*Por Rafah Moura
A ‘Nave’, de Xênia França chispou, cruzou a órbita para um novo mar, pediu perdão a mãe que esse planeta é gente demais… E, agora, ‘Em Nome da Estrela’, ela mergulha em um universo de sensibilidade, otimismo e amor. Como uma boa pisciana é sonhadora e possui uma conexão muito forte com o universo espiritual. A cantora segue o seu sexto sentido, utilizando-o como uma bússola pessoal que funciona como um presente especial do universo. “Estou fazendo o que mais amo: música. Esse novo disco é uma tentativa de achar uma cura eterna, para que consigamos andar nesse país livremente sem achar que a tampa está fora da panela. A pandemia foi ruim, eu sinto que andei pelo vale da sombra da morte, mas sobrevivi”, observa.
O segundo disco que acaba de chegar às plataformas digitais tem produção musical de Pipo Pegoraro, Lourenço Rebetez e da própria cantora. Fotos de Gleeson Paulino, styling de Zaza Pecego e direção de arte de Bruna Bismara. E vem com super expectativa, afinal, o primeiro primeiro álbum foi indicada ao Grammy Latino, 2018, nas categorias Melhor Álbum Pop Contemporâneo e Melhor Canção em Língua Portuguesa, com ‘Pra Que Me Chamas?’ e também para o Women Music Award 2018. Ah, PQMC ainda foi indicado ao Berlin Music Video Awards, na categoria de melhor clipe.
“Esse disco significa amadurecimento. Estou me sentindo bem mais madura. Sempre fui conectada com o meu som e cada vez mais tenho essa certeza de que esse é o caminho, afinal a linguagem desse trabalho é algo muito especial e esse time foi escolhido a dedo, porque cada um que o integrou teve características únicas para contribuir. E é dessa forma que eu penso música. E Renascer é o primeiro single desse novo disco e que veio do repertório novo, em um momento bem crítico da pandemia, em que estava apreensiva e sofrendo pelo todo e individualmente. E, emocionalmente, eu consegui colapsar um disco incrível. Renascer é a tentativa de tentar explicar o inexplicável”.
“O primeiro disco é uma grande glória para mim e esse segundo é um processo, uma vitória de sair dessa experiência crítica, triste como uma grande fênix”, frisa a cantora. Ela retoma sua rotina alimentada por muitos simbolismos e percepções apuradas. ‘Em Nome da Estrela‘ revela-se como um sofisticado estudo de caso íntimo que nasce do encanto entre a escuridão e o som na confluência do brilho interior de uma negra mulher envolta em seus processos de auto lapidação. “Nunca foi tão importante falar de amor, bem estar, principalmente sendo uma pessoa preta. Mais ainda em uma sociedade que só nos olha com estigmas ou estereótipos, e eu pude encontrar uma paz. Estou mais leve, mais a vontade com as pessoas e comigo mesma. Esse disco é para me lembrar do que eu sou maior do que eu acho que sou, me expressar de forma sempre verdadeira e poder transmitir para as pessoas que se identificam comigo esse sentimento. E para que todos se lembrem de encontrar a felicidade no meio do caos”, agradece.
Delicada, a mulher pisciana é otimista, ela gosta de compartilhar todos os momentos de sua vida com aqueles que ama, e procura sempre garantir que a felicidade esteja presente. “Estamos precisando muito dessa energia para individualmente estarmos potentes e na hora em que nos juntarmos formar uma egrégora de luz. Um sorriso negro, um abraço negro, em 2022, é como um grande big bang, uma explosão que aponta para mudanças. Hoje em dia eu só tenho esse comprometimento de jogar amor nas pessoas. Nunca foi tão importante falar de amor, reverberar amor. E como cantou Elis Regina: ‘Já que tá aí/ Pela metade, mas tá/ Melhor cuidar/ Pra peteca não cair/ Pra não deixar escapulir”, frisa.
A artista acha que essa fala pode ser clichê e até romantizada, mas que o amor é a energia máxima do universo, que criou todos nós, tudo o que vemos, e o que não vemos. “É como uma força imediata. E nunca foi tão urgente que pessoas negras estejam se sentindo bem, focadas na própria potência. A gente veio nesse mundo pra brilhar pra caramba, não pra morrer de fome, parafraseando Caetano”, pontua. E completa. “Sorrir pode parece algo tão pequeno, mas não é. O amor é uma energia vital, que faz todos nos unirmos, ficarmos colados, sabe? O planeta Terra está girando a 1.600km/h e nós não estamos nem sentindo”.
O disco, com nove faixas, é uma declaração de confiança na força essencial que carregamos, a negrura intuitiva que nos diz que renascer é preciso. E nessa vereda se faz imperioso o reatar dos elos que nos conectam com a chave mestra da jornada de nossa existência, o amor, o segredo de tudo, o Devir. Como uma ode, esta obra é composta por harmonias sofisticadas e melodias que despertam imaginações. Por entre fórmulas que não só extraem a obscuridade dos instrumentos mas que também transmutam de forma inesperada o delinear de múltiplas atmosferas, que possui portais dimensionais abertos que intuem o suspender do agora e geram alterações sônicas da consciência a cada canção desbravada.
Xênia assina seis das nove composições do disco afirmando sua verve como compositora sobre suas frutificações fluindo livremente e manifestando aprimoramento por meio de cantos entoados como mantras de raro rumor colorido moldados feito o barro primordial. Com Lucas Cirillo parceiro também em outras canções – a cantora descreve o desafio existente na união entre as dimensões feminina e masculina, conjurando o princípio de gênero das leis universais sob a grandiosa regência de Arthur Verocai. E que ainda faz uma homenagem ao grande maestro Letieres Leite (1959 – 2021) com a imponência da linguagem percussiva baiana ressoando a miríade da áurea trovejante sob camadas de pulsações e chamamentos litúrgicos negros do trio Kainã do Jêje, Alysson Bruno e Ricardo Braga assentando o axé do disco.
No fim dessa deliciosa conversa, comemoramos a que a cantora foi capa da edição de maio da revista Glamour. “É engraçado que eu me mudei para São Paulo para trabalhar como modelo e não deu certo, porque não era o tempo ainda. Os orixás sabem muito do tempo do universo. E esse início de 2022 foi muito crucial, porque eu já comecei a ser resgatada pela moda (risos). Moda e música são artes que andam muito juntas. A moda cria essa moldura, a música é a entidade, é o veículo, é a frequência que nos conduz. E a moda ela vem embelezar algo que já é muito bonito. Eu gosto de me reinventar, brincar de se novas pessoas”, agradece.
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