“Neste momento, a sincronicidade global de acontecimentos trouxe a discussão antirracista para a vida das pessoas”, conta José Papa

Imagem do Afropunk Festival um dos maiores eventos de cultura negra do mundo (Foto: reprodução)

*Por Rafael Moura

O Brasil é o país fora da África que tem a maior população negra do mundo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o nosso país conta com 56,10% da sociedade que se declaram negras, cerca de 120 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2019. Tendo esses dados em mente seria natural pensar na representatividade dessa turma nas mídias de massa, mas o protagonismo da cultura preta não chega a 20%.

Com 30 anos de atraso, hoje, dia 25 de julho, Dia da Mulher Negra-Latino Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, estreia no Brasil o Trace Brazuca, um canal totalmente pautado na valorização da identidade negra que irá impactar de maneira positiva na transformação do mercado nacional, impactando diretamente, em 120 milhões de pessoas. A novidade acontece em meio a um momento histórico no mundo, com debates sobre a importância dos direitos civis e a visibilidade à população negra.

José Papa, sócio e CEO do canal Trace Brasil

Para José Papa, sócio e CEO da Trace Brasil, com passagem pela WGSN Global e Cannes Lions, trazer o grupo de mídia de origem francesa para o Brasil é de suma importância para conectar o país com as pautas globais e valorizar a afrocultura, presente em mais de cem países. “Neste momento, a sincronicidade global de acontecimentos que trouxe a discussão antirracista para a vida das pessoas só reforça a importância e a relevância da presença da marca no país. É um projeto ambicioso e inovador, que traz toda a bagagem adquirida ao longo dos anos, presente nas mais diversas culturas. A Trace tem legitimidade no discurso e a missão de tangibilizar essa pauta que sempre foi tão urgente. Vamos oferecer formato e conteúdo multiplataforma nunca vistos por aqui, com qualidade e autenticidade reconhecidas mundialmente”, explica o executivo.

O canal será monetizado com publicidade e, de acordo com Papa, a Trace também irá buscar marcas parceiras para o desenvolvimento de projetos especiais, os famosos branded contents. “Temos conversado com as maiores marcas do país. Estamos pensando em programas originais e apresentando para o mercado, desde projetos de teledramaturgia, programas de entretenimento e outras parcerias de conteúdo”, afirma.

Ad Junior, head de Marketing do canal Trace Brasil

O que começou no Brasil em novembro do ano passado como um programa semanal na RedeTV!, o ‘Trace Trends’, agora se expandirá nessa nova plataforma. “É um passo muito importante no audiovisual brasileiro. A Trace não é o primeiro canal negro no Brasil, mas é o primeiro voltado ao afrourbano, voltado a pessoas pretas e periféricas. Elas querem se ver e contar suas próprias histórias. O Brasil nunca teve esse lugar de criação de conteúdo de pessoas negras que não querem se ver de formas caricatas. Nós precisamos criar espaços para inclusão. É um sonho muito antigo”, explica, Ad Junior, head de Marketing do canal.

“É da periferia que nascem os grandes movimentos que são a grande força locomotora desse país. Ao invés de colocar a história da negritude ligada a sofrimento, mostramos o que há de melhor. Queremos normalizar que nossas histórias não passam somente pela dor. É um canal que quer falar com todo mundo. Ao mesmo tempo que não falamos diretamente sobre racismo estrutural, estamos trazendo narrativas que combatam essa existência do racismo. Precisamos mostrar que essa cultura importa”, revela, o CEO. O canal irá transmitir um conteúdo inovador, com linguagem universal, para que todas as pessoas se sintam incluídas e possam enxergar as suas origens e o Brasil como de fato ele é. Para além disso, potencializar as vozes da população negra estão entre as grandes propostas do novo canal. Outros 20 canais Trace já são exibidos no continente africano, na Europa e nos Estados Unidos. ‘Estamos na Bahia, Addis, Brooklyn, Jozy, Londres, Lagos, Nairobi, Paris, Dakar, Kin, Douala, Abidjan, Porto Príncipe… Somos globais por natureza’, define o site da marca global.

“É da periferia que nascem os grandes movimentos que são a grande força
locomotora desse país”

Para Kenya Sade, Coordenadora de programação serão 24 horas de programação dedicada à música de todos os gêneros, documentários e shows da cultura urbana brasileira. A curadoria levará em conta artistas e movimentos culturais de diferentes regiões do Brasil. “Não à toa, que data de estreia foi escolhida por representar o enfrentamento ao racismo e a força da mulher brasileira, que vem ao encontro justamente dos objetivos da Trace, de empoderar a cultura afrourbana e trazer positividade à identificação com a história do Brasil”, conta. Em meio a um momento histórico no mundo, com debates sobre a importância dos direitos civis e a visibilidade à população negra, potencializando as vozes da população negra e de valorizar um dos mais importantes movimentos culturais do mundo, o afrourbano.

Kenya Sade, Coordenadora de Programação do canal Trace Brasil

Desde o lançamento do Trace em 2003, a marca de mídia francesa se consolidou como uma plataforma de mídia líder para promover música e entretenimento afro-urbanos globalmente. “A estratégia é o pé na porta! Foram tantos anos de silenciamento. Nós, como maioria absoluta da população, vivemos praticamente um estado de apartheid econômico, decretado silenciosamente. Não detemos o poder atrás das câmeras, mas fazem filmes com nossos impostos, sem que a gente se veja. O mais importante agora é que pessoas negras tenham espaço para mostrar sua visão de mundo e contar suas próprias histórias”, conta Ad Junior. E completa. “Este projeto conta a nossa história, a nossa narrativa, de uma forma verdadeira e sensível. Estamos aqui para potencializar a visibilidade dessa pauta e dessas pessoas para que sejam legitimamente representadas. Vamos quebrar essa barreira com histórias positivas e talentos plurais. Com certeza, veremos um Brasil cada vez mais entendendo e respeitando a diversidade, porque a Trace é isso”, explica.

Com 24 horas de programação, o Trace Brazuca trará conteúdo autoral e programas de sucessos no exterior

Ao redor do mundo a comunidade Trace envolve uma média de 300 milhões de fãs, alavancando o poder e a criatividade da cultura Hip Hop, urbana, africana, brasileira e caribenha. Com 24 horas de programação, o novo canal brasileiro terá sua grade composta por conteúdo autoral e programas de sucessos veiculados em outros países. A partir de 25 de julho, toda a programação estará disponível para assinantes da Claro (canal 624) e Vivo (canal 630).

Confira alguns dos destaques da programação do canal:

SKIP SKIP – É o programa editorial da Trace de entrevistas exclusivas com os artistas mais importantes da cena musical. O propósito é entreter e fazer perguntas provocativas ao artista, caso ele não queira responder é só dizer: “skip”. Assim, escapa daquela pergunta e segue para a próxima.

DJOUBA – A playlist dos maiores hits africanos do momento.

TRACE+ – Seleção dos melhores documentários produzidos pela Trace, como: “História do Papa Wemba” que retrata a trajetória do icônico, pioneiro e intergeracional artista. “Afrobeats, da Nigéria para o mundo”, um documentário musical que conta como esse gênero musical influenciou artistas do mundo todo, entre outros

TRACE TRENDS – Programa de tendências, entretenimento e cultura urbana.

TRACE – SUA VOZ – O programa em formato de pílulas de 1 minuto traz mensagens de representantes da sociedade civil e de organizações sociais sobre um tema específico.

GOSPEL VIBES – O Trace Brazuca dedica duas horas da programação ao melhor do universo Gospel.