Enjoy: Regina Guerreiro senta no sofá da Hebe e conta como Salvador Dalí e Mae West patentearam os lábios vermelhos da luxúria


No filme em que discorre sobre o famoso estofado-boca do artista catalão, a jornalista até tenta fugir do tema, mas – como ela mesmo diz – “a moda é uma droga muito forte”

*Por João Ker

Já está no ar o novo episódio de “Enjoy”, a websérie bacanérrima produzida pela Cavalera e apresentada por Regina Guerreiro, que já falou de chapéus, bolsas e da mudança nos padrões de beleza. Agora, no quarto capítulo do programa, a ex-editrix da Vogue Brasil e da Elle até tenta fugir do assunto ‘moda’ e começa falando sobre seu icônico sofá em formato de boca. Você aí provavelmente está se perguntando: e o que eu tenho a ver com a mobília fofa da casa de Regina? “Queridinha”, se você gosta de arte, a resposta é tudo. A jornalista explica que a origem do formato nasceu com Salvador Dalí (1904-1989), que estava inspiradíssimo pelos sedutores lábios da voluptuosa Mae West para usá-los em criações que renderam de broches ao tal sofá, e até parcerias com a fashion designer fetiche dos surrealistas, Elsa Schiaparelli. Pronto, voltamos à moda. Mas como a própria Regina Guerreiro diz – e batiza o episódio – “a moda é uma droga muito forte”. E nem Dalí resistiu. Play!

Vídeo (Divulgação)

Nota do editor para refrescar a cabeça do leitor: considerada uma lenda da Era de Ouro em Hollywood, Mary Jane West (1893-1980) – ou simplesmente Mae West – começou a atuar no teatro de variedades antes de ser descoberta pelo cinema na transição de mudo para falado. Ela já havia estourado em 1926 com a peça Sex”, em que narra a história de uma prostituta, uma prova de que os anos loucos foram muito mais revolucionários do que as décadas de 1960/1970.

Apesar da voz de caniço, chegou a Hollywood em 1932 através de um contrato com a Paramount de US$ 5.000,00 por semana, e só começou a perder espaço quando o FBI – por sua causa, inclusive – obrigou os estúdios a adotarem o Código Hays – um corolário da moral e os bons costumes que cerceava a liberdade na terra do cinema e censurava previamente aquilo que o governo acreditava que não deveria ser veiculado na tela grande. Extremamente inteligente, a atriz lançou o arquétipo da loura cínica sem papas na língua que pode dizer tudo através da ironia, chegando a rescrever suas falas e apimentando mais ainda os roteiros, com carta branca dos engravatados dos estúdios. A ela são creditadas máximas como a resposta que dá, em um filme, para uma vidente-cartomante que lhe diz que vê um homem em sua vida: “Só um?!?”, ela retruca, decepcionada.

Uma das imagens mais icônicas (que pululou no imaginário do público masculino) era o famoso retrato da suculenta atriz estendida em um sofá, ou mesmo recostada em uma cadeira com prodigioso decote sob pele de raposa. Daí, of course, a boca-sofá que evoca toda a lascívia da mulher que assustou o FBI.