A pergunta é: o que será do amanhã depois deste turbulento 2020 que ainda não chegou ao fim?
“Tudo vai dar certo no futuro’, diziam por aí, mas pela primeira vez em nossa vida estamos nos deparando com uma possibilidade tangível de cancelamento do futuro”. Com esta afirmação, André Carvalhal inicia seu quarto livro, “Como salvar o futuro” (Editora Paralela). Se o presente é a única certeza que temos, como podemos dar início a mudanças sistêmicas, que começam nas pessoas, para que as estruturas sejam transformadas? Com capítulos que abordam faces dos desafios que estão presentes em nossas vidas, o livro é essencial para quem, assim como Carvalhal, tem esperança de salvar o futuro – mas começando agora.
“Há algum tempo venho sentido que estamos chegando ao nosso limite. Do ponto de vista ambiental, recebemos notícias dos resultados das mudanças climáticas e diversos crimes ambientais – como as queimadas da Amazônia e do Pantanal – que contribuem para que o futuro seja mais difícil. Ao que tudo indica, a própria pandemia é um resultado da nossa má interação com a natureza. No âmbito social, cultural e econômico, vemos um desequilíbrio cada vez maior entre as pessoas mais ricas e mais pobres do mundo. Se continuarmos assim, poderemos não só contribuir com o surgimento de novas pandemias, como também com a extinção da nossa espécie”, ressalta o escritor, best-seller desde sua primeira publicação e finalista do Prêmio Jabuti 2019 por “Viva o fim: Almanaque de um novo mundo”.
O escritor, consultor e especialista em design para sustentabilidade ratifica no livro seu lado questionador, alinhado à necessidade de uma mudança planetária. “O livro traz exemplos de hábitos e ações que se tornaram comuns nas nossas vidas e que comprometem o nosso futuro, como a exploração do meio ambiente e a opressão de indivíduos e grupos minorizados, como pessoas negras, mulheres, indígenas e população LGBTQIA+. Ele é um alerta, mas também um convite para reflexão e revisão desses hábitos”, propõe o carioca de 39 anos.
Escrito antes, mas editado e produzido durante o começo da pandemia que evidenciou e agravou as crises que ameaçam nosso futuro, o livro foi desenvolvido respeitando a necessidade de distanciamento social e de reprogramação do mundo. “Todos os capítulos já estavam lá, e muitas coisas aconteceram, estão acontecendo, que se relacionam com todos eles. Também por isso optamos por fazê-lo de forma remota e digital, somente em e-book. Assim contribuímos para reduzir o número de pessoas circulando e a obrigação de ir às lojas para comprar. Mas faço, principalmente, com a intenção de experimentar um novo caminho”.
Entendendo a língua e a linguagem como potenciais demarcadores de gênero, com a publicação Carvalhal se torna um dos pioneiros na escrita com a linguagem neutra e inclusiva, visando ampliar a identificação de todes com o seu texto. “Desde meu primeiro livro surgiram alternativas que visam desconstruir generalizações sexistas, que tendem ao masculino, sobrepondo às identidades femininas e não binárias (pessoas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino). Neste livro estou usando outras formas neutras, como o uso do ‘e’ no final de algumas palavras – como ‘todes, algumes, filósofes’. Vale ressaltar que essa não é uma norma gramatical, mas uma escolha simbólica, na intenção de tornar a linguagem mais neutra e inclusiva para todes”, reflete.
Passando por temas como sustentabilidade, novas lógicas de educação e trabalho, veganismo, autoconhecimento e consumo, o livro demarca no André de hoje certa distância do profissional expoente e referencial da moda por mais de 10 anos. “Faço consultoria para marcas de diversos segmentos nas áreas de direção criativa, comunicação e sustentabilidade. Mas me sinto cada vez mais desconectado da moda. Não é mais minha principal área de atuação, mas sinto que ainda posso contribuir bastante no que diz respeito à sustentabilidade na moda”.
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