Às vésperas da próxima Olimpíada e 50 anos após o lendário Mundial de 1971, que rendeu medalha de bronze para a seleção brasileira de basquete feminino, as cineastas Silvia Spolidoro e Hellen Suque revisitam a equipe formada pelas célebres craques Helena Cardoso, Elzinha, Odila, Delcy, Norminha, entre outras. Para contar essa história, o Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc, apresentam o documentário “Mulheres À Cesta”, em que as cineastas lançam luz em questões que envolvem preconceito, sororidade, gênero e, acima de tudo, a batalha dessas pioneiras que abriram caminhos para as mulheres do esporte no Brasil.
Editado durante a pandemia, o longa tem sido apresentado no Teatro Miguel Falabella, desde esta segunda-feira, e em ONGs do Rio de Janeiro, seguido de debate online com as cineastas. A fim de promover a inclusão, o filme será exibido com legendas em português e ainda contará com cinco apresentações em libras. O evento também terá transmissão online. A programação estará disponível nas redes sociais da @suqueproducoes e no site www.mulheresacesta.com.br.
Personalidades como a cantora Simone e a jogadora Hortência também participam do filme, baseado no livro homônimo de Claudia Guedes, que também assina a direção executiva. Todas elas concordam que a luta por espaço e respeito dentro e fora das quadras está longe de acabar. “Já avançamos bastante dentro de quadra, mas acho que fora dela ainda há um número muito pequeno de mulheres assumindo cargos importantes na gestão e comando de equipes. A gente está muito aquém. O grande legado da nossa geração foi mostrar que as mulheres podem fazer o que quiserem, chegar aonde quiserem, é só acreditar nisso”, defende Magic Paula.
Para Norminha, ela e as outras meninas foram muito ousadas para a época, em plena ditadura militar. “Ser atleta no Brasil, era um ato de coragem. Só iam assistir aos jogos os familiares ou os rapazes que achavam as pernas das meninas (as jogadoras) bonitas”, pontua. Delcy, outra célebre jogadora da época, considera o Mundial de 1971 um divisor de águas. “Demos condições para as futuras gerações. Fomos vencedoras em diversos campeonatos, mas só fomos ser conhecidas mesmo em 1971”, diz.
Hortência, que só muitos anos depois passaria a brilhar nos campeonatos, confessa que já era uma grande fã da icônica seleção. Ela tinha 11 anos em 1971. “Para você ter ideia do respeito que eu tinha por elas, principalmente pela Norminha, eu chegava bem antes na quadra para treinar. E fazia questão de dar a bola mais nova para ela e ia lá e pegava a velha. Hoje em dia, é muito difícil você ver isso, né? Esse respeito que você tem pelo ídolo, pela pessoa que está ali, te dando de volta uma experiência que elas adquiriram durante anos e anos”, relembra.
A cantora Simone, que desistiu do esporte depois de quase romper os ligamentos do tornozelo, relembra como era difícil ser mulher e jogadora naqueles tempos. “Tive uma relação de amor com o basquete desde a primeira vez que peguei uma bola e a acertei numa cesta. Já jogava futebol, gostava de esportes. E jogo até hoje, mas não em quadras. Até hoje existe preconceito. Não gosto desses últimos uniformes, são aproveitados dos masculinos. Essa falta de respeito vem dos diligentes e delegações, patrocinadores. Para que usar as sobras? Fica muito grande. Meu pai tinha receio que eu jogasse, depois que viu que era uma luta em vão, aceitou. Existe falta de apoio ao esporte feminino. O vôlei teve ascensão, mas o basquete não está onde merece. Espero que um dia tomem vergonha na cara e abram as portas para as mulheres. Precisamos peitar. Não pode baixar a cabeça e se dar por vencida. Grita, enfrenta tudo. Nunca fui submissa, sempre briguei pelo que queria. Somos nove irmãos. Meu pai era machão, queria segurar, resguardar a gente. Precisa ter agressividade para se defender. As dificuldades eram maiores naquela época. Hoje temos uma voz mais ouvida, mas os problemas continuam, matam, estupram, tudo isso tem. O mundo sempre foi muito masculino. Precisa estar sempre ali se mostrando. Nós mulheres somos especiais.”, diz a cantora.
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