Viva os projetos que contribuem para o enriquecimento da nossa cultura e sobrevivem apesar do cenário desolador instaurado com a pandemia do Covid-19. No sábado (dia 10), às 20h, no YouTube, oColetivo Muanes Dançateatroestreia ‘MASK’, um espetáculo de dança Afro Ameríndia Contemporânea que apresenta encontros das máscaras humanas. Amarradas por uma dança de eficiente corporeidade e temas que se inter-relacionam no amor, sexualidade, vida, relações de poder e afetos nas fronteiras onde se negocia visibilidade e invisibilidade, o espetáculo gravado no Teatro Cacilda Becker é dirigido por Denise Zenicola, que dirige o grupo de três bailarinas negras e uma ameríndia com idade entre 20 e 52 anos. “Desestabilizar verdades preconcebidas e romper com essencialismos são algumas das contribuições do princípio da máscara – e o princípio da dança em ‘MASK’, que dialoga ainda com as pautas do feminismo atual no que diz respeito à autonomia do corpo feminino. O universo da montagem é apresentado pela dança, interpretação, o canto e o tambor através de um desenvolvimento não linear do roteiro em ações interdependentes que dialogam e oscilam entre a máscara, o corpo e a estética afro e ameríndia”, sintetiza Denise que, nesta quinta-feira (8), às 20h, realiza uma live para detalhar o projeto ao público.
Aprovado no edital retomada da cultura da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec/RJ), o trabalho inédito foi desenvolvido através de pesquisa desenvolvida desde 2018 pela professora-doutora Denise. Deste modo, nasceu um espetáculo de dança centrado nas máscaras decoloniais e afro-diaspóricas que cria relações entre corpos e deflagra negociações de pertencimento via Antropologia da Dança a partir dos intercâmbios e relações entre grupos ameríndios e africanos, desde o período colonial brasileiro. Neste trabalho coreográfico, o corpo dança envolto à sua máscara para em um contexto repleto de vivências e memórias. “Como sou brasileira, todo trabalho se dá com máscaras ameríndias e afro diaspóricas. Quanto mais a gente mistura, melhor, e não é para apagar, mas para assumir esta questão no Brasil. Assim, o conceito da pesquisa se expandiu para máscaras interpretativas, metafóricas, falando tudo isso a partir do olhar das mulheres. Abrimos a apresentação com uma cena sobre Exu, chamada Mulheres Exuzíacas. Noutra cena, mulheres são representadas simbolicamente por africanas islamizadas, cobertas por burcas – que significa uma máscara que cobre todo o corpo e anula a mulher por completo – e que saem por frestas para se construírem como mulher. E ainda apresentamos Ìyámi, palavra que, etimologicamente, faz referência às mães ancestrais, e é representada nas tradições afro por uma brava feiticeira que, como mulher-pássaro, atua como um portal entre o céu e a terra”, explica.
Nas proximidades entre deuses e performances de pajelança, a máscara é um elemento estético, ritual e ou recreativo que chama a atenção. Não podendo simplesmente ser criada como um objeto decorativo, o Coletivo entende a máscara um objeto exato, instrumento de comunicação. Assim, em ‘MASK’ interessa como usá-la na dança, quais gestualidades e materiais devem assumir a realização da cena dançada. “Na cena há o desenvolvimento de usos e práticas de máscaras e pinturas corporais deslocados para danças atuais em danças afro ameríndias contemporâneas. A máscara confere uma qualidade à artista, feita de luz e sombra, de tons fortes, suaves, de silêncio, de movimentos e pausas, encruzilhadas e contrapontos. Expressa nossa cultura, um modo particular de ser e agir no mundo”, finaliza Denise.
SERVIÇO:
08 de abril – 20h
Live Coletivo Muanes Dançateatro: Processos, Pesquisa e Criação em Dança
Com Denise Zenicola e Debora Campos
Onde: https://www.youtube.com/
10 a 15 de abril – 20h
Espetáculo “Mask”
Onde:https://www.youtube.com/
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