*Por Vagner Fernandes
Após desabafar publicamente por não haver sido convidada a estar presente de forma mais ativa no carnaval de Salvador, Mariene de Castro celebra o convite feito pela Estação Primeira de Mangueira e virá como componente da agremiação carioca, que terá a musicalidade baiana como protagonista no enredo “As Áfricas que a Bahia Canta“. A cantora fará parte do quinto setor do desfile da verde-e-rosa, no Tripé “Trio Elétrico: Os Cortejos Contemporâneos”. A artista também falou-nos sobre seus novos projetos para 2023, dentre os quais consta a celebração dos seus 25 anos de carreira.
ONDE O RIO É MAIS BAIANO
Nas suas redes sociais, Mariene de Castro falou sobre o processo excludente de artistas pretos e dos blocos afros no Carnaval de Salvador. Diante disso, a cantora foi convidada pela Estação Primeira de Mangueira a desfilar pela agremiação no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, 19/02. A artista virá no quinto setor, no tripé que representa o Trio Elétrico e estará vestindo um figurino assinado pelo badalado estilista paulistano Wilson Ranieri. A alegoria celebra as decorações do Recôncavo Baiano e os cortejos dos mascarados do interior da Bahia, estado que norteia o enredo da verde-e-rosa neste 2023. Ao Site HT, a cantora declarou que o enredo da Velha Manga “é uma reverência linda da Mangueira à Bahia. Eu não poderia deixar de aceitar esse convite da escola que tantas vezes celebrou a minha terra. Uma alegria imensa”.
Tão logo termine o Carnaval, Mariene se debruçará sobre o novo projeto, com o qual festejará os seus 25 anos de carreira. Trata-se de uma turnê que a levará para as principais capitais brasileiras e também para o exterior. “São 25 anos de trajetória e este trabalho lindo será dedicado às mulheres pretas e guerreiras deste Brasil, como eu. Entregarei a minha verdade como intérprete da música popular brasileira. Continuo uma tabaroa e não vou abrir mão da autenticidade que me trouxe até aqui. Foi por meio dela que conquistei um público tão plural quanto cúmplice dos projetos que construo sempre com coragem e fé. Isso é uma dádiva”, destacou.
Na última quarta-feira, Mariene de Castro fez um longo desabafo em seu Instagram queixando-se da ausência de convites para estar na folia soteropolitana e por não ter reconhecida a sua contribuição cultural e/ou artística na folia carnavalesca daquela cidade: “(Salvador) Nunca deu espaço de dignidade a música que eu faço”, lamentou. A seguir, a fala na íntegra da cantora em suas redes sociais:
“Muita gente me perguntando porque estou fora do carnaval de Salvador. Não vejo novidade alguma nisso. Não me lembro a última que fui convidada para cantar no carnaval de minha cidade pelos órgãos responsáveis pela maior festa do planeta. Não me pergunte porque, que eu não vou saber lhe responder. Eu até já me perguntei isso e até achei que fosse algo da minha competência. Já cheguei a achar que o problema estava comigo, mas não está não. Eu sou do Samba, né? Do Samba da Bahia, né? Ah tá! O samba da Bahia faz parte do Carnaval de Salvador? Faz? Ah que bom! Então, viu?
Eu nasci e me criei nessa cidade que nunca deu espaço de dignidade à música que eu faço.
Porque? Não sei. Deve ser porque canto macumba. Já me disseram para parar de cantar essas coisas, que é coisa do diabo. Ou deve ser porque uma cantora que canta com um prato na mão deve estar pedindo esmola, né? Será que é por isso que os cachês que são oferecidos não condizem com as fortunas pagas aos artistas que não cantam com um prato na mão? Acho que não vou mais cantar com prato na mão pra ver se o pessoal entende que eu não estou pedindo esmola. Que eu só quero cantar. Com dignidade. A mesma dignidade de todos. Mas todos é uma coisa que não existe. Nem aqui em Salvador nem em lugar nenhum. Tem gente que come ouro e gente que cata lixo pra comer. É isso. Isso aqui é só pra dizer que eu não estou no Carnaval de Salvador. Lembro que 2019 fui cantar em Recife no maior Carnaval da Cidade. Fui tratada como rainha. Então é isso: Santo de Casa não faz milagre. Ah, entendi. A cor dessa cidade não sou eu! O canto dessa cidade não é meu! Ainda assim seguirei cantando, pois sou água. Nunca se esqueçam disso”.
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