Que heranças a sociedade brasileira carrega da ditadura militar? Por que os livros didáticos nos ensinam tão pouco sobre esse violento período da história recente do país? Como as gerações que nasceram após 1985 enxergam os anos de chumbo? O documentário cênico “O que sobrou” foi construído a partir de episódios reais para refletir e provocar debates sobre esses questionamentos. Com texto de Pedro Henrique Lopes e direção de Diego Morais, a peça parte de episódios retirados de livros, documentários e documentos históricos para estabelecer uma relação com cenas e personagens da vida contemporânea. Após temporada no Teatro Glaucio Gill, o espetáculo segue para três únicas apresentações na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, nos dias 19 e 20 de maio (sexta, sábado e domingo), às 21h e no dia 21 de maio (domingo), às 20h. A montagem tem patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da Secretaria Municipal de Cultura e da Lei do ISS RJ.
Inspirada no livro “Os fornos quentes”, de Reinaldo Guarany Simões, a dramaturgia se desenrola a partir da história de três personagens reais: o próprio Reinaldo, sua companheira, Maria Auxiliadora Lara Barcellos (a Dora), e Chael Charles Schreier. Integrantes de grupos que atuavam contra a ditadura, os três foram presos e barbaramente torturados. Chael morreu durante o interrogatório. Foi a primeira morte sob tortura durante a ditadura militar documentada e divulgada pela imprensa do Brasil. Reinaldo e Dora foram para o exílio no Chile e, posteriormente, para a Alemanha. No elenco do espetáculo, estão Julia Gorman, Pedro Henrique Lopes e Rodrigo Salvadoretti que, além dos três guerrilheiros, vivem diferentes personagens na encenação.“O texto foi todo construído a partir de depoimentos e histórias reais. Todos os sentimentos e reflexões que os personagens externam na peça foram expostos por pessoas que viveram aquele período e passaram por perseguições e torturas”, explica o autor Pedro Henrique Lopes, que há mais de uma década estuda a ditadura militar.
“Todas as pessoas da equipe criativa do espetáculo nasceram depois de 1985, quando terminou a ditadura. Não temos a pretensão de reconstituir os fatos, os atores aparecem como interlocutores de relatos e documentos. Buscamos entender como esses eventos políticos reverberam nas gerações atuais, na tentativa de incentivar um debate social, político e histórico”, acrescenta o diretor Diego Morais.
A peça é intercalada por músicas, como “Suíte do Pescador”, de Dorival Caymmi, cantada por presos nos porões do presídio Ilha das Flores em momentos de despedidas; “Corsário”, de João Bosco; “Canção Amiga”, de Milton Nascimento em parceria com Carlos Drummond de Andrade; e “Pequena memória para um tempo sem memória”, de Gonzaguinha. “Este não é um espetáculo musical. A música entra transbordando as emoções das personagens em alguns momentos, quando as palavras já não dão mais conta da situação vivida por eles”, conclui o diretor musical e ator, Rodrigo Salvadoretti.
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