Depois da estagnação causada por Copa e eleições, a Feira Zero Grau antecipa o boom econômico da indústria calçadista em 2015


Evento reuniu compradores internacionais, que começam a olhar para o mercado brasileiro como um grande emergente na economia mundial, com foco especial no setor calçadista

Após a estagnada que algumas indústrias setoriais brasileiras sofreram com um ano que teve o prazer de apresentar eleições presidenciais e uma Copa do Mundo FIFA corrida até o último minuto, o movimento comercial parece voltar aos trilhos. Pelo menos é a conclusão que pode-se tirar com o saldo positivo que foi apresentado durante a última edição da Zero GrauFeira de Calçados e Acessórios que dominou a cidade de Gramado/RS entre os dias 17 e 19.

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Entre os comerciantes e lojistas presentes na antecipação de tendências para o Outono/Inverno 2015, 24 países representavam a porção de importadores que, diga-se de passagem, ficou boquiaberta com a qualidade dos produtos nacionais apresentados, principalmente por tratar-se de um país que até há pouco tempo era visto com olhos desconfiados no panorama mundial. Pois é, pouco a pouco o Brasil  vai entrando na briga de cachorro grande que é o setor da moda globalizada. Mas, no que depender dos estrangeiros que estavam por Gramado, não deve demorar muito até o país atingir sua tão almejada visibilidade: “Busco modelos que representam o povo brasileiro, com características originais daqui. Em Hong Kong, por exemplo, os chinelos produzidos por algumas marcas do Brasil fazem muito sucesso, pois mostram a originalidade que muitas vezes não encontramos em calçados produzidos em outras regiões do mundo”, comenta Laurence Yu, comerciante de Hong Kong que atravessou o mundo em busca de produtos femininos.

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Representante de duas compradoras tailandesas, a brasileira Emanuele Tonani destaca como grande trunfo do evento o caráter antecipador de tendências, o que pode servir como uma grande bússola para o que fará ou não sucesso comercial nas vitrines. “Com essa antecipação, podemos apresentar aos nossos representantes as amostras adquiridas na feira e, assim, poderemos selecionar com calma quais modelos comprar. Temos primeiro uma fase de testes e, se houver um grande número de vendas para as nossas consumidoras, pedimos mais modelos. É uma maneira que pode ser otimizada graças à antecipação dos lançamentos”, explica.


O movimento comercial no primeiro dia da Feira Zero Grau

O intercâmbio comercial se materializa como uma via de mão dupla na feira, que também recebe expositores internacionais com filias por aqui, como é o caso da Amphora, empresa chilena especializada em bolsas que desembarcou no Brasil este ano: “É importante participarmos de feiras como esta, para realizarmos os primeiros contatos com os lojistas. Nossa marca já é bastante conhecida na América Latina e, agora, queremos também esse reconhecimento no Brasil”, aponta Flávio Sarrizo, gerente comercial da marca. A crescente capacidade de compra dos brasileiros não vem despertando apenas o interesse de hermanos investidores, como comenta Sushil Sachdeva, gerente da indiana Viola International: “É a primeira feira que visitamos no Brasil. Estamos conhecendo o mercado brasileiro, e já estamos conseguindo realizar bons negócios”, comemora.


O movimento no segundo dia de Zero Grau

Esse aquecimento no comércio do setor se reflete de maneira diretamente proporcional ao crescimento da Zero Grau, que precisou aumentar a sua área em 11% para abrigar todos os expositores desta edição. “O crescimento se dá pelo diferencial que ela possui, que é o de garantir ao lojista a compra antecipada dos lançamentos, atendendo também as necessidades do expositor em relação às vendas e ao planejamento da produção”, explica Frederico Pletsch, diretor da Merkator Feiras e Eventos, responsável pela organização total.


O último dia da Feira Zero Grau

E engana-se quem pensa que essa promessa de efervescência comercial intimida o mercado ou até a própria feira. Frederico Pletsch já está de olho na próxima edição do evento e prevê um crescimento de 20% na relação de marcas presentes em 2015: “Os depoimentos dos nossos expositores remetem para um momento novo: um sentimento de entusiasmo respeitoso, mostrando uma grande disposição de retomada dos negócios e do consumo no país. Tenho recebido informações de vendas acima da expectativa, de alguns, pedidos generosos, por parte de outros, mas de uma movimentação constante. O lojista veio para renovar os estoques, talvez com pedidos menores, mas com disposição de fazer belas vitrines em suas lojas. Estamos recebendo pedidos de renovação de espaços, da entrada de novos clientes, enfim, a feira no próximo ano deve novamente auxiliar na roda da economia setorial”, comenta.

Os olhos do mundo, que voltaram-se especialmente para o Brasil graças à Copa FIFA e continuarão a vigiar o país pelo menos até o fim de 2016, quando os resultados das Olimpíadas estarão mais evidentes, começam a mudar um pouco a maneira como enxergam o lado de cá. Saindo do papel de um país latino com potencial apenas para a exploração, a atual economia emergente já dá as caras para um novo panorama que tem sede de mostrar a identidade cultural desse espaço tão particular na América Latina. E, por mais que possa parecer exagero ou absurdo à primeira vista, são eventos como a Zero Grau, globalizados e altamente prontos para incentivar o comércio nacional, que ajudam essa roda capitalista a girar e colocar o país verde e amarelo em uma posição de destaque.

Frederico Pletsch tem sido um grande incentivador do setor calçadista do Sul do país e nos revela ainda que, para proteger a indústria nacional, a Associação das Indústrias de Calçados (Abicalçados) tem feito reuniões constantes com as empresas para defender o nosso mercado com relação à entrada dos calçados chineses. Segundo a Abicalçados,  “o direito antidumping contra o calçado chinês volta à pauta da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). O motivo é a renovação da sobretaxa de US$ 13,85 por par importado da China, a vencer em março de 2015″. No site da Abicalçados está lá: ” Conforme diz o presidente-executivo da entidade, Heitor Klein, está em andamento a formatação de uma petição de revisão do processo com amplo apoio das indústrias calçadistas. O documento deverá ser apresentado para Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “Considerando as condições vigentes no mercado, onde é clara a existência de dumping por parte não somente dos chineses, mas dos asiáticos, é grande a probabilidade da extensão do direito por mais cinco anos”, avalia Klein. Sob uma avalanche de calçados chineses, em outubro de 2008 a Abicalçados protocolou no MDIC uma petição de abertura de investigação de dumping contra o a China. No dia 9 de setembro de 2009, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) publicou no Diário Oficial da União a decisão de cobrar, durante seis meses, uma alíquota de US$ 12,47 por parte de calçado importado da China. No dia 4 de março de 2010, a Resolução nº 14 tornou o direito antidumping definitivo por até cinco anos, agora com alíquota ajustada em US$ 13,85 por par. “A importância da extensão do antidumping pode ser resumida através dos números. Em 2008, as importações de calçados chineses chegaram a quase US$ 220 milhões, passando para US$ 55 milhões após a aplicação do direito, em 2010. Em poucos meses após a aplicação da sobretaxa recuperamos mais de 40 mil postos de trabalho”, recorda Klein”. Atualmente a China produz mais de 10,6 bilhões de pares por ano, exportando 8,3 bilhões deles. A participação chinesa nas exportações mundiais de calçados chega a mais de 72%. Até março de 2015, quando vence esse prazo de renovação, a questão ainda vai pegar fogo. Mas, Frederico é otimista que toda a proteção aos nossos fabricantes será dada pelo Governo Federal.

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Abaixo, você lê um pouco mais sobre a Zero Grau e sua importância para a economia da indústria calçadista:

Apesar de “não estar fácil para ninguém” há bastante tempo, é impossível negar o aumento do poder de compra dessa tão discutida e observada “nova classe C”. Bem no meio dessa gradativa ascensão social, está o papel fundamental da mulher, que, ao longo dos anos, vem clamando seu lugar de direito na economia brasileira como um agente influenciador de peso. E, por mais que seja difícil entrar em estereótipos pré-estabelecidos, quase todos os seres do sexo feminino gostam de um bom sapato, daqueles que vão muito além de um simples calçado, mas se configuram como verdadeiros itens de desejo. E é exatamente nessa interseção que é constatada a importância da Zero Grau, feira de calçados e acessórios que promete movimentar mais uma vez a cidade de Gramado/RS entre os dias 17 e 19.

Imagem da movimentação da edição 2013 da Zero Grau (Foto: Henrique Fonseca)

Localizada no Centro de Convenções Serra Park, a recente edição da Zero Grau pode ser considerada como um daqueles grandes booms anuais pelos quais a indústria de calçados e sua economia criativa passam: são esperados 10.000 visitantes, que ainda devem movimentar o setor turístico do Rio Grande do Sul. “Esse é um evento que vem tendo um crescimento consistente e esperamos que isso se repita nessa edição. A Zero Grau se firmou no cenário da moda e dos negócios que envolvem calçados e acessórios. É o momento de as coleções da indústria serem apresentadas, e dos compradores renovarem seus estoques”, comenta o  diretor da Merkator Feira e Eventos, promotora da feira, Frederico Pletsch, ressaltando ainda a boa aceitação da moda calçadista brasileira pelas Américas e Europa. “O evento tem tido uma internacionalização constante, e cada vez mais os compradores externos estão sendo importantes”, diz. E qual o maior país importador desses produtos nacionais? Nossos brothers dos EUA.

Falando de business, os norte-americanos podem até sair na frente em questão de importação dos produtos nacionais, mas ainda são esperados outros 23 países com potencial de compra para a feira, que representa 30% do lucro anual gerado pelo setor. Apenas no primeiro semestre já foram exportados 63,73 milhões de pares de calçados para vários países, dentre os quais merecem destaque Argentina, Angola e Bolívia, grandes consumidores dos produtos brasileiros, como explica Frederico: “São mercados que já compram os nossos produtos, e onde os consumidores já reconhecem as nossas marcas. Isso garante que esses importadores que virão ao Brasil efetuarão bons pedidos junto aos nossos expositores”. Isso sem falar em outras nações que podem até não serem grandes nomes nesse setor brasileiro, mas representam compradores em potencial e estarão presentes na Zero Grau: “Com isso, mercados onde ainda temos um grande potencial de expansão serão abertos. O importante é que conseguimos mesclar importadores de países que já compram das nossas empresas, e por isso compram em maior volume, com representantes de países em que a nossa presença pode ser maior, diversificando a nossa oferta”, explica o diretor.

Frederico Pletsch, diretor da Merkator Feiras e Eventos (Foto: João Ricardo | Divulgação)

Frederico Pletsch, diretor da Merkator Feiras e Eventos (Foto: João Ricardo | Divulgação)

Uma das grandes novidades que promete elevar ainda mais o nível da feira é o desfile Spot Fashion que será realizado no dia 18, mais especificamente no pavilhão 3. Com styling e produção assinados por Júlio Rossi e abertura comandada pelo pessoal da Trends Lab, serão quatro marcas sobre a passarela, apresentando as melhores tendências e previsões para o outono/inverno 2015: Kildare, especializada na moda masculina; Bebecê, que foca nos saltos de todos os tipos e tamanhos, trazendo três temas-chave para a estação (Folk Urbano, New Sixtie e Heavy Metal); Macadâmia Bolsas e a Whoop, sessão de tênis da Ramarim. Frederico Pletsch comenta a importância dessa exposição imediata para os convidados do evento: “Essa é mais uma inovação da edição deste ano. A Zero Grau vem se qualificando, e ressaltar a moda exposta na feira é algo importante, tanto para o lojista quanto para o fabricante”.

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Do tradicional ao que há de mais novo no momento, a gama de produtos expostos  agradará a todos os tipos de lojistas. Basta ver a clássica Moleca, que volta com as suas já icônicas sapatilhas em versão repaginada, mas ainda assim mantendo os traços pelos quais se tornou onipresente entre as garotas: conforto e versatilidade. Através de uma paleta de cores variada, que vai dos básicos preto e bege aos divertidos rosas, azuis e roxos, a nova coleção agrada desde as seguidoras da boho chic interpretada por Sienna Miller até o folk chic e étnico, com franjas, solas estampadas e acabamentos artesanais. O jeito alegre e brincalhão fica ainda mais evidente na linha infantil da marca, a Molekinha, que merece destaque especial para a diversão de flores, poás e animal print nos pezinhos.

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Continuando com a pegada jovial, a Kipling, marca queridinha de todas as meninas que já desejaram uma mochila com chaveiro de macaquinho na vida, faz sua estreia no evento e chega com a 6ª coleção de sapatos, batizada “Back To School”, que promete sair voando das prateleiras e ir direto para os pés do seu público-alvo juvenil. Ballerinas, birkens, oxfords e docksides aparecem com pegada ecológica nos materiais, dentre os quais merece atenção especial a lona desenvolvida com algodão e PET reciclados.

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Mantendo a identidade jovem, mas para aquela menina mais crescida que já gosta de se sentir poderosa, a coleção apresentada pela Via Marte traz com força total a principal faceta da marca: o sexy. Do preto dominante à suntuosidade do petróleo e violeta, todas as peças aparecem com salto, independente do tamanho. Através do slip-on com textura croco, ankle boots franjadas, scarpin com detalhe de onça e as botas de cano alto feitas com couro e tachas, a grife resgata e reforça a sensualidade no andar de uma femme fatale.

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Seguindo a mesma linha de pensamento, mas com um toque especialmente luxuoso e chamativo, a Vizzano também parece trazer um inverno perfeito para a mulher que gosta de valorizar o próprio corpo, em especial as pernas que podem estar cobertas apenas por botas over the knee e um vestido, isso tudo sem perder a pose de metropolitana que presa pela praticidade. O item que melhor traduz esse mix de glamour arrojado com urbano despretensioso é a peep toe de camurça com salto de textura croco, e na frente, o ouro  de uma corrente que, apesar do fundo preto, não tem nada de básica, darling.

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Na contramão da contemporaneidade da mulher urbana, a Orcade faz um flashback e viaja até os anos 1950 para trazer a inspiração no new look de Christian Dior, jogando várias referências nesse liquidificador fashion: franjas, militarismo, poá, low heel, bico fino, étnico e esportivo. O resultado é a coleção Luxury, que traz modelos em tons básicos como o marrom terroso e o total black e estruturas como as botas chelsea e over the knee. Um saboroso shake de tendências.

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A praticidade e o conforte que a mulher do século XXI exige em seu guarda-roupas também é uma das principais motivações por trás da coleção apresentada pela Zeket. Para isso, as apostas da marca são tendências seguras, mas certeiras, que alinham conforto e sofisticação através de franjas, couro de cobra, fivelas metalizadas e modelos que também vão das atuais botas over the knees às já clássicas e infalíveis ankle boots.

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Mostrando que o inverno não precisa ser cinza nem sério, a Século XXX investe no estilo girlie que nunca sai de moda, com uma coleção cheia de romance e cores soft, como o rosa claro, champanhe e o cabernet, espalhados por peep toes e scarpins que, se enganam pelas cores, não deixam dúvidas quanto às intenções do salto agulha. Atenção especial para os detalhes em pedraria e às texturas alternadas, que dão um toque arrojado e menos entediante aos calçados.

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Falando em cores vibrantes, a Beira Rio parece que quer trazer o sol para a estação mais fria do ano através dos pés. Laranja e mostarda aparecem em anabelas e rasteirinhas, além do couro de cobra que dá as caras tanto nas avarcas quanto nas ankle boots, dando aquele poder combinado com conforto. E não pense que só de praticidade é feito o inverno, porque há também espaço para o clássico scarpin total black, com aberturas estratégicas e recortes assimétricos, acertando em cheio no bolso e nos desejos da mulher.

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Dando aquela zapeada geral pelo preview das coleções, percebe-se que a moda está se ajustando às necessidades com o passar dos anos. A palavra de ordem parece ser conforto, mesmo que ele venha aliado a um saltão e uma bota dominatrix. Afinal, não é assim que a mulher contemporânea age no seu cotidiano? Trabalhando e acumulando funções durante o dia, sem perder o jogo de cintura e a sensualidade quando cai a noite. A Zero Grau então cumpre o seu papel de ir um pouco além do comercial e refletir costumes sociais que sim, podem e devem ser exportados para outros países.