No Mês do Orgulho LGBT, jovem americano é demitido de colônia de férias operada por organização cristã por ser gay


O caso de Jace Taylor, de 18 anos, chamou a atenção graças a um post de seu pai no Facebook

Jace Taylor, de 18 anos, foi demitido como orientador de colônia de férias por ser gay

*Por Jeff Lessa

A explosão de orgulho LGBT que se viu no último domingo (23) foi no mínimo emocionante. Por todo o mundo, gays, lésbicas, trans, queers, bissexuais – gente, enfim, de todos os gêneros e orientações sexuais – demonstraram ruidosamente que a sexualidade de cada um é para ser respeitada e que não vão se intimidar mais diante de preconceitos estabelecidos sabe-se quando, sabe-se lá por quem, sabe-se lá por quê. Durante um tempo, o Arco-Íris do Orgulho espalhou suas cores e deu esperança aos que ainda vivem na escuridão de seus armários particulares.

No entanto, é preciso ter força. O caso ocorrido nos Estados Unidos e que ganhou as redes sociais é exemplo do que ainda acontece por aí. Uma semana depois de um orientador gay ter sido demitido de um acampamento de verão organizado por uma associação cristã nos Estados Unidos, muitos pais decidiram não deixar seus filhos continuarem a empreitada em sinal de protesto.. Jace Taylor, de 18 anos, foi demitido poucos dias antes de começar a trabalhar numa colônia de férias, destino muito comum de milhares de crianças e adolescentes durante o verão nos EUA. O jovem seria orientador em um dos acampamentos operados pela Firs Bible and Missionary Conference, organização religiosa sem fins lucrativos – o que também significa isenta de taxas.

A demissão de Taylor chegou aos jornais depois que seu pai comentou o caso em um post no Facebook. Imediatamente, o diretor-executivo da Firs, Tom Beaumont, confirmou que o garoto havia sido afastado por conta de sua orientação sexual, segundo o jornal “The Bellingham Herald”. Para não deixar dúvidas a respeito de sua intolerância, Beaumont fez questão de mandar o seguinte recado: “Neste caso, a fim de nos mantermos coerentes com as nossas Missão e Declaração de Princípios, infelizmente precisamos retirar o convite feito a este jovem, de quem realmente gostamos, para este trabalho de verão”.

Mike Soltis foi um dos pais que ficaram indignados com a postura da Firs. Ex-orientador contratado pela organização religiosa, ele conheceu sua mulher em um acampamento e sempre confiou em seus propósitos. Não mais. Este seria o quarto ano da filha do casal, no Firwood Camp. “Quando vimos o post, pensamos ‘Uau, não podemos apoiar isso com nosso dinheiro ou com qualquer ligação até que lidem direito com o caso’”, disse Soltis ao “Herald”. “O ódio teve um custo alto para aquele jovem. Chegou a hora de começarmos a usar as nossas vozes e levantar cartazes. Não podemos mais amar e apoiar em silêncio, precisamos defender ativamente e usar as nossas carteiras para mandar mensagens”.

Mulheres protestam contra a demissão do jovem diante da entrada do acampamento

Em meio à controvérsia, ex-participantes dos acampamentos e ex-orientadores vieram a público contar suas próprias histórias. Um deles é o não-binário de 18 anos Jaxx Bosteter, ex-orientador que acredita ter sido demitido por conta de sua sexualidade e identidade de gênero. Jaxx agora está fazendo uma vaquinha para realizar uma operação para ter seios. Já a adolescente Sarah Somawang, de 13 anos, conta que, no verão passado, quando estava em um acampamento da Firs, disseram para ela que a homossexualidade era errada. Isso aconteceu logo após a jovem sair do armário para a família e os amigos. “Eu acreditava que Deus me amava e me aceitava como eu era”, diz a jovem. “Quando me disseram que Ele não gostava de gays, eu quis chorar. Me senti desconfortável, envergonhada e contrariada”.Infelizmente, a lei no estado americano de Washington, onde toda essa querela aconteceu, permite que organizações religiosas sem fins lucrativos neguem emprego a candidatos com base em sua orientação sexual. A informação é de Denise Diskin, diretora-executiva da QLaw Foundation, clínica legal formada há dez anos por estudantes de Direito, advogados e membros da comunidade LGBT para defender os direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Nem tudo parece perdido, porém. No começo de junho, um grupo de pentecostais filipinos se juntou a uma parada de orgulho na cidade de Marikina para pedir perdão por sua intolerância no passado. Em cartazes e camisetas podiam ser lidas mensagens como “Deus não discrimina pessoas baseado em gênero”, “Estamos aqui para pedir perdão pelas formas como nós, cristãos, machucamos a comunidade LGBT” ou simplesmente “Pedimos desculpas”.

Grupo de pentecostais filipinos pede perdão por sua homofobia e oferece abraço a quem aceita as desculpas

Os manifestantes pertenciam à Church of Freedom in Christ Ministries (Igreja da Liberdade nos Ministérios de Cristo, em tradução literal). A mudança de opinião foi explicada pelo pastor Val Paminiano: “Eu costumava acreditar que Deus condenava os homossexuais. Mas quando estudei as escrituras, especialmente aquelas que chamamos ‘clober’, ou seja, aquelas que são pinçadas para atacar o povo LGBT, percebi que há muito a se descobrir, incluindo a verdade que Deus não está contra ninguém”. Simples assim.