Simone: “Este ano, perdi uma irmã que infartou. As lives foram gols para a minha alma”


A cantora completa 71 anos no dia 25 de dezembro e anuncia live de aniversário. Considerada uma das maiores intérpretes brasileiras, ela fala sobre maturidade, pandemia e a necessidade da adaptação com a tecnologia para continuar perto do seu público. Sempre discreta e mais reclusa, ela vem se lançando às redes na aventura das lives: “Eu sempre digo que a música salva, o amor salva. Acredito que todo artista tem que ir aonde o povo está”. O meu público sempre esteve comigo nos shows. Agora sou eu que vou até a todos. Eu queria, com isso, dizer: ‘Estamos juntos nesta guerra contra o coronavírus’. Estou me adaptando ao momento, aprendendo. Sobre planos, estou vivendo o aqui e agora. Quem poderia imaginar esta loucura?”

*Por Brunna Condini

Entra ano e sai ano e o hit ‘Então é Natal’, de Simone, nos lembra da época de celebração, encerramento e início de um novo ciclo. A música traz uma certa alegria nostálgica de uma época do ano em que o amor e a esperança costumam reinar. Para a cantora, que completa 71 anos no dia 25 de dezembro, durante a quarentena, ela realizou 34 lives semanais, colocando a voz em mais de 450 músicas até agora, sempre aos domingos, no Instagram, para a alegria dos fãs e seguidores.

“A pandemia tem sido difícil, tive momentos de perda. Perdi uma irmã, Rosinha (de infarto, após um mal súbito). Tive momentos de sofrimento, mudança, ansiedade, medo. Mas por outro lado, me vejo criando, trabalhando muito, revisitando meu repertório, aprendendo. Eu sempre digo que a música salva, o amor salva, estas lives, fazer um show por semana, foram gols para minha alma”, conta. “Eu não me sinto falando ou cantando para uma maquininha. Não sei muito bem explicar, mas as lives acontecem e nestes momentos estou com meu público, com meus amigos e família e pedindo que cuidem de si, pois cuidando de nós, estamos cuidando do todo”.

“Continuar na ativa é o maior desafio da carreira. Fui muito feliz e ainda sou, estas lives foram gols para minha alma” (Foto: Rodrigo Duarte)

“Continuar na ativa é o maior desafio da carreira. Fui muito feliz e ainda sou, estas lives foram gols para minha alma” (Foto: Rodrigo Marques)

Em entrevista exclusiva ao site, Simone fala desta época do ano, da maturidade e das lives que iluminaram o período de isolamento social, fazendo-a se reinventar após 47 anos de trajetória profissional. A música ‘Então é Natal’ se transformou em um hino. Você sempre soube que seria assim ou ainda é uma surpresa? “Ainda é uma surpresa. Há 25 anos compartilho esta canção. Eu nasci no dia do Natal, a minha mãe contava que ouvia o sino da igreja bater enquanto eu nascia. Dia 25 farei uma live”, anuncia. E fala da sua relação com a data: “Eu cresci entendendo que não poderia competir com o nascimento de Jesus e ganhando apenas um presente, que diziam valer por 2 (risos). Sempre gostei de comemorar meu aniversário com os amigos em casa. Natal para mim é amor, família, união, paz, harmonia, humanidade, empatia, solidariedade”.

Com a música sendo um dos principais alentos para entreter neste período, a artista começou a realizar as transmissões de shows online em abril, provando que ela é uma Cigarra – como é conhecida por conta da canção que Milton Nascimento e Ronaldo Bastos fizeram para ela em 1978 – que canta faça chuva ou faça sol. Simone precisou estabelecer alguma intimidade com a tecnologia para continuar em contato com seu público e não se intimidou, experimentou e foi em frente aprimorando as apresentações com a exigência de excelência profissional que lhe é característica.

“Tive momentos de sofrimento, mudança, ansiedade, medo. Mas por outro lado, me vejo criando, trabalhando muito, revisitando meu repertório, aprendendo” (Foto: Rodrigo Marques)

Amadurecendo e vivendo

Em 2020, Simone Bittencourt de Oliveira viu sua vida, como a de tantos outros brasileiros, pedir pausa e ressignificado. No entanto, ela fala com serenidade da readequação da rotina. “Eu acredito nisso: “Todo artista tem que ir aonde o povo está”. Foi assim, desde que a pandemia foi ‘decretada’. Eu me lembro que fiz um vídeo incentivando o uso da máscara e pedi também para quem pudesse, que ficasse em casa. Também assisti uma live com o Martinho da Vila. Foi uma inspiração ver ele com a família, mostrando otimismo. Somado ao apoio de amigos e da minha equipe, decidi fazer a minha primeira live, feita com meu iPad em cima de uma maca de massagem (risos) e a transmissão aconteceu com uma caixinha de som, com algumas bases pré-gravadas e o meu violão”, lembra Simone.

“O importante foi estar junto com meu público que sempre prestigiou presencialmente meus shows. Agora sou eu que vou até cada uma das pessoas. Eu queria, com isso, dizer: “Estamos juntos nesta guerra contra o vírus. Eu não me vejo me entregando às tecnologias, apenas me adaptando ao momento, aprendendo. Sobre planos, estou vivendo o aqui e agora, a minha próxima live/show semanal. Quem poderia imaginar esta loucura?”.

“Estamos juntos nesta guerra contra o vírus. Eu não me vejo me entregando às tecnologias, apenas me adaptando ao momento, aprendendo” (Foto: Rodrigo Marques)

Perto de completar mais um ano de vida, a baiana que mora no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, celebra os ganhos da maturidade. E ostentando a bela cabeleira de sempre, agora grisalha, ela fala sobre vaidade. “Acho lindo cabelo branco, encaro de modo natural. Eu aceito a idade e tudo que vem junto com ela”, afirma. No fim de semana, Caetano Veloso durante live falou: “Simone está lindíssima”

Quais são seus principais cuidados físicos e mentais nos tempos de pandemia? “Sou disciplinada com a alimentação, procuro comer tudo bem natural, feito na hora e me dedico a fazer minhas refeições. Gosto de tudo simples, nada de alho e amo vinho. Voltei a fazer diariamente alongamento, abdominal, caminhada. Gosto de meditar, deveria fazer mais. Trabalhei e trabalho sem parar. Até agora são 34 lives. Isso é um show novo por semana”.

Você está feliz, consegue ser otimista com o futuro? “Sim, estou feliz. Com 70 anos, eu tenho muito mais passado do que futuro, por isso vivo o agora, ainda mais por conta do que estamos passando. As reflexões são diárias, mas tem que brotar algo bom disso tudo, as coisas boas também têm o poder de se espalhar”.

“Estou feliz. Com 70 anos, eu tenho muito mais passado do que futuro, por isso vivo o agora, ainda mais por conta do que estamos passando” (Foto: Rodrigo Marques)