Portela celebra seus 100 anos em desfile problemático. Enredos em auto-homenagem não trazem boa sorte às escolas


Na noite de segunda-feira, a Portela fez um desfile referenciando-se ao seu centenário. Desafortunadamente, a passagem da Altaneira foi cercada de problemas, que podem deixá-la longe do tão sonhado título no ano de seu centenário. Há alguma recorrência em escolas que falam de sua própria História terem um resultado pífio na apuração. A Beija-Flor margeou o rebaixamento ao falar sobre os seus 70 anos. A Unidos de São Carlos, hoje Estácio de Sá, foi rebaixada ao falar sobre si. Império Serrano e Salgueiro também passaram por problemas e não obtiveram bons resultados.

Portela celebra seus 100 anos em desfile problemático. Enredos em auto-homenagem não trazem boa sorte às escolas (Foto: Alex Ferro/Riotur)

*por Vítor Antunes

Em 2023, a Portela celebrou os seus 100 anos e usou da sua própria história como eixo para o enredo. A escola de Madureira encontrou problemas de toda ordem e em vários quesitos, o que pode comprometer o resultado final da águia altaneira na busca do campeonato. Em pelo menos outras quatro ocasiões, escolas cariocas não encontraram bons resultados quando homenagearam a sua própria história. Recentemente, em 2019, a Beija-Flor quase foi rebaixada à Série Ouro por conta de um desfile muito abaixo da crítica. A Soberana manteve-se no grupo principal por haver sido bem avaliada no quesito Mestre-Sala e Porta Bandeira e isto fez diferença no cômpito geral. Vinte anos atrás, 2003, portanto, Salgueiro fez um desfile em homenagem aos seus 50 anos de carreira e também encontrou grandes problemas durante seu cortejo, ficando com o sétimo lugar. Em 1992, logo após passar por seu primeiro rebaixamento ao então grupo de Acesso, o Império Serrano homenageou a sua história achando-se injustiçado por estar na segunda divisão do carnaval e não conseguiu voltar ao Grupo Especial naquele ano. Em 1980, a Unidos de São Carlos, que hoje é a Estácio de Sá, fez um enredo em homenagem a si. Muito pobre e com dificuldades, a escola foi rebaixada à segunda divisão. Além disso, ficou histórico o fato de que um dos destaques de alegoria, Mauro Rosas (1934-1992), caiu do alto do carro e foi internado em estado grave após sofrer politraumatismos.

Destaque do Abre-Alas da Beija-Flor. Escola enfrentou problemas em 2019 (Foto: Fernando Grill/RioTur)

Portela, 2023

Um desfile problemático em vários quesitos. Assim poderia ser resumida a passagem da Portela pela Sapucaí, no Carnaval 23. Com problemas inequívocos em Evolução, além de ter Alegorias e Adereços e Harmonia questionados, a Altaneira enfrentou problemas também com o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, quando uma parte da fantasia de Lucinha Nobre voou diante de um dos módulos de julgamento. O centenário da agremiação de Madureira será de triste memória para o torcedor portelense e a escola estará longe de disputar o título.

Num dos últimos módulos de julgamento, Lucinha Nobre desfilou sem a peruca que compunha a sua indumentária. Casal talvez receba punição pela falta do item (Foto: Ismar Ingber/RioTur)

 

Beija-Flor, 2019

A Beija-Flor, em 2019, trouxe um enredo que celebrava os seus 70 anos, e, além disto, vinha de um campeonato. A nilopolitana foi campeã do carnaval de 2018, com um enredo que trazia uma forte crítica social e promoveu uma grande revolução estética, ainda que muito questionada. Por haver tido um bom resultado no ano anterior com soluções mais baratas e inventivas, a escola resolveu repetir a dose em 2019, mas no entanto foi muito mal sucedida, com o enredo “Quem não viu vai ver… As fábulas do Beija-Flor“. O abre alas apequenado e uma sequencia de fantasias que referenciava aos seus enredos como a uma fábula de La Fontaine (1621 – 1695) gerou críticas tanto do público como dos jurados. A escola ficou com o 11º lugar, num ano em que havia catorze escolas no Grupo Especial. O bom rendimento do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira assegurou a presença dos nilopolitanos na divisão principal daquele ano.

Abre-Alas da Beija-Flor em 2019. Escola passou perto do rebaixamento (Foto: Fernando Grill/RioTur)

Salgueiro, 2003

Com projetos alegóricos imponentes, um samba popular e boas fantasias o Salgueiro tentou conquistar o título do Grupo Especial no ano de seu cinquentenário, 2003. O enredo era “Salgueiro, minha paixão, minha raiz – 50 anos de glória“. Porém, com 5.500 componentes, não foi possível dar vazão a tanta gente assim e a escola precisou apertar o passo para não estourar o tempo. Não conseguiu, atrasando-se em quatro minutos e sendo penalizada em 0,8 décimos. Além disso houve a quebra do abre-alas na altura do setor 9, dificultando a evolução da escola da Tijuca, que ficou com a sétima posição.

Salgueiro 2003. A escola enfrentou problemas para concluir o seu desfile (Foto: Reprodução)

Império Serrano, 1992

Em 1991, o Império Serrano foi rebaixado ao então Grupo de Acesso, quando trouxe um enredo que tratava sobre os caminhoneiros. No ano seguinte, em 1992, fez uma auto-homenagem dizendo-se injustiçado por não estar entre as grandes escola. O enredo era “Fala Serrinha, a Voz do Samba Sou Eu Mesmo, Sim Senhor”. Ainda que tenha feito um desfile elogiado pela garra dos componentes, a falta de verba era patente e a escola do Morro da Serrinha passou com muita humildade plástica pela Sapucaí. Até mesmo os carnavalescos Luiz Rangel, Paulo Resende e Wanderley Silva eram improvisados na função. Naquela época, duas escolas subiam para o Grupo Especial. O Império ficou em terceiro lugar, amargando mais um ano na segunda divisão, da qual só sairia em 1993.

Império Serrano em 1992. Escola passou por dificuldades ao fazer um desfile autorreferente (Foto: Reprodução/YouTube)

Estácio de Sá (Unidos de São Carlos), 1980

Em 1980, a Estácio de Sá atendia por outro nome, Unidos de São Carlos. Naquela ocasião, a São Carlos fez um desfile sobre a sua própria história, referenciando-se à Deixa Falar, escola de samba pioneira do carnaval carioca, que mais tarde uniria-se ao bloco Paraíso das Morenas e daria origem à atual escola de samba. Em face da importância da “Deixa Falar” , o enredo de 1980 tinha o mesmo nome da extinta agremiação. A antiga São Carlos passou por muitos problemas de pista, além de uma claríssima falta de verba. Além disso, um acidente grave marcou aquele ano, quando um componente, o destaque Mauro Rosas (1934-1992) caiu do alto da alegoria, durante o desfile, que já acontecia na Marquês de Sapucaí, ainda que antes da construção do Sambódromo. Pesando 110 quilos e com uma fantasia de mais de 70, Rosas se desequilibrou do carro alegórico ao cumprimentar o apresentador Chacrinha, que estava num camarote. O artista fraturou nove costelas e uma delas perfurou o pulmão direito. A São Carlos foi rebaixada ao então Grupo 1-B, equivalente à atual Série Ouro. A São Carlos passou a chamar-se Estácio de Sá em 1984.

Mauro Rosas minutos antes de cair do carro da São Carlos, atual Estácio de Sá. (Foto: Divulgação)