Menos de um mês após apresentar o seu inverno lúdico na São Paulo Fashion Week, Alberto Hiar já rumou com a Cavalera para Gramado, no Rio Grande do Sul, afim de disponibilizar para lojistas a sua coleção de sapatos inspirados no conto de “João e Maria”. Com estande armado na Zero Grau – Feira de Calçados e Acessórios, a marca adepta e representante do estilo rocker mostrou que a diversidade da temporada é a palavra-chave para o sucesso comercial.
A feira calçadista, que movimentou a indústria setorial com a presença de cerca de 285 expositores e 900 marcas, parece o lugar perfeito para dar o pontapé inicial à comercialização de um inverno tão pensado e estruturado. Agregando tecidos e materiais pessoalmente escolhidos por diversos países, Alberto é um dos empresários que evidencia uma capacidade da indústria nacional de se equiparar aos grandes nomes mundiais: “Quis interpretar os clássicos de um novo jeito, com tecidos nobres que vieram de países como a Itália, Índia, Paquistão e Japão. Alguns tecidos vieram das mesmas fábricas que fazem roupas para os trabalhadores europeus. Foi um jeito que eu encontrei de mostrar que a indústria de moda no Brasil pode produzir um material tão bom quanto qualquer outra no mundo”, contou o todo-poderoso da Cavalera com exclusividade à HT durante seu desfile na SPFW.
É essa fusão entre diversidade e qualidade que marcam o outono/inverno 2015 da Cavalera. A inspiração do conto de João e Maria aparece na figura do lenhador campestre, sempre armado com suas melhores botas e coturnos. No caso da marca, como não poderia ser diferente, a evocação do meio rural e da estética worker através do conto dos Irmãos Grimm não abdica da atitude característica da grife, a qual traz nos calçados imitações de peles, pelos e bastante couro que aparece nas mais diferentes releituras de textura e tingimento tanto nas peças masculinas quanto nas femininas. Tênis feitos em lona ou camurça também são destinados a ambos os sexos com canos de todos os comprimentos, reforçando a estética street e college que representam a jovialidade já intrínseca à Cavalera. E, para coroar definitivamente o caráter de ampla abrangência dos produtos para esta temporada, a marca também levou ao Sul acessórios como cintos, carteiras, bonés e mochilas que traziam sua águia-símbolo em diferentes estampas ou detalhes que se destacaram entre os demais estandes.
Leia abaixo a matéria sobre Alberto Hiar e seu empreendedorismo criativo na Cavalera:
*Por João Ker
Alberto Hiar é aquela mente pensante e punho firme por trás de todo o sucesso comercial e criativo da Cavalera. O empresário, que expande a estética rock n’ roll da marca em diversas vertentes, dos acessórios-fetiches a uma barbearia e projetos musicais, é conhecido por, além de idealizar os temas que definem as coleções, se divertir e realmente gostar daquilo que produz, sempre com uma impressão pessoal que, de alguma maneira, acaba se relacionando com grande parte da juventude brasileira e irreverente que adere às peças em suas araras. Foi assim na última temporada, quando transformou o verão 2015 da grife em um statement político, com cruzes e o manifesto #AquiJaz, uma espécie de homenagem e lembrança ao assassinato do irmão, Cláudio. E foi exatamente partindo do seu eu interior que ele consegue agora, mais uma vez, expressar uma mistura de referências que se adequam muito bem ao atual momento fashion da sociedade, sem perder o DNA da Cavalera.
Não, apesar de este ter sido o período no qual mais se debateu política nos últimos anos, Alberto prefere deixar o cunho social de lado. Para a coleção de inverno 2015, o empresário pega carona na própria vida, transformando o fato de ser avô em um conto de fadas cheio de pompa e estampa na passarela da São Paulo Fashion Week. As referências são claras: além de voltar no tempo e revisitar o emblemático “João e Maria”, um dos contos mais lúdicos dos Irmãos Grimm, Alberto ainda dá uma volta ao mundo e visita cerca de 15 países em busca de tecidos e estamparias que, unidos, resultam em uma imensa diversidade de padronagens da mais alta qualidade. “Eu virei avô esse ano. Então, logo comecei a pensar, imediatamente depois do último desfile, sobre algo que eu sempre gostei, que é essa história de conto de fadas que, aliás, anda tão em voga, no cinema, na televisão e nas artes audiovisuais em geral. A partir daí, as referências foram surgindo normalmente, sem esforço: o pai lenhador; o casal principal; a bruxa que é linda, mas quer separar os dois, e por ai vai”, explica.
O resultado dessa ideia são macacões jeans, camisa e casaco xadrez, sapatos e botas com plataforma e acabamento em pelo de carneiro colorido (ou, pelo menos, uma imitação plausível), que lembra a acidez das balas e doces do conto, estamparia rica que varia entre flores e gansos, camisas de poá sobre transparências, coletes jeans, chapéus de feltro, calças com retalhos assimétricos. Sim, o universo lúdico de Alberto é capaz de recriar em moda um número sem limite de referências estéticas. Traduzindo: é o mundo encantado de uma floresta misteriosa, unido ao espírito rock naturalmente impregnado na marca, e à pluralidade étnica da estação. “Quis interpretar os clássicos de um novo jeito, com tecidos nobres que vieram de países como a Itália, Índia, Paquistão e Japão.Algumas tecidos vieram das mesmas fábricas que fazem roupas para os trabalhadores europeus. Foi um jeito que eu encontrei de mostrar que a indústria de moda no Brasil pode produzir um material tão bom quanto qualquer outra no mundo”, revela. Um espetáculo.
No mais, dizer que as peças têm tudo aquilo necessário para voarem direto das araras para os guardarroupas, tomando conta das ruas quando o frio chegar, pode até parece redundante. A presença do astro da televisão e cinema Bruno Gagliasso na passarela, inclusive, parece contar exatamente aquilo a que a coleção veio: para vestir aquele homem (ou mulher) moderno, que se importa com a aparência, mas não abre mão da atitude, de sua individualidade. E nada grita mais alto o mote “atitude” do que criaturas como homens que ousam em peças como um macacão e vestem peças reveladoras ou mulheres que assumem uma pose tomboy e, ainda assim, mantêm intacta sua sensualidade de gênero. Sim, como a Cavalera, a vida é um verdadeiro espetáculo: é rock, fresh, jovem, cool e estilosa, sem se ater a tendências passageiras. Em outras palavras, a Cavalera continua sendo tudo aquilo que ela sempre foi.
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