#PrimeiroAssédio Como a internet virou o jogo e transformou a pedofilia escancarada em um movimento nacional


Após internautas fazerem declarações impróprias para Valentina, participante do “MasterChef Junior” de apenas 12 anos, a organização feminista Think Olga criou uma campanha onde a realidade sobre o abuso sexual foi exposta para os quatro cantos do universo online

Valentina, a participante de 12 anos do MasterChef Júnior que foi alvo de comentários pedófilos na internet (Foto: Divulgação)

Valentina, a participante de 12 anos do MasterChef Júnior que foi alvo de comentários pedófilos na internet (Foto: Divulgação)

Na internet se faz, na internet se paga. Ao longo da estreia do “MasterChef Júnior”, nesta terça-feira, o país inteiro se chocou quando declarações públicas de pedofilia foram direcionadas à participante Valentina, de apenas 12 anos, via internet, nas quais alguns homens se declararam atraídos pela garota, para dizer o mínimo e manter a dignidade humana. Dois dias depois, veio a resposta na mesma rede social: o coletivo feminista Think Olga incentivou outras mulheres a dividirem suas histórias de assédio sexual através da hashtag #PrimeiroAssédio, que logo tomou os Trending Topics.

“Não vamos mais esconder a nossa história. Quem tem que ter vergonha do #PrimeiroAssédio são os criminosos que nos violentaram”, escreveu a organização em um tweet. Apenas nas últimas 24h, a hashtag já foi usada mais de 37 mil vezes. Isso mostra não só o poder das redes sociais em si, mas também a terrível cultura de estupro que é enraizada na sociedade, na qual mulheres são sujeitas a situações de assédio e ainda se sentem inibidas em denunciarem ou até falarem sobre o assunto, seja pela impunidade ou pela falta de apoio geral, onde autoridades e familiares cismam em fazer vista grossa para as denúncias.

Em entrevista ao Portal Forum, a publicitária Luíse Bello, gerente de conteúdo e comunidade do Think Olga, explicou ainda o motivo por trás da criação da campanha. “O assédio acaba sendo invisibilizado por dois motivos. O primeiro é que, ao reclamarmos dele, sobretudo quando crianças, ouvimos que é normal, que homem é assim, que ‘ele estava bêbado’, que estávamos com certa roupa e por isso não devemos reclamar. […] A importância (da campanha) é a gente finalmente ter voz para falar, ter espaço para mostrar o absurdo que isso é”, declarou. Como se trata da internet que, apesar de incrível, proporciona anonimidade e uma certa impunidade a grande parte de seus usuários, não demorou para aparecerem alguns internautas dispostos a ridicularizar a campanha, dentre os quais teve grande destaque o integrante do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira. Em seu próprio Twitter, o músico fez piada com a hashtag e, após ofender o movimento feminista, foi alvo de duras críticas e broncas ao longo da tarde.

HT lembra que a pedofilia e o assédio sexual são crime e, como tal, devem ser denunciados. O assunto está longe de ser tópico para piadas maldosas ou ainda mais de ser desmerecido por quem quer que seja. Apenas em 2014, foram registrados cerca de quatro casos de abuso sexual infantil por hora no país, isso contando apenas as denúncias que foram registradas pelo Disque 100. Seja pela internet, pela TV ou pelas ruas, a conscientização do problema é o primeiro passo para começarmos a mudá-lo. Veja abaixo algumas das histórias compartilhadas através da hashtag #PrimeiroAssédio: