Mocidade aposta no legado de Renato Lage para apagar no carnaval 25 o desastre da 10ª colocação com exaltação ao caju


Renato e Márcia Lage são tarecos, artistas por essência, em ebulição constante, que independem da avalização da corrente Nutella da lacração identitária. Eles querem a participação da comunidade de Padre Miguel, anseiam pela promoção da alegria popular, lá na Avenida, intentam sensibilizar os jurados com o trabalho brilhante que sempre lhes dignificou e consagrou. Não há um Independente que não clame por estrelas fulgurantes de neon verde nas alegorias, fumaça artificial que traduza um ambiente de mistério e magia, luzes que resgatem o brilho da Mocidade

Mocidade aposta no legado de Renato Lage para apagar no carnaval 25 o desastre da 10ª colocação com exaltação ao caju

*por Vagner Fernandes

Se há um lugar onde os fracos não têm vez é no universo das escolas de samba. Repleto de contradições, vaidades e disputa de poder, os bastidores do Carnaval carioca, aquele considerado o maior espetáculo da Terra, é um tabuleiro de WAR perpassado até por uma certa alegria. Quem vive sabe e quem não vive foge só de ouvir alguns relatos de tramas costuradas em segredo por corações levianos. Recomenda-se o consumo de litros de chá de boldo e doses de bicarbonato de sódio para os quem têm fígado e estômago sensíveis. Renato Lage, 75 anos, um dos maiores carnavalescos deste Brasil, é veterano de guerra nas trincheiras da folia no Rio de Janeiro. Dispensa apresentações porque em seu currículo estão seis campeonatos, quatro desses no Grupo Especial. Três foram pela Mocidade Independente de Padre Miguel, agremiação com a qual ganhou projeção por desfiles antológicos na década de 1990. Por isso, foi batizado “Mago do Carnaval carioca”.

A verde e branca de Padre Miguel chamou Renato a regressar à escola para desenvolver ao lado da mulher, Márcia Lage, o enredo de 2025 da Mocidade. Os dois propuseram “Voltando para o futuro”, um tema que dominam muitíssimo bem e que foge completamente dos enredos identitários, afrocentrados, que são apresentados com recorrência, atualmente, no Sambódromo. Renato e Márcia são tarecos, artistas por essência, em ebulição constante, que independem da avalização da corrente Nutella da lacração identitária. Eles querem a participação da comunidade de Padre Miguel, anseiam pela promoção da alegria popular, lá na Avenida, intentam sensibilizar os jurados com o trabalho brilhante que sempre lhes dignificou e consagrou. Não há um Independente que não clame por estrelas fulgurantes de neon verde nas alegorias, fumaça artificial que traduza um ambiente de mistério e magia, luzes que resgatem o brilho da Mocidade solar e arrebatadora de Fernando Pinto e do próprio Renato.

Renato Lage de volta à Mocidade Independente de Padre Miguel

O mago dos magos Renato Lage (Foto: Divulgação)

O hino de 2025 foi escolhido no último sábado. É uma obra arrepiante encabeçada por Paulo César Feital e Cláudio Russo. Feital, aliás, também foi campeão neste domingo na Viradouro com outra criação arrebatadora. Mas são produções poéticas com perspectivas diferentes. A Viradouro trata de descortinar um personagem do passado associado às religiões de matriz africana. A Mocidade salta novamente para o futuro amparada por uma discussão que envolve as complexidades e paradoxos da evolução, que versam sobre o teocentrismo, o antropocentrismo, a ciência, a fé, o medievo, o iluminista. Feital e seus parceiros foram tão felizes em poesia quanto em honradez ao reverenciar Renato Lage no refrão principal “O céu vai clarear, iluminar a zona Oeste da cidade. E Deus vai desfilar pra ver o MAGO recriar a Mocidade”. Em 75 anos de vida, o carnavalesco dedicou 45 ao Carnaval. Ele, que dizem se alinhar à extrema-direita, mas não o é, merecia ser aclamado na letra de uma obra que marca o seu retorno à escola que o consagrou. O samba já pode ser considerado um dos melhores da safra de 2025. A Mocidade vai para a briga honrando o legado de Renato Lage.