“Dizer que Trump e seu governo são anti-LGBTQ é pura difamação”, afirma Judd Dere, assessor da Casa Branca


Secretário de Comunicação defende medidas como o afastamento de pessoas trans das Forças Armadas e o veto à lei que proibiria discriminação por opção sexual e gênero nos EUA. Ah, sim, ele é gay

*Por Jeff Lessa

Você já ouviu falar de Judd Dere? Trata-se do secretário de Comunicação de Donald Trump, o homem mais poderoso do planeta. É ele quem, volta e meia, anuncia e justifica as demonstrações anti-LGBTQ de seu presidente (o afastamento de pessoas trans das Forças Armadas, que repercutiu mal até entre os militares americanos, foi uma das mais recentes). Ah, sim, um detalhe: Dere é gay.

Judd Deere, assessor da Casa Branca, é gay, mas apoia medidas anti LGBTQ de Trump (Foto do tweeter de Judd Deere)

“Dizer que Trump e seu governo são anti-LGBTQ é pura difamação”, afirma o assessor da Casa Branca. Uma entrevista recente dele ao site “BuzzFeed” vem causando polêmica nos Estados Unidos por seu conteúdo obviamente conservador.

Bom, vejamos como Dere avaliou a oposição de Trump ao Equality Act, que complementaria a Lei dos Direitos Civis, de 1964, proibindo a discriminação por opção sexual e gênero em todo o país. Segundo ele, o presidente vê questões “venenosas” no Ato, como, por exemplo, não permitir mais que comerciantes usem sua liberdade religiosa para recusar fregueses. Ou que empresários se recusem a fazer negócios com clientes baseados em sua orientação sexual.

Defender a comunidade discriminada? Jamais! Ele se apressou em garantir que ficaria bem caso lhe recusassem a fazer um bolo de casamento porque ele se uniria a outro homem: “Eu procuraria outra loja que fornecesse o bolo”.

O exemplo vem de uma história lastimável. Em 2012, o confeiteiro Jack Phillips, do Colorado, recusou-se, por motivos religiosos, a fazer o bolo de casamento de um casal homossexual. Pois bem no ano passado, a Suprema Corte dos Estados Unidos deu vitória ao comerciante. Por 7 a 2, a maioria dos  juízes discordou do veredicto da Comissão de Direitos Civis estadual, que o havia condenado por discriminação de orientação sexual.

Outro momento em que o pensamento simplista de Deere se manifesta é no tocante ao afastamento de pessoas trans das Forças Armadas, aprovado pela Suprema Corte americana em janeiro desse ano. Segundo ele, os trans “erodem a disposição militar”. O assessor sustenta que Trump instituiu o banimento levando em conta o resultado de “estudos abrangentes conduzidos por militares sênior dentro de instituições das Forças Armadas”. Nesse caso, parece não importar se o diretor do Estado Maior Conjunto, Joseph Dunford, disse que não havia sido consultado a respeito e nem se outros militares quase tão top quanto ele tenham ficado surpresos. O fato de todos terem se oposto ao afastamento também parece não contar.

Na opinião de Deere, intolerantes são os liberais. “A esquerda tende a pregar igualdade total e completa, exceto quando você não concorda cem por cento com cada assunto”, disse ao “BuzzFeed”. Será que é porque quando se trata de igualdade total deva-se exigir, obrigatoriamente, 100% de concordância? Fica a pergunta.

Antes de entrar na Casa Branca, Deere foi porta-voz do gabinete da Promotoria Geral do estado do Arkansas, onde também apoiou políticas anti-LGBTQs, como a recusa do estado a reconhecer duas pessoas do mesmo sexo como pais de uma criança na certidão de nascimento. Felizmente, essa determinação foi invalidada recentemente pela Suprema Corte.

O assessor garante que jamais foi vítima de preconceitos na Casa Branca. “As pessoas com quem trabalho não me tratam diferente porque sou gay”, e isso inclui Trump, ele garante, embora não esteja 100% certo de que o presidente saiba que ele é homossexual. “Se ele me perguntasse, claro, eu teria essa conversa com ele”, acrescentou.

Deere disse que não se sente incomodado pelo ódio que parece fluir contra Trump ou com o que pensem dele por apoiar o Partido Republicano sendo gay. “Pensam que sou louco por trabalhar aqui, mas isso simplesmente não me importa”, costuma dizer. No entanto, ele parece se irritar de verdade quando se presume que o governo dos EUA é anti-LGBTQ: “A esquerda que continuar a forçar o que eu considero uma mensagem nojenta, que os LGBTQs americanos estão ameaçados sob essa presidência”, disparou. “Isso é uma campanha suja”.