“Essa é a hora de ter salários e direitos igualitários para todas as mulheres dos Estados Unidos”. Foi assim que Patricia Arquette, ganhadora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do Oscar 2015, defendeu a igualdade de gêneros na maior premiação da sétima arte. E não foi só: à época, no red carpet, Arquette também desviou das tradicionais perguntas sobre beauty e vestidos que os repórteres fazem às atrizes, enquanto os atores tem a chance de falar do mercado e de seus papeis. A atriz trocou de assunto, falou do seu lado social e sobre cinema indiano. E, no fim, para arrematar, ainda lançou a #AskHerMore.
Você deve estar se perguntando o motivo de HT ter voltado no tempo. A questão é que o debate sobre direitos iguais não morreu – aliás, ele mal começou -, e ganhou corpo em outro evento tão importante quanto o Oscar para a indústria das películas, o Festival de Cannes. Nós demos um tempo nas aclamações e alfinetadas da críticas pelos lados da Riviera Francesa, porque chamou atenção uma reunião da “Variety”, publicação especializada em cinema, que fomentou o debate sobre assunto. Por lá, a atriz Salma Hayek foi a protagonista da vez.
“Por um longo tempo, eles [indústria] pensaram que a única coisa que nós estávamos interessadas em ver era comédia romântica. Eles não nos vêem como uma força econômica poderosa, o que é uma ignorância incrível”, disse, usando como argumento a fuga das espetadoras femininas para a TV. Salma citou “Sex and the City”, como uma produção que escutou as mulheres, e que deve ser seguida como exemplo. A atriz ainda completou: “E os cachês nunca são os mesmos. O único lugar onde a mulher ganha mais do que o homem é no cinema pornô”.
Apesar de a maioria de mulheres, o encontro fez barulho em uma semana já agitada para a bandeira, já que a União Americana pelas Liberdades Civis pediu recentemente que os órgãos federais e estaduais americanos investiguem formalmente práticas de contratação discriminatórias no cinema e na televisão. A UN Women, organização defensora da causa, também endossou o grito levantando que, em 2014, na lista de filmes mais vistos no mercado americano, apenas 12% tinham uma mulher como protagonista. E os números pioram quando o assuntos são diretoras: apenas 11%.
Engana-se ainda quem acha que o problema é a nível americano e afeta só o cinema. Pelo Brasil a coisa é, infelizmente, parecida. Aliás, quem já comentou sobre isso com a gente foi a atriz Suzana Pires. “Ganhamos em média 30% a menos que um homem para desenvolver a mesma função, e temos que provar arduamente que somos capazes de fazer algo bom. É pesado e as mulheres que estão encarando este desafio e vencendo pagam alguns preços”, disse. Suzana ainda defende que essa conta seja fechada não pelo quesito sexual, e sim pelo merecimento. “O ideal é que sejamos todos valorizados pela meritocracia, independente do gênero, mas no Brasil essa questão da mulher é ainda pior. (…) Sinto a desconfiança como autora (somos poucas mulheres ainda), e por ser também atriz complica um pouco”, afirmou.
Expert no assunto, a escritora Clara Averbuck é outra que vai no mesmo grito. Autora do site especializado no feminismo, o “Lugar de Mulher”, ela acha que esse processo todo é um “trabalho de sísifo”. “Todos os dias temos que repetir as mesmas coisas, responder o mesmo tipo de argumentação baseada apenas em desinformação. Precisamos de diálogo, de políticas públicas, garantia de direitos reprodutivos, de engajamento de todos os setores. Avançamos bastante, claro, mas ainda não estamos nem perto de ter uma sociedade igualitária”, finaliza.
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