Rock in Rio: ‘presidente do pop’, Justin Timberlake renova mandato por tempo indeterminado após show arrasador


Maior nome do gênero na atualidade, cantor exibiu sua excelência (e seus passos de dança) com performance sem concessões em nome do que sabe fazer melhor: música

Por Pedro Willmersdorf

Doze anos depois, lá estava ele. Novamente sobre o palco principal do Rock in Rio, Justin Timberlake voltou ao festival com um status totalmente diferente daquele que exibia à época que integrava o ‘N Sync. Justin não é mais o líder de uma banda teen vista com olhos tortos por boa parte da crítica. Hoje, ele é o ‘presidente do pop’. Único nome masculino capaz de não somente nos remeter ao rei Michael Jackson, como também provar que a música pop pode, com certeza, ser tratada com respeito em sua construção. A discografia enxuta de Timberlake (apenas três álbuns em 11 anos) e seu discurso sempre carinhoso sobre a relação que estabelece com suas composições provam que ele é bem mais que um rostinho bonito.

Aliado a uma densa banda (os Tennessee Kids) com a verve soul que o acompanha desde o início de sua carreira solo, Justin revisitou sua trajetória de forma direta, sem firulas, vídeos no telão para encher linguiça ou muito papo com o público. Sua função sobre o palco é simples: entreter a todos com sua música. De altíssima qualidade, diga-se de passagem. Afinal de contas, quem mais consegue, atualmente, unir o pop comercial à black music de forma tão sofisticada e comercial ao mesmo tempo? Lembrou de alguém? Pois é, depois dele, apenas Justin.

Ao lado de hits, como ‘Like I Love You’, ‘My Love’, ‘Cry me a River’, ‘Summer Love’, ‘Señorita’, ‘Love Stoned’ e ‘Rock Your Body’, Timberlake apresentou algumas das faixas de seu mais recente álbum (o incrível ‘The 20/20 Experience’, que ganhará uma sequência daqui a alguns dias). Análise curiosa: single carro-chefe deste trabalho, ‘Suit & Tie’ não funcionou tão bem ao vivo quanto ‘Mirrors’, faixa também presente no disco. Ambas foram cantadas já no bis, antes do encerramento histórico com ‘Sexyback’.

Uma performance simplesmente irretocável, que trouxe ao Rock in Rio o grande nome do pop em 2013 (e do século 21, até o momento em que esta crítica está sendo escrita). Artista completo, Justin conseguiu este ano renovar seu mandato como presidente do gênero que observa do alto de sua excelência. E generoso como um soberano de respeito que é, não esquece de sua formação. Uma prova? O cover de ‘Shake Your Body’, canção de Michael Jackson de 1978, gravada pelo Jackson Five. Ao pedir que o público levantasse as mãos como uma saudação ao rei do pop, o presidente valorizou seu cargo. Pois um rei nunca perde a majestade, já o presidente precisa mostrar serviço. E o de Justin, convenhamos, vem sendo mais do que bem feito.

Fotos: Vinícius Pereira

O terceiro dia de Rock in Rio

No Palco Sunset, a apresentação da princesinha neozelandesa Kimbra surpreendeu com a participação pertinente e eletrizante do Olodum. Performática, a cantora demonstrou uma empatia grande com o público ao disparar frases inteiras em português. O cover de ‘They don’t care about us’, de Michael Jackson, em que foi cercada pelos imensos tambores do grupo baiano, foi de arrepiar.

No Palco Mundo, o Jota Quest abriu os trabalhos com a usual eficiência que sempre apresenta, reunindo seus principais hits e exibindo o pop feijão-com-arroz que consagrou a banda. Rolou, no entanto, um anúncio interessante: a volta às raízes de black music que marcaram a origem da banda, em seu novo CD. No fim, participação de Lulu Santos para cantar sua ‘Tempos Modernos’, gravada pelos mineiros como tema de abertura da novela ‘Malhação’.

Em seguida, a britânica Jessie J fez uma apresentação ‘inteligente’, mesclando seus poucos hits de sucesso com covers bem feitos de músicas dos anos 80. Destaque para a banda eficiente que acompanhou o show, sendo base para a voz potente da cantora, que não correu riscos diante de um público extenso.

Como uma prévia do soul-pop que viria com Justin Timberlake, o piano, a voz fascinante e a performance elegante de Alicia Keys deram um tom mais delicado à noite. A performance de seus principais hits na reta final do show elevou a temperatura a nível suficiente para ser mantida pelo ‘presidente do pop’ logo na sequência.

Fotos: Vinícius Pereira