* Por Junior de Paula
Recentemente, Paula Fernandes se viu às voltas com um senhor de nome Nilson Nascimento que foi à Rede TV!, mais precisamente ao programa A Tarde é Sua – onde mais poderia ser, né? – , apresentado por Sônia Abrão, para dizer que era o pai biológico da cantora mineira. Ele, de acordo com suas crenças, teria tido um caso com Dulce, mãe de Paula, por alguns meses há muitos e muitos anos atrás e, desse affair, teria nascido Paula. Nilson, por sua vez, disse que reconheceu Dulce em um programa de televisão e juntou os pontos. Paula, claro, negou veementemente o assunto. Via assessoria.
Todo esse preâmbulo para falar sobre a participação de Paula, nesse domingo, no quadro Arquivo Confidencial, do Domingão do Faustão. Entre muitos depoimentos emocionados e emocionantes, como o da sua tia contando que Paula teve uma depressão severa depois de uma temporada sem sucesso em São Paulo tentando viver de música, e o de seu namorado contando como fez para conquistar a estrela e arrancando lágrimas da amada com uma bonita declaração de amor, o de seu irmão, Nilmar, foi o que despertou um daqueles momentos que faz a gente repensar nossos pré-conceitos sobre alguém.
Nilmar começou falando da admiração pela irmã e destacando o quanto ela lutou para chegar onde chegou – já que canta profissionalmente e é arrimo de família desde os 10 anos – , mas fez o clima mudar quando abordou a história do pai, Osvaldo, que se separou há 12 anos de Dulce, a mãe dos dois, e nunca mais fez questão de estar presente na vida deles. Paula, muito emocionada, pegou o microfone e fez um forte discurso sobre a situação, deixando de lado o status de diva intocável e perfeita e assumindo que a vida não é fácil para ninguém, por mais que possa parecer o contrário.
“Meu pai se enfiou num lugar que ele mesmo construiu. Já ofereci para ajudar ele, mensalmente, mas não quer. Ligo para meu pai diariamente, mas não atende. Mando presente, ele manda devolver. Se o objetivo é o de nos ferir, ele já conseguiu. O papel de vítima não vai combinar muito com ele. Eu tento ajudar esse homem todos os dias. Ele foi a grande paixão da minha vida e também a grande decepção, mas eu não vou desistir dele”, desabafou a cantora, sendo abraçada por Fausto Silva.
Paula, ao ouvir o irmão falar sobre o pai poderia ter seguido por dois caminhos: o de dizer educadamente que não gostaria de falar sobre um assunto familiar em rede nacional ou, como fez, colocar a cara para bater e assumir que nem só de pedras de brilhante se faz o caminhar de uma estrela. Paula trouxe a responsabilidade para si, assumiu os riscos que abordar o tema poderia ter e conseguiu, involuntariamente, desmistificar uma personagem que ela mesmo fez questão de construir nestes anos de carreira, sempre politicamente correta, se comportando como se tivesse ensaiado todos os passos e se colocando acima de qualquer polêmica que seu nome possa ter se envolvido em algum momento.
Paula, ao deixar o palco do programa de televisão, enxugando as lágrimas e processando tudo o que tinha acabado de acontecer, se não cresceu aos olhos do público como artista, já que só teve tempo de cantar duas músicas, e também porque ir além da posição que ela ocupa sozinha no mercado hoje é impossível, cresceu como ser humano frente àqueles que sempre a encararam como um produto segmentado e sempre alvo de comentários preconceituosos e maldosos. Paula ganhou o respeito de uma turma que está sempre pronta para odiar tudo, para implicar com tudo e para humilhar a todos. Ao abrir o coração e se despir da carcaça que a vida a impôs, ela prestou um serviço. Menos a ela e mais a estas pessoas que gostam de não gostar de nada que não caiba nos seus parâmetros.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.
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