*Por Júnior de Paula
Não sou analista político, bem longe disso, mas sou um cidadão comum, que liga a TV às vésperas das eleições para assistir a um debate, e espera encontrar um confronto de ideias, ao menos uma tentativa de enxergar uma luz no fim do túnel nesse cenário político brasileiro que, convenhamos, anda obscuro já há algum tempo. Assisto ao horário eleitoral regularmente em busca de ouvir o que os nossos candidatos à presidência têm para nos oferecer e, quando acaba, eu tenho a impressão de que cada um vive em um país diferente, com regras diferentes, cenários diferentes e cidadãos diferentes.
Um mora na Suíça, outro em Cuba, esse no Congo, aquele dentro de uma igreja, o fulano veio de uma tribo indígena e ainda tem aquele apático que não mora em lugar nenhum, porque nem sabe o que está fazendo ali enquanto olha para uma câmera que foi instalada em frente a ele. Vejo o trabalho de diretores de fotografia combinado com o de marqueteiros e quase tenho uma aula de marketing político diariamente ao parar para ver o que nossos candidatos têm a dizer enquanto se embalam em seu melhor papel de presente. Criam-se histórias com início, meio e fim, personagens e clímax como se estivessem escrevendo uma novela. Ruim, é verdade, mas em tempos pós-“Em Família”, a gente tá até aceitando qualquer coisa.
Aí, eis que se acaba o horário eleitoral e logo muda-se de canal em busca do primeiro debate dos presidenciáveis nesta eleição, veiculado pela Band. Se a intenção era ser informativo, esclarecedor ou construtivo, ninguém avisou aos participantes. Ao final, a sensação que tive era de ter assistido a uma mistura de “Zorra Total” com “Casos de Família”, aquele programa de barracos que todo mundo ama odiar e, por isso, persiste tanto tempo no ar. Não se viam propostas e nem discursos concretos. Via-se polarizações de ideias, ataques e contra-ataques no melhor estilo criança mimada com “o meu é melhor que é o seu”, números jogados para cima e para abaixo, risadas irônicas, gagueiras, vozes agudas, mágoas sendo despejadas e, claro, pensamentos que já nascem como piadas.
Viu-se também uma tendência a fugir do combate e esvaziar o debate ao acionar os candidatos nanicos. Nanicos não só em números de votos, mas também como pessoas públicas que pareciam mais contentes com os 15 minutinhos (240, na verdade) de fama que conseguiram do que em, realmente, apresentar um projeto viável de governança para este país. Que a gente ama, sim, mas que vem deixando uma preguiça danada.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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