o mínimo e manter a dignidade humana. Dois dias depois, veio a resposta na mesma rede social: o coletivo feminista Think Olga incentivou outras mulheres a dividirem suas histórias de assédio sexual através da hashtag #PrimeiroAssédio, que logo tomou os Trending Topics.
“Não vamos mais esconder a nossa história. Quem tem que ter vergonha do #PrimeiroAssédio são os criminosos que nos violentaram”, escreveu a organização em um tweet. Apenas nas últimas 24h, a hashtag já foi usada mais de 37 mil vezes. Isso mostra não só o poder das redes sociais em si, mas também a terrível cultura de estupro que é enraizada na sociedade, na qual mulheres são sujeitas a situações de assédio e ainda se sentem inibidas em denunciarem ou até falarem sobre o assunto, seja pela impunidade ou pela falta de apoio geral, onde autoridades e familiares cismam em fazer vista grossa para as denúncias.
Não vamos mais esconder nossas histórias. Quem tem que ter vergonha do #PrimeiroAssedio são os criminosos que nos violentaram.
— Think Olga (@ThinkOlga) October 22, 2015
Em entrevista ao Portal Forum, a publicitária Luíse Bello, gerente de conteúdo e comunidade do Think Olga, explicou ainda o motivo por trás da criação da campanha. “O assédio acaba sendo invisibilizado por dois motivos. O primeiro é que, ao reclamarmos dele, sobretudo quando crianças, ouvimos que é normal, que homem é assim, que ‘ele estava bêbado’, que estávamos com certa roupa e por isso não devemos reclamar. […] A importância (da campanha) é a gente finalmente ter voz para falar, ter espaço para mostrar o absurdo que isso é”, declarou. Como se trata da internet que, apesar de incrível, proporciona anonimidade e uma certa impunidade a grande parte de seus usuários, não demorou para aparecerem alguns internautas dispostos a ridicularizar a campanha, dentre os quais teve grande destaque o integrante do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira. Em seu próprio Twitter, o músico fez piada com a hashtag e, após ofender o movimento feminista, foi alvo de duras críticas e broncas ao longo da tarde.
#primeiroassedio Acho que eu tinha uns 10 anos. Uma empregada me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cacete. — Roger Rocha Moreira (@roxmo) October 22, 2015
Por que algumas mulheres ficam tão putas de serem mulheres? Por que tanta raiva dos homens? Será vontade de ser como nós?
— Roger Rocha Moreira (@roxmo) October 22, 2015
HT lembra que a pedofilia e o assédio sexual são crime e, como tal, devem ser denunciados. O assunto está longe de ser tópico para piadas maldosas ou ainda mais de ser desmerecido por quem quer que seja. Apenas em 2014, foram registrados cerca de quatro casos de abuso sexual infantil por hora no país, isso contando apenas as denúncias que foram registradas pelo Disque 100. Seja pela internet, pela TV ou pelas ruas, a conscientização do problema é o primeiro passo para começarmos a mudá-lo. Veja abaixo algumas das histórias compartilhadas através da hashtag #PrimeiroAssédio:
9 anos. Deitada. Um tio “isso são modos d uma mocinha? D perna aberta? Aprendeu c a mãe? Depois acontece algo e acha ruim” #primeiroassedio
— Karina Buhr (@karinabuhr) October 23, 2015
Teve tambem um “tarado” que mostrou o pau pra mim e minhas primas. #PrimeiroAssedio
— ninalemos (@ninalemos) October 22, 2015
meu #primeiroassédio foi aos 10 anos. um velho colou em mim e perguntou se eu já tinha pelinhos “la”. chutei a canela dele e corri.
— clara averbuck (@claraaverbuck) October 22, 2015
pior é quando vc não lembra do seu #PrimeiroAssédio porque acontece todo dia, inclusive lembra do último, que foi hoje mesmo
— Luiza (@LuizaDiniz1) October 22, 2015
O pior do #primeiroassedio é a sensação de que a culpa é sua, de que vc foi a errada de existir ali.
— jesca com teseno (@VeryJess) October 21, 2015
Tenho 16. Um cara passou a mão entre as minhas pernas na rua, fiquei transtornada. Me disseram ‘ih relaxa, ele tava bêbado’ #primeiroassedio
— vitória silvino (@silvxno) October 21, 2015
Com 11, fui agarrada por dois colegas mais velhos na escola e ao reclamar a diretora disse que eu dei motivo. #PrimeiroAssedio
— Mariana (@marifoipromar) October 21, 2015
#primeiroassedio c 12 anos, voltando a pé da escola, fugi de homem q mostrou pênis e seguiu se masturbando atrás de mim.
— renata gomes (@renatagames) October 21, 2015
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