O que os gringos, afinal, pensam do Brasil?!? O comportamento pouco sociável de Karl Lagerfeld abre espaço para o debate


Após cancelar a sua vinda ao país em outra ocasião, o Kaiser da Moda se revela uma personalidade chegada a poucos amigos em sua passagem por São Paulo

A polêmica causada pelo comportamento pouco simpático do estilista Karl Lagerfeld, por ocasião da abertura da exposição ‘The Little Black Jacket’ esta semana na Oca, em São Paulo, suscita a reflexão. Afinal, para que vir ao Brasil promover uma exposição fotográfica sobre a icônica jaqueta preta que identifica a Chanel, grife para qual Lagerfeld é diretor criativo há décadas, se, ao invés de promover a marca, o estilista afasta a imprensa e formadores de opinião com sua atitude antissocial? Dificilmente seu comportamento – se recusando a posar para os fotógrafos de plantão, a dar entrevistas ou não conversando com ninguém – pode ser considerado uma estratégia de imagem, prejudicando, sem dúvida, a promoção da grife de luxo, a despeito das inegáveis qualidades do designer como profissional e da respeitabilidade da marca como um dos artífices do estilo. Lembro perfeitamente, no Revéillon de 2010 para 2011, em Paris, ter encontrado Lagerfeld em uma banca de jornal, em um domingo à noite quando perambulava pelas ruas do Quartier Latin. Ao me aproximar para cumprimentá-lo, um segurança logo me perguntou se eu falava francês, já que ele se recusa terminantemente a falar com qualquer criatura em inglês. Conversa vai e conversa vem com o tal segurança, descobri que o rapaz era um modelo brasileiro e vivia há tempos cuidando da escolta do Kaiser. No fundo, pelo que podemos perceber no comportamento do estilista, não se trata nem mesmo de protegê-lo de eventuais tietes, mas de ajudá-lo a se auto encarcerar em uma torre de vidro, pois troquei algumas palavras com ele e conheci uma pessoa extremamente solícita. O que leva alguém a se comportar nessa situação que relatei  e agir de forma antagônica  em outra, como uma prima donna da uma ópera bufa, se comportando como aconteceu na última terça feira?

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Lagerfeld irritou os fotógrafos se recusando a posar para fotos – e só acabou cedendo, porque a imprensa ameaçou boicotar a cobertura da exposição –, não conversou com ninguém e se manteve full time cercado por seguranças sem esboçar um único sorriso, ignorando o público para se enclausurar na festinha privê no subsolo da Oca ou, ainda, para se socializar apenas com seu segurança bonitão e com a editrix de moda Carine Roitfeld, ex-Vogue Paris e curadora da expô. E mais, a produção do evento ainda negou que as convidadas, que gastaram tubos em modelitos na loja da marca, fossem fotografadas no backdrop, à exceção daquelas poucas sortudas que foram produzidas especialmente pelos organizadores do badalo. Tiro no pé?!?

Enquanto isso, a diva star Uma Thurman, convidada para abrilhantar a mesma exposição, veio para São Paulo com a filha Rosalind a convite da produção com tudo pago e, nesse dia da abertura, em um rompante de estrelíssima, fez forfait e resolveu ir embora de supetão. E mais: exigiu, de última hora, que fosse providenciado um helicóptero para levá-la ao aeroporto. Ao que tudo indica, a única exceção é o casal gracinha de Hollywood, a bela alemã Diane Kruger e seu namorado Joshua Jackson (ex-Dawnson Creek  e atual Fringe), que foi todo fofo durante o acontecimento na Oca. Certamente nunca veremos a maravilhosa – e elegantérrima – Fernanda Montenegro cometendo um desatino desses.

Imbróglios como os de Lagerfeld e Thurmann remetem a outros micos como o episódio, há cerca de quatro ou cinco anos, em que o estilista Valentino Garavani fechou a cara e retornou ao seu quarto de hotel quando, mesmo avisado de que o dress code do tradicionalíssimo Baile do Copa ­– realizado durante o carnaval carioca no mitológico Copacabana Palace –, exigia black tie ou fantasia, surgiu lépido e faceiro com dois garotões vestindo camisetas. O tempo nublou nessa hora em que sua entrada na festa foi negada. Será que ele cometeria o mesmo desatino em Monte Carlo ou será que o pouco caso aconteceu porque ele não levou a sério o Rio de Janeiro?

Talvez já esteja na hora de os brasileiros se darem mais ao respeito e, ao invés de esticarem o tapete vermelho sobre a lama que qualquer celebridade internacional resolva chafurdar por aqui, escolham uma postura menos colonialista exigindo que sejamos tratados com a mesma consideração com que lidamos com essas personalidade. Ou, no mínimo, oferecer, já na chegada do aeroporto, um exemplar qualquer de um compêndio de boas maneiras a essas criaturas. Noblesse oblige!

Foto: arquivo pessoal