O mercado de luxo no Brasil é um pomar bem frondoso repleto de frutos tenros prontos para serem colhidos no pé. Essa é a conclusão a que estão chegando cada vez mais as grifes de moda internacionais, já que as excelentes taxas de crescimento no país, mesmo durante a crise financeira global, deixam os executivos internacionais com os olhinhos se revirando em espasmos ininterruptos. Em 2012, o mercado brasileiro de luxo cresceu 33%, enquanto, no mundo todo, cresceu apenas 4%. A boa cotação do real em relação às moedas internacionais, nos últimos anos, e a preferência da classe A brasileira em comprar produtos no país têm sustentado este crescimento expressivo. E, ainda que se leve em conta o fato de a moeda nacional ter perdido fôlego nos últimos tempos, nada é suficiente para aplacar a goela larga dos investidores internacionais. As receitas do mercado global de artigos de luxo irão crescer sete pontos percentuais nos últimos três meses de 2013, em comparação ao mesmo período de 2012, culminando no crescimento de 10% neste ano, e no montante de 212 bilhões de euros, de acordo com estudo da Bain & Company, o principal termômetro para a indústria global de bens de luxo.
O aumento global estimado de 10% representa o terceiro ano consecutivo, após a última grande recessão, em que as receitas de produtos de luxo crescem dois dígitos. As vendas na região da Ásia-Pacífico, impulsionadas pela China, devem subir 18%. Nas Américas esse percentual é de 13%. Já na Europa, o crescimento deve ser de 5%, metade em relação ao ano passado. A Bain conclui ainda que o mercado de bens de luxo irá expandir, em termos reais (ou seja, usando as taxas de câmbio constantes) de quatro a seis por cento ao ano entre 2013 e 2015, levando os números do mercado a um montante entre 240 e 250 bilhões de euros até o meio da década.
De olhos bem abertos, as marcas internacionais têm tomado o país de assalto, nos últimos dois anos, com ímpeto capaz de fazer o Dia D – o famoso desembarque das tropas aliadas na Normandia, em 1944, que culminou na reviravolta da Segunda Guerra Mundial – em um mero joguinho de War, se comparado. Um exemplo disso é a italiana Prada, que botou em prática seu plano de expansão inaugurando essa semana a primeira de suas quatro novas lojas, em Brasília, no Shopping Iguatemi. A próxima será em Curitiba, no dia 21 de novembro, no Pátio Batel; São Paulo ganha seu terceiro ponto de venda no dia 26, no Shopping Iguatemi; e, por último, no Recife, no dia 5 de dezembro, no Shopping Rio Mar. Com estas inaugurações, o número total de lojas próprias da label no Brasil sobe muito – a primeira foi inaugurada em 2011, no Shopping Cidade Jardim. Se tudo der certo, em pouco tempo os endinheirados do Oiapoque ao Chuí vão poder ajudar Miuccia Prada, a toda poderosa do império familiar, a alçancar o sonho do castelo próprio. Ou do sistema solar próprio, já que, quando já se é bilionário, procura-se conquistar cada vez mais coisas impossíveis, uma vez que a grana brota pelo ladrão.
O carioca Village Mall, que cortou a fita vermelha em 2012, tem um intenso número de marcas que buscam um espaço nessa meca do luxo. As últimas marcas a aterrissar no shopping foram Cartier, Empório Armani e Anne Fontaine, todas casos de sucesso no Brasil. O complexo do luxo ainda se prepara para receber a moda feminina couture de Cris Barros, que não é gringa, mas compete pelo mesmo público das internacionais, provando que a guerra está declarada. Resta saber se as marcas brasileiras conseguem competir de igual para igual às estrangeiras, com expertise suficiente para conquistar 24 territórios, como acontece de brincadeirinha em War. Naturalmente, a ideia de cada uma das grifes estrangeiras a aportar por aqui é abocanhar a maior parcela de mercado, roubando clientela das nacionais e retalhando o consumo de luxo no país em uma espécie de Tratado de Tordesilhas fashion, como aconteceu na América renascentista, quando Portugal e Espanha disputavam territórios. Agora, a ideia é novamente uma espécie de pilhagem, só que mais chique e muito mais grave, já que os tupiniquins vão receber de novo os conquistadores estrangeiros de braços abertos, como em 1500, mas, ao invés de espelhinhos e chocalhos, vão preferir a bolsa da moda ou o escarpin do momento.
Segundo levantamento da consultoria Bain & Company, o crescimento desse mercado será de 12% na América Latina em 2013. Grande parte do avanço deve ser impulsionando pelo Brasil, que tem ainda previsão de incremento nos negócios de 25% até 2017.
Fotos: Celso Júnior/ divulgação
* Por Rafael Moura
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