As célebres manifestações populares de junho de 2013, segundo o escritor Luiz Ruffato, “de alguma forma são responsáveis pelo desenho do que é hoje o Brasil”. O tema é amplamente revisitado no novo livro do ativista e autor Igor Mendes, “Junho Febril” (N-1 Edições, 350 páginas, R$ 80), que chega às livrarias exatos 10 anos depois dos eventos que deixaram marcas profundas no país — e na vida do escritor, que estava lá. Na quarta capa, Ruffalo discorre sobre o tema e a obra. “Trata-se de um olhar para a juventude periférica, sempre alijada dos debates e das decisões políticas, que, naquele momento, tomando consciência de sua força, assume seu papel histórico”. No romance, Igor busca transcender as singularidades de personagens que apresentam dúvidas e certezas sobre suas convicções.
A atriz, diretora e dramaturga Isabel Teixeira, que também dá sua contribuição à quarta capa, corrobora o pensamento de Ruffalo sobre aquele junho. “Pode-se condenar ou defender as manifestações, mas todos concordam que o Brasil não foi o mesmo desde então, num dos raros consensos em uma sociedade tomada de antagonismos como a nossa”, afirma ela.
Finalista do Prêmio Jabuti, Igor Mendes lança o novo livro, “Junho Febril”, com quarta capa escrita por Isabel Teixeira (Divulgação)
“Junho Febril”, terceiro livro de Igor — finalista do Prêmio Jabuti em 2020 com “Esta Indescritível Liberdade” —, reflete sobre as participações em um grande evento e suas interpretações através de personagens como Navalha, um jovem morador do Jacarezinho, espécie de revolta personificada; Flávia, ou Ventania, uma artista que ganha a vida cantando em vagões e praças, à espera da oportunidade para alçar voos maiores; Apê, um estudante de Direito, filho de advogados, que acredita, como os seus pais, que o Brasil está enfim progredindo. Mergulhamos em um diário que abrange de 31 de maio a 30 de junho de 2013, e retrata os principais acontecimentos daquelas semanas febris em que o extraordinário fez-se cotidiano. “O livro é uma ficção sobre fatos de que participei. Mas não é autobiográfico. É como se arrancássemos de Junho de 2013, no calor das horas, uma confissão de si mesmo. O próprio encontro, fortuito, lá pelas tantas, de Navalha, Flávia e Apê (bastante improvável em qualquer outro contexto) funciona como um dínamo que dispara novas tensões e reflete luminosidade sobre áreas antes cinzentas de cada um deles – e sobre os velhos dilemas brasileiros. Se o leitor partilhar, ao menos, algum daqueles conflitos, ou alegrias, o trabalho já não terá sido em vão”, aposta Igor.
Igor Mendes fala do contemporâneo, “Junho Febril” (Divulgação)
Em seu primeiro livro, “A Pequena Prisão”, Igor relata a experiência dura que viveu na prisão por sete meses, um ano após as manifestações, quando foi acusado injustamente de “formação de quadrilha” em razão de seu ativismo nos protestos. “Um processo considerado totalmente absurdo quando chegou a Brasília”, relembra.
Sobre o autor
Igor Mendes é professor de Geografia, escritor e ativista. “Junho Febril” é seu terceiro livro. Antes, publicou “A pequena prisão” (N-1 Edições, 2017) e “Esta indescritível liberdade” (Faria e Silva, 2020, finalista do Prêmio Jabuti).