É teatro encerrando as atividades culturais para virar shopping ou loja ou igreja, a farra das meias entradas fazendo com que as contas não se fechem, patrocinadores que se utilizam da isenção fiscal para privilegiar sempre a mesma patota e, agora, um dos ícones do teatro carioca – e brasileiro -, a Escola Martins Penna passando por um verdadeiro calvário para se manter de pé. É, a situação do teatro no Brasil não é para os fracos. Para quem não sabe, trata-se da escola de teatro mais antiga da América Latina – com 107 anos de existência – , gratuita desde a origem, e por onde já passaram nomes como os de Procópio Ferreira, Tereza Rachel, Joana Fomm, Denise Fraga e Cláudia Jimenez, entre muitos outros.
“Mais uma vez, a Martins enfrenta a possibilidade de paralisação. O progressivo sucateamento proporcionado por anos de abandono recebeu um golpe decisivo no atual contexto de crise em que se encontra a educação pública do Rio de Janeiro. No iníco do semestre atual, a Martins Penna se despediu de 5 professores e 4 funcionários. Algumas disciplinas estão interrompidas desde então, mas nos reunimos em uma assembléia de professores, funcionários e estudantes, optando por manter a escola em funcionamento apesar disso. No dia 28 de maio, entretanto, perderemos mais 15 professores e 9 funcionários, o que causará um desfalque irremediável, e a consequente paralisação das aulas”, enumera o texto do Movimento Martins Sem Pena, comandado pelo Grêmio Estudantil Renato Viana, que está comandando uma ocupação da escola para chamar a atenção da sociedade e do governo, fazer barulho nas redes sociais e fora dela e pensar soluções que permitam com que a escola funcione com um mínimo de dignidade.
“Estamos também sem telefone e internet, a escola está incomunicável e não há recebimento de verba a contar de outubro do ano passado. Nossas estruturas são antigas e necessitam reformas para garantir o mínimo que é a segurança dos funcionários, professores e estudantes que utilizam esses espaços todos os dias. O orçamento da escola é absurdamente ineficiente para o atendimento das necessidades mais básicas, o que dirá para aperfeiçoamentos. A nossa escola de teatro está parada no tempo”, contou Gabriel Aquino, Secretário Geral do Grêmio, e quem nos respondeu a partir do contato com a página Martins Sem Pena.
No perfil online, que já reúne mais de 2 mil pessoas, é possível perceber que a classe artística está se movimentando e fazendo a voz ecoar. Domingos Montagner, por exemplo, é um deles.”Não podemos nos omitir diante de mais um exemplo de descaso do estado com as necessidades da sociedade. Apoio Escola Martins Pena”, declarou o ator, que tem a companhia de nomes como Michel Berchvocitch, Erom Cordeiro, Victor Garcia Peralta, Isabel Lobo, Rodrigo Fagundes e Paulo Verlings, entre outros, que também compraram a briga e estão fazendo sua parte e apoiando o movimento que promete não parar enquanto a situação não for resolvida.
A turma, aliás, vai promover nesta quinta-feira, dia 30 de abril, o Ato Artístico Martins Resiste, a partir das 17 horas, na própria escola, e que pretende ser uma grande roda de conversas para ecoar os anseios, dificuldades e para que se procure pensar uma solução conjunta. “Interrompemos as aulas para lutar. Todos os dias a Martins Penna está cheia, mesmo sem chamada. Estão todos pensando e fazendo para que a escola não tenha que parar no dia 28 de maio. E esse é o objetivo do ato. Queremos convocar a mídia e os representantes do legislativo para conhecerem nossa realidade. Vamos expor nossa situação de forma lúdica e pedir por uma audiência pública específica para a escola”, explicou Gabriel, antes de continuar: “Já temos outra assembléia marcada para a segunda-feira (04/05), onde avaliaremos a primeira semana de ocupação política e avaliaremos os próximos passos. Estamos sem pena, sem estrutura, sem equipamentos, sem professores… Mas estamos sem medo também, a escola está poderosa, o corpo estudantil está unido e decidido a vencer esse momento obscuro”.
#SomosTodosMartinsPenna
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