Se “Babilônia”, folhetim de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, enfrentou problemas com setores conversadores da sociedade, “A regra do jogo”, de João Emanuel Carneiro, despertou a ira da Anistia Internacional, ONG que realiza ações e campanhas para que os direitos humanos internacionalmente reconhecidos sejam respeitados, inclusive em presídios. E foi em uma prisão fictícia que o personagem Romero Romulo (Alexandre Nero) entrou no capítulo do último dia 21 para entregar uma bomba. Para não ser revistado, o criminoso usou a justificativa de que era um advogado à serviço da Anistia, que não carecia de tantos cuidados padrões e que ele deveria ser liberado de imediatado.
Por meio de nota pública, a Anistia Internacional disse que o nome da ONG foi usado “de forma indevida” no folhetim e que essa “representação equivocada do trabalho de defensores de direitos humanos tem contribuído para criminalizar o mesmo”. “Nos causou surpresa e indignação a maneira irresponsável que a TV Globo usou o nome da Anistia Internacional, organização presente em mais de 150 países e que há 54 anos luta pelos direitos humanos, para reforçar um estereótipo equivocado. (…) A ficção, quando se propõe a retratar a realidade, precisa ser mais cuidadosa e capaz de avaliar as consequências nesse momento do país de associar levianamente o tema dos direitos humanos a iniciativas criminosas”, disseram.
Procurada, a Rede Globo se limitou a dizer que”as novelas são obras de ficção sem compromisso com a realidade”, como registram ao final de cada capítulo. “Ao recriar livremente situações que podem ocorrer na vida real, a dramaturgia busca apenas tecer o pano de fundo para suas histórias”, enviaram.
Leia abaixo o comunicado assinado pela Anistia Internacional na íntegra:
“A Anistia Internacional manifesta total repúdio ao uso do nome da organização de maneira indevida no capítulo da novela A regra do jogo exibido nesta segunda-feira (21). Ao entrar em um presídio de segurança máxima, o protagonista da novela, Romero Romulo, interpretado por Alexandre Nero, se apresenta como advogado de direitos humanos que estaria a serviço da Anistia Internacional. O uso indevido do nome da Anistia Internacional e a representação equivocada do trabalho de defensores de direitos humanos na novela tem sido explorado de forma irresponsável e contribuído para criminalizar o mesmo.
A Anistia Internacional é uma organização respeitada, com 54 anos de história, que conta com mais de 7 milhões de apoiadores que se mobilizam em defesa dos direitos humanos para todos e todas. Vencedora do Premio Nobel da Paz (1977) e presente em mais de 150 países, tem 95% dos seus custos financiados por doações individuais, o que permite total independencia de governos, partidos, interesses econômicos, políticos e religiosos.
No início de agosto desse ano, a Anistia Internacional publicou o relatório ‘Você matou meu filho’: Homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro”, denunciando casos de execuções extrajudiciais na favela de Acari e outras comunidades fluminenses. Desde então, vem pressionando as autoridades estaduais a adotarem medidas urgentes para garantir investigação dos casos e justiça para as famílias das vítimas, além de medidas estruturais para adequar o uso de força letal pela polícia.
No Brasil, a atuação da organização tem sido pautada pelo debate amplo sobre os altos índices de homicídios entre os jovens negros moradores de periferia, que respondem por 77% dos cerca de 30 mil jovens assassinados todos os anos no país.
Embora se trate de uma obra de ficção, a novela Regras do Jogo, ao usar o nome da Anistia Internacional – uma organização referência e atuante no país, presta um desserviço à consolidação de uma cultura de direitos humanos na sociedade brasileira.
Nos causou surpresa e indignação a maneira irresponsável que a TV Globo usou o nome da Anistia Internacional, organização presente em mais de 150 países e que há 54 anos luta pelos direitos humanos, para reforçar um estereótipo equivocado sobre o trabalho dos defensores de direitos humanos no Brasil. A Anistia Internacional representa mais de 7 milhões de apoiadores que se mobilizam por mudanças e combatem violações de direitos em todo o mundo. A ficção, quando se propõe a retratar a realidade, precisa ser mais cuidadosa e capaz de avaliar as consequências nesse momento do país de associar levianamente o tema dos direitos humanos a iniciativas criminosas.”
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