Um convite à sociedade para repensar o que sabemos e garantir uma emancipação definitiva para a população africana diaspórica. Com essa proposta nasceu o Afrikafé, programa apresentado pela filósofa Katiúscia Ribeiro e pela multiartista Janamô. Nesta sexta-feira (16), o projeto recebe Vanda Machado, escritora, doutora em Educação e criadora do Projeto Irê Ayó na Comunidade de Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que tem uma trajetória dedicada a aprimorar a educação infantil. O programa será exibido a partir das 10h30 no YouTube e no Instagram @afrikafecomaspretas. Doutora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora colaboradora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a baiana construiu uma escola, criou um projeto de ensino da cultura afro-brasileira e se tornou referência no país. Afrikafé aborda temas que estão em foco, a partir de paradigmas pensados por e para pessoas pretas, a primeira temporada já contou com convidados para lá de representativos, como a atriz Isabel Fillardis, a cantora e apresentadora Gaby Amarantos, o sociólogo Túlio Custódio , e a biomédica e cientista Jaqueline Goes de Jesus – que sequenciou o primeiro genoma da Covid-19 no Brasil, entre outros.
Sobre o programa
Ter nascido em meio à pandemia, aliás, trouxe um significado especial para o projeto. “Em um momento em que as pessoas não sabiam quanto tempo duraria o isolamento social, criamos o programa num impulso de convidá-las a olhar para o mundo através de uma possibilidade de olhar para dentro de si. Essa troca foi extremamente frutífera porque gerou potência para quem estava, todas as manhãs, se potencializando com o projeto, que começou como Café das Manas, virou Café das Pretas e se consolida como Afrikafé – onde a letra K representa a estrutura da energia vital desde a antiguidade africana que, no Brasil, recebe o nome de axé”, relembra Katiúscia.
Desfazendo o conceito racista e limitador de que negros na televisão só podem comentar a respeito de sofrimento e racismo, entre um gole de café e outro o programa aborda tópicos que vão desde literatura, moda, estética, gastronomia e sexualidade a padrões de consumo, viagens, artes plásticas, artes cênicas, artes visuais, cinema, música, e muito mais. “É muito importante levar no axé das nossas palavras a possibilidade de transformação e, a partir dessas trocas e diálogos, criar outra forma de perceber a si mesmo e olhar à frente”, frisa Katiúscia sobre o projeto que foi aprovado no edital Retomada Cultural da Lei Aldir Blanc do Governo Federal e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Secec/RJ).
O projeto questiona o individualista postulado cartesiano “penso, logo existo” e apresenta uma perspectiva africana de pensamento, que afirma “sinto, logo coexisto”, valorizando a consciência do espírito e dos sentidos em prol de ações coletivas e comunitárias. “Isso é muito importante porque reconecta inquietudes, sensações e descontentamentos de um modelo de civilização que nos vem sendo imposto. O projeto aponta novos direcionamentos para a construção de uma sociedade mais equilibrada”.
Almejando ser um instrumento de representatividade, nota-se a formação de uma equipe majoritariamente preta nos bastidores do programa, que serve ainda de vitrine para potencializar os convidados, suas obras e contribuições para a comunidade. “Buscamos trazer novas perspectivas e entender como ser melhor dentro desse cenário que a gente vive, como tirar proveito deste momento para nos emanciparmos. O que queremos é apontar caminhos possíveis”, afirma Janamô. “O futuro é ancestral”, finaliza Katiúscia.
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