*Por Brunna Condini
“Há uma necessidade de fazer desse isolamento uma experiência rica para todos nós”, comenta Daniel Herz, fundador da premiada Cia Atores de Laura e diretor geral de “Fronteiras Invisíveis em processo”. O espetáculo, que é a primeira experiência online do grupo, estreia dia 20 de setembro e realiza temporada de quatro domingos através da plataforma Sympla. Dirigido e produzido de maneira totalmente remota, a montagem procura trazer reflexões sobre o conceito de fronteiras. “Como fronteiras físicas e imaginadas são construídas e podem ser superadas? Até que ponto a relação entre identidade e diferença é capaz de estabelecer fronteiras tão vigorosas nos tempos atuais?” questiona Herz. “Queremos fazer uma provocação com o espetáculo sobre o que pensar das fronteiras estabelecidas simbolicamente pelos indivíduos e pela sociedade, quase nunca apreendidas a olho nu. Fronteiras invisíveis trazem consequências visíveis”
O elenco composto por Charles Fricks, Leandro Castilho, Marcio Fonseca, Paulo Hamilton, Verônica Reis e as atrizes convidadas Carol Santaroni, Clarissa Pinheiro e Gloria Dinniz empresta o cenário de suas casas numa encenação em formato de performance. Além de atores, eles agora também são operadores, iluminadores, contrarregras, câmeras e o que mais for preciso para a realização. “É uma experiência desafiadora, pois tudo tem que dar certo a distância. O sinal da internet virou um ponto de tensão, se cair como faz?”, se diverte Marcio Fonseca, integrante da companhia desde 1996. “São duas estreias para mim, o teatro virtual e fazer parte de um processo da Cia Atores de Laura, que sempre admirei muito. Sem dúvida é um presente que o Daniel Herz me deu”, afirma Clarissa Pinheiro, que também integra o elenco da novela “Amor de Mãe“.
Com uma temática reflexiva, atual, social e política, discutida através de fragmentos e esquetes, “Fronteiras Invisíveis em processo” pretende compreender o conceito de fronteiras a partir da ideia de demarcação de diferentes territórios utilizados como forma de exclusão daquilo ou de quem não é compreendido como pertencente. “Estamos diante de várias camadas de fronteiras nesse universo online: primeiro a de cada ator na sua casa, depois o público assistindo através da tela e ainda uma fronteira entre o que é personagem e o que é ator; sem falar que o espetáculo pode ser assistido de qualquer parte do mundo”, detalha Herz, que divide a direção com Luiz Felipe Sá, além de também assinar a dramaturgia, concebida através de um processo de criação coletiva. “Esse trabalho é uma pesquisa para uma nova linguagem. É desafiador criar num regime misto de teatro e audiovisual”, afirma Luiz Felipe.
O espetáculo estava em fase de pré-produção antes da pandemia e teve todo o seu processo adaptado para a exibição online. “No momento delicado que estamos vivendo, produzir espetáculos no ambiente virtual é uma forma de manter o fazer teatral vivo e pulsante”, detalha Elaine Moreira, diretora de produção da Cia. “É preciso aprimorar uma nova comunicação com o público. Quem sabe daqui pra frente teremos espetáculos híbridos (presencial e virtual)”.
“É uma experiência salvadora estar em cena nesse momento com a “família” de Laura. Estamos contracenando diretamente com nossas angústias pessoais e transformando tudo em arte”, pontua Verônica Reis, que integra a companhia desde sua fundação. “Estamos trazendo questionamentos. As respostas serão dadas por cada espectador, a partir de suas impressões, desejos e possibilidades”, explica Paulo Hamilton. O espetáculo ainda conta com direção musical de Leandro Castilho e concepção de figurinos de Ana Paula Secco.
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