*por Vítor Antunes
O surgimento dos players de streaming trouxe a necessidade de entender o que as emissoras de TV ainda preservam em seus arquivos e o que está em risco. Esse novo panorama causou grande discussão, especialmente após o apagamento de algumas novelas da Globo. Em resposta, a emissora criou o projeto Fragmentos, que disponibiliza novelas incompletas no Globoplay, sua plataforma digital. Este projeto gerou ainda mais questionamentos sobre a preservação das produções de teledramaturgia brasileiras. Diante desse cenário, o site Heloisa Tolipan passou a produzir reportagens especiais sobre o acervo de telenovelas e programas de outras grandes emissoras do país. Na última semana, o SBT assegurou ao site que todo o seu arquivo foi preservado e digitalizado. Agora, foi a vez da Band fazer um levantamento sobre o acervo de novelas e anunciar recentemente a retomada de seu núcleo de novelas. Esses esforços de preservação são fundamentais para a memória da teledramaturgia brasileira, especialmente em uma época em que se busca cada vez mais tornar disponível ao público o vasto patrimônio cultural construído ao longo das décadas pelas emissoras.
Procurada oficialmente, a Band conformou que há, novelas incompletas, mas não revelou quais. A emissora também afirmou que não há previsão de que elas sejam disponibilizadas no Bandplay.
A Band está em processo de digitalização e recuperação de todo o seu acervo. Fontes ligadas ao Centro de Documentação (Cedoc) informaram que a novela atualmente em processo de digitalização é Meu Pé de Laranja Lima (1998). Durante a apuração desta reportagem, a equipe teve a oportunidade de ouvir a abertura da trama, que contava com o então jovem ator Rodrigo Lombardi, marcando seu primeiro grande papel na TV. Outra novela já digitalizada há cerca de três meses é Rosa Baiana (1981).
Fontes próximas ao Cedoc informaram que outra obra resgatada recentemente foi Dulcineia Vai à Guerra (1980), um spin-off de Cavalo Amarelo, protagonizado por Dercy Gonçalves (1907-2008). Em contrapartida, Cavalo Amarelo ainda aguarda seu processo de digitalização. Outra novela que passou por redigitalização foi o sucesso Os Imigrantes, exibida recentemente pela TV Brasil, onde teve grande audiência e repercussão positiva junto ao público.
Há cerca de três meses, a Band também finalizou a digitalização de Rosa Baiana (1981), uma obra que destaca a cultura baiana e explora temáticas populares da época. Segundo um funcionário do Arquivo/Documentação, o processo de digitalização é intensivo e acontece em três turnos, com “prioridade máxima”. Entre os projetos em andamento, estão a novela Cara a Cara – com Fernanda Montenegro e Débora Duarte e o programa de entrevistas homônimo de Marília Gabriela. A novela de Vicente Sesso, teve seu processo de digitalização iniciado, embora tenha sido interrompido e deva ser retomado em breve. Já o programa de entrevistas segue em digitalização. Entre as produções mais antigas preservadas, destacam-se os teleteatros estrelados por Cacilda Becker (1921-1969), incluindo um episódio histórico que marca a estreia de Fábio Jr. na televisão.
Ainda não há confirmação sobre a digitalização de Sabor de Mel e Ninho da Serpente, mas informações preliminares indicam que ambas as produções foram preservadas, embora não se tenha realizado uma conferência detalhada capítulo a capítulo. O arquivo da Band é vasto, e o material está distribuído entre dois prédios: uma parte encontra-se na sede da emissora, no Morumbi, e outra na Avenida Paulista. O transporte e a coordenação desse acervo requer grande esforço e organização, o que torna o processo ainda mais complexo. A demanda é alta e exige “uma grande mão de obra para digitalizar”, segundo o funcionário do Cedoc.
Quanto aos programas de Faustão e Goulart de Andrade (1933-2016), bem como o “Boa Noite Brasil” do Flávio Cavalcanti (1923-1986) apenas os episódios produzidos diretamente pela Band foram preservados, já que muitos desses programas eram realizados por produtoras independentes. Algumas produções da Band foram perdidas em definitivo devido a um incêndio, em 1969, enquanto outras, especialmente os programas diários, foram apagadas ou reaproveitadas devido ao alto custo das fitas videotape. Assim como ocorreu com a Globo, a reutilização de videotapes por razões econômicas foi uma prática comum na época, levando à perda de muitas obras históricas.
Este esforço de recuperação e digitalização realizado pela Band reflete o reconhecimento crescente do valor cultural e histórico do seu acervo e o desejo de preservar a memória da teledramaturgia brasileira, para que obras fundamentais possam ser revisadas e apreciadas pelas novas gerações.
Acompanhe a série: Pesquisador revela lista de novelas do Projeto Fragmentos e programas, como de Jô e Xuxa, perdidos do acervo da Globo
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