A exposição retrospectiva ‘Da Fundição à Forração’, que começa nesta quinta-feira (14), no Museu da Moda de Canela, apresenta peças que narram a experiência empírica do artista Fernando Scarpa no ofício da chapelaria e sua evolução através de diversas técnicas. O artista supera a falta de uma indústria no Brasil de aviamentos direcionada à confecção de chapéus, como havia no passado recente, até 1960, quando o chapéu deixou de ser uma peça indispensável no vestuário.
A mostra exibe modelos influenciados por diversas décadas. No processo de criação, Scarpa se apropriou de materiais destinados a outras finalidades, que foram criativamente se adequando e viabilizando a construção de outras peças, conceituadas por ele como “Fundição e Forração”.
“Na técnica da fundição, à base da construção do chapéu é a entretela ‘Escócia’. A técnica produz uma textura rígida e, ao mesmo tempo, leve para o uso. Molhada, ensaboada e acrescida de papel de seda, a entretela é aplicada em fôrmas de madeira. Materiais inusitados também são incorporados à técnica, inclusive produtos usados na construção civil. O resultado desse processo é a fundição de peças denominadas abas e copas que, unidas ou separadas, ornamentadas com laços, véus, flores e penas constroem a arquitetura do chapéu’, detalha Fernando.
“Inicialmente, a palha de buriti era fundida em fôrmas de madeira. Posteriormente, a técnica foi adaptada para a confecção de chapéus sociais com tecidos de algodão e seda estruturados com armação de entretela Escócia e papel de seda, que produzem textura rígida e leve para o uso”.
Atualmente, Scarpa desenvolve a técnica de modelagem de cones de palha de carnaúba que, revestidos com tecido, fazem parte do processo denominado por ele de ‘forração’, uma vez que se utiliza de uma base pré-existente. A diferença entre as duas técnicas – fundição e forração – se dá na matéria-prima de estruturação do chapéu e ambas fazem parte da exposição a ser apresentada ao público. O projeto ‘Da Fundição à Forração’ conta a trajetória experimental de um profissional da chapelaria através de quatro décadas – entre idas e vindas no ofício. A exposição apresenta peças confeccionadas em tempos diversos e no atual momento, quando o chapeleiro encontrou na palha de carnaúba viabilidade para construir peças delicadas sobre base de palha grossa, em contraste com a aparência leve do chapéu já pronto.
Reunidos, esses trabalhos formam um todo impactante, romântico e delicado para o observador e, ao mesmo tempo, trazem, para o artista e público, a dimensão da evolução e a diversidade criativa. A retrospectiva busca também satisfazer a curiosidade do observador sobre como se pode criar ou inventar um chapéu.
Sobre o artista
Fernando Scarpa é um artista autodidata que começou no ofício de chapéu em 1980, na Feira Hippie de Ipanema, conhecida internacionalmente como reduto dos melhores artesãos do Rio de Janeiro durante décadas. Ele se estabeleceu como empresário ao abrir a Oficina do Chapéu na mesma época. A empresa atendia a grandes lojas de moda como Mesbla, Casa Sloper, Chocolate, Lab Coque, O Bicho Comeu, dentre outras. O ateliê se dedicou também à confecção de chapéus para casamento, teatro e novelas da Rede Globo. O artista é formado em Psicologia e exerce a profissão em paralelo ao ofício de chapeleiro. ‘Da Fundição à Forração’ é sua primeira mostra.
Highligts do Museu da Moda
O Museu da Moda, localizado em Canela (RS), que conta a história do vestuário feminino através de 4 mil anos. Tudo surgiu de um desejo da estilista Milka Wolff de fazer uma reconstrução estética de diversas épocas, com destaque às réplicas de vestidos de rainhas e princesas. Quem não ama?
Logo na entrada, observamos o início da tecelagem com roupas de algodão sem costura alguma feitas à mão pelos egípcios. Depois vem o trabalho dos povos assírios e babilônicos; persas; gregos; romanos; Idade Média até chegar ao Iluminismo. Destaque para a Renascença, um período perfeccionista com a moda inspirada nos quadros de Rafael e Leonardo da Vinci no qual as mulheres usavam vestidos volumosos, com peso em média de 12 a 13 quilos. O vestido de Maria Antonieta levou três meses para ser confeccionado. Um passeio pela Era Napoleônica retrata o luxo da realeza da época. A seção Belle Époque, no final do século 19, acrescentou inúmeros detalhes à moda feminina, com muitos babados, plissados e passamanarias.
Segundo a estilista Milka Wolff, “depois de observar mundo afora, que não existia um museu da moda, um dia eu seria capaz de enfrentar um desafio deste porte: proporcionar este grande empreendimento ao mundo, um legado ao qual me dediquei com muito amor, para todos aqueles que amam o belo e se interessam pela cultura e pelo saber”. Considerado um marco no cenário mundial, o acervo contém centenas de peças criadas por profissionais com o objetivo de deixar as roupas o mais semelhante possível com as peças originais, distribuídas em vários ambientes com produção de luz, cenografia e sonoplastia: 20 cenários de momentos históricos dos anos 2.000 AC até o século 21. Além do vestuário, a cenografia inclui lustres, tapeçarias originais retratando o período.
Três outras exposições estão presentes no Museu da Moda, em Canela: Puppen Festival (coleção de bonecas de pano com looks assinados por grandes estilistas internacionais, como Gucci, Kenzo e Saint Laurent); Divas do Cinema com 13 modelos usados por atrizes que marcaram época, como Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor, Grace Kelly, Julia Roberts, Marilyn Monroe e até mesmo a nossa Carmen Miranda. A terceira mostra batizada Trajetória visa o caminho pessoal e profissional da estilista gaúcha Milka Wolff com a sua grife.
No MUM há ainda um setor exclusivo com 10 cópias fiéis dos vestidos que foram leiloados na presença de Lady Di em 1997, na Christie’s, em Nova York. A estilista Milka estava lá e recebeu um livro autografado pela princesa. Luxo!!!!!!
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