*Por Jeff Lessa
Nos anos 1950 e 1960 nenhum homem foi mais desejado pelas mocinhas e mais invejado pelos rapazes do que Rock Hudson, cujo nome de batismo era Roy Harold Scherer Jr. O rosto másculo, de formato quadrado; os músculos distribuídos por 1m93 de altura; o sorriso bonito; a voz – tudo no astro contribuía para fazer dele o galã perfeito. Não à toa estrelou mais de 70 filmes, com destaque para as comédias românticas ingênuas em que fez par com Doris Day. Em 1985, porém, tornou-se o primeiro astro de destaque mundial a morrer em decorrência de complicações pela Aids. Tinha 59 anos e chocou o mundo, que não conhecia seu lado gay: era discretíssimo, apesar de não esconder sua orientação sexual em Hollywood.
Pois a história deste astro maior dos chamados anos dourados de Hollywood vai ganhar uma versão cinematográfica batizada “All that Heaven Allows” (“Tudo que o Céu Permite”, título, também, de um filme estrelado por Hudson em 1955). O diretor acaba de ser escolhido: será Greg Berlanti, responsável pelo recente sucesso “Com amor, Simon”, comédia dramática sobre um adolescente de 17 anos que se apaixona por um colega de escola, e por séries de TV extremamente bem-sucedidas como “Dawson’s Creek”, “The Flash”, “Legends of Tomorrow” e “Riverdale”.
A Universal, que produzirá o filme, quer que Richard LaGravanese (“O Pescador de Ilusões”, “As Pontes de Madison”) escreva o roteiro da cinebiografia, inspirada no livro homônimo de Mark Griffin lançado em dezembro.
Hudson foi um dos maiores astros do cinema americano de todos os tempos, acumulando o título com o rótulo de símbolo sexual. Versátil, atuava tanto em dramas (foi indicado ao Oscar de melhor ator por “Assim Caminha a Humanidade”, em 1957) como em comédias românticas campeãs de bilheteria (uma das mais célebres é “Confidências à Meia-Noite”, com Doris Day, de 1959).
Nos anos 70 e 80, ele migrou para a televisão, onde chegou a participar de novelões de sucesso como “McMillan & Wife” e “Dinastia”.
O ator só saiu do armário no começo da década de 1980, quando foi diagnosticado com HIV. Sua trágica condição de galã eternamente condenado a ficar trancado no armário lhe rendeu um papel simbólico junto à comunidade LGBTQ. Sua morte, em 1985, serviu como sinal de alerta para a batalha contra a Aids e contra o preconceito fortíssimo que fazia a doença ser conhecida como “câncer gay”.
As reações à morte de Rock Hudson variaram amplamente. Mas duas podem ser consideradas extremas. Deu um lado, a atitude vergonhosa do então presidente americano Ronald Reagan, amigo de longuíssima data do ator. Reagan não apenas cortou o contato com o colega de profissão como se recusou a oferecer qualquer ajuda no tratamento, então muito precário.
No outro extremo ficou a amicíssima Elizabeth Taylor. A atriz inglesa tornou-se ativista de primeira hora em prol dos pacientes de Aids e fez de tudo para manter viva a lembrança de Hudson. Nunca o abandonou e esteve com ele até o fim.
“All that Heaven Allows” ainda não tem elenco escolhido e nem data para chegar ao circuito. Mas sua história já é conhecida e, pelos primeiros passos dados pela Universal na contratação de diretor e roteirista, parece que vem coisa boa. Rock Hudson e a comunidade LGBTQ merecem. Ou melhor, o mundo merece.
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