Uma mulher fazer sucesso hoje ainda gera discussões e questionamentos. Uma mulher fazer sucesso nos Anos 1950 era algo ainda mais desafiador. Muitas vezes acabavam eclipsadas por seus parceiros. É sobre isso que se debruça Nathalia Serra em O rei do Rock. A atriz interpreta Ann-Margret, um ícone do cinema e da música. “Ann-Margret é uma mulher interessantíssima, muito além do romance com Elvis. Ela é o espelho da paixão e da longevidade artística que busco para minha vida. Ser escalada para representar uma artista tão completa e admirável é uma honra imensa!”. Comparada a Elvis Presley (1935-1977) em sua época, tanto por suas qualidades artísticas quanto por sua sensualidade, Ann Margret foi apelidada de “Elvis de saia”. Para Nathalia, o título reflete a grandiosidade do legado da artista: “Se Elvis era o rei, esse comparativo era muito relevante”. A montagem fica em cartaz até 8 de dezembro, no Teatro João Caetano, Rio.
Nathalia também acredita que o assédio e a pressão sobre artistas continuam tão intensos quanto eram na época de Ann, embora as redes sociais tenham acelerado a disseminação de informações. “A exposição pode ser uma faca de dois gumes. É preciso equilibrar os pratinhos entre vida pessoal e profissional, algo que nunca é fácil”, afirma. Assim como Ann-Margret, Nathalia também enfrenta os desafios de equilibrar uma carreira multifacetada com sua vida pessoal. Trabalhando em teatro, TV e cinema, ela admite que alcançar um equilíbrio perfeito é uma utopia. “Fui presenteada com um parceiro maravilhoso que entende e acolhe minha correria porque vive o mesmo universo. Mas a verdade é que o equilíbrio não existe, a gente faz o que dá. Hora estou afundada em trabalho, hora estou em entressafra, com tempo livre, mas ansiosa para voltar a trabalhar”, revela.
Conciliar talento com a constante comparação a Elvis Presley foi outro aspecto marcante da trajetória de Ann Margret. Para Nathalia, esse equilíbrio é um desafio que persiste até os dias de hoje, especialmente para artistas mulheres. “O protagonismo feminino é algo muito recente. Mulheres sempre eram colocadas à sombra de um homem. Mas se Elvis era o rei e Ann era chamada de ‘Elvis de saia’, isso deixa claro sua relevância no showbiz. Ann foi, e ainda é, uma estrela. Hoje, com 83 anos, segue atuando, lançando músicas e terá sua cinebiografia em Hollywood”, destaca a atriz.
Contextualizando com a vivência atual, a atriz também reflete sobre os desafios que Ann enfrentou com a superexposição midiática, algo que permanece hoje em dia. “Assim como hoje, quando um artista passa por um escândalo pessoal, a mídia cai em cima. Acho que isso ajudou a impulsionar sua visibilidade, mas ter a vida tão exposta deve ter sido um preço alto a pagar”. E se há uma semelhança entre aquela época e hoje, além da briga entre exposição e discrição, é a instabilidade financeira, fator constante na vida de muitos artistas. “Torço para que operários da arte como eu sejam melhor remunerados e consigam ter mais estabilidade. Essa é uma luta diária”.
Ann Margret despontou em uma época em que as mulheres enfrentavam intensa pressão para se adequar a padrões de comportamento e beleza. Ainda assim, destacou-se por sua autenticidade e por romper barreiras na indústria. “Ann era muito autêntica! Sua beleza era inegável, mas seu temperamento trazia o molho necessário para destacá-la entre as demais. Não deve ter sido fácil pagar o preço da autenticidade em um mercado tão rotulador, especialmente para mulheres”, analisa Nathalia.
Em um dos momentos do espetáculo há a recriação da cena icônica de Viva Las Vegas, filme que eternizou o romance fictício entre Ann Margret e Elvis Presley. Para interpretar essa cena, Nathalia mergulhou intensamente na essência da personagem. “Eu conhecia pouco sobre Ann Margret, então assisti a todos os filmes, documentários e montei pastas com imagens que me inspiravam. Escutei as músicas dela incessantemente para trazer ao meu corpo aquela energia e os movimentos específicos. Desde que soube que a interpretaria, Ann virou meu hiperfoco. Falava dela para todo mundo!”, conta a atriz. Esse processo de imersão permitiu que Nathalia reproduzisse com fidelidade a força e a leveza de Ann Margret no palco, conectando-se de forma autêntica ao público e homenageando a carreira da artista.
A dedicação de Nathalia Serra para incorporar Ann Margret no palco é muito mais do que um trabalho artístico; é um tributo a uma mulher que quebrou barreiras e marcou gerações. Sua interpretação promete emocionar o público, celebrando a trajetória de uma artista cuja relevância transcende o tempo. Para Nathalia, dar vida a Ann Margret é um marco pessoal e profissional. “Ela é um modelo de longevidade artística, e essa é a paixão que quero para a minha vida”
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