*por Vítor Antunes
Na última semana, começou a circular nas redes sociais – especialmente no Threads – a informação de que a Record estaria negociando com os detentores dos direitos da novela A História de Ana Raio e Zé Trovão para uma possível reexibição da trama, substituindo Gênesis. A novela, exibida pela Manchete entre 1990 e 1991, marcou época por ser totalmente itinerante, sem cenas em estúdio, com gravações que percorreram cerca de 14 mil quilômetros pelo Brasil, passando por rodeios, feiras e paisagens de diversas regiões do país.
Procurado pelo site Heloisa Tolipan, o diretor Jayme Monjardim esclareceu que, de fato, não existem negociações para um remake ou reexibição de Ana Raio, visto que qualquer acordo precisaria passar por ele, uma vez que os direitos da obra são de sua propriedade. “Nunca soube de nada disso. É muito estranho, até porque os direitos são meus”, declarou Monjardim.
Jayme prossegue dizendo achar difícil que a trama seja exibida em sua forma original. “As pessoas que possuem as fitas originais de Ana Raio são aquelas que compraram diretamente da TV Manchete. Eu, por exemplo, tenho as fitas em VHS, assim como um fã que publica os capítulos na internet. Fui procurado por uma produtora há alguns anos para um possível remake de Ana Raio, mas eles desistiram devido à dificuldade envolvida. Não é fácil, de fato. Inclusive, acredito que a novela deveria ser refeita nos dias de hoje. Acho difícil que alguma emissora invista em uma reexibição, a menos que recuperem as fitas originais — mas, se quiserem, eu negocio em dois minutos.”
O ator e roteirista Marcos Caruso, em entrevista à revista Playboy em outubro de 2012, relembrou como foi chamado de última hora para escrever a novela, enquanto ainda estava trabalhando em Pantanal. “A Manchete planejava produzir Amazônia, mas Jayme [Monjardim] descobriu que, para ver os animais na Amazônia, você precisava estar a cem metros de altura. Não havia horizonte, era tudo fechado, então ele desistiu. Ele foi à Festa do Peão de Barretos gravar uma cena de Pantanal e ficou fascinado por aquele universo. Ele me chamou, jogou uma sela branca no meio da sala e disse: ‘Ana Raio!’. Depois, jogou uma sela preta e disse: ‘Zé Trovão!’. E ficou me olhando. Eu brinquei: ‘Prazer, Tarzan’. Jayme disse que a história estava toda na cabeça dele e que eu iria escrevê-la. E avisou: ‘Quero mudar de cidade a cada 20 capítulos, percorrendo o Brasil inteiro’. O slogan da Manchete na época era ‘O Brasil que o Brasil não conhece’. E foi o que fiz. Eu escrevia a novela num aviãozinho bimotor, literalmente nas coxas. Foi uma experiência ao mesmo tempo terrível e maravilhosa”, disse ele à extinta revista masculina neste excerto publicado originalmente no Site Teledramaturgia.
Quando perguntado pelo site Heloisa Tolipan, em setembro do ano passado, sobre a possibilidade de voltar a escrever novelas, Caruso foi enfático: “Nunca mais! Já fui convidado, mas recusei. Novela é para quem tem vocação. Não é que eu não goste de escrever, mas é para quem está disposto a se dedicar diariamente. Você precisa entregar cerca de quarenta páginas por dia. Se o autor adoece por um dia, no terceiro dia já precisa escrever cento e vinte páginas. É algo insano. Ana Raio foi uma experiência alucinante que me esgotou fisicamente. Tivemos que mudar de cidade, estado e personagens a cada vinte capítulos. Foi uma loucura!”.
Com mais de 100 atores no elenco e gravações que duraram dez meses, a Manchete desembolsou cerca de US$ 8 milhões para realizar a novela. As gravações aconteceram em diversas cidades brasileiras, entre elas Chapada dos Guimarães (MT), Santa Rosa e Piratini (RS), Joinville, Jaguariúna e Treze Tílias (SC), Rio de Contas (BA) e Praia do Norte (CE). Com 251 capítulos, A História de Ana Raio e Zé Trovão é a segunda novela mais longa exibida pela TV Manchete.
Artigos relacionados