*Por Rafael Moura
Afirmando seu compromisso de grandes encontros, o Palco Sunset do Rock In Rio, em seu terceiro dia (29) trouxe uma mistura mais do que especial. Teve muito de tudo: energia, amor, frases motivadoras, injeção de autoestima e até palavras de força. Os holofotes se acenderam para a banda Plutão Já foi Planeta com Mahmundi, seguidas de Elza Soares que emprestou seu brilho para Jéssica Ellen, Rafael Mike, Kell Smith, As Bahias e a Cozinha Mineira e Edgard. A diva Iza convidou a rainha Alcione e fechou com a passagem de Jessi J.
A primeira mistura foi o folk-indie da banda Plutão Já Foi Planeta com o pop de astral oitentista de Mahmundi (Marcela Vale), que levaram letras e melodias bonitas e inspiradoras. A banda formada em Natal, em 2013, por Natália Noronha, Gustavo Arruda, Sapulha Campos e Renato Lellis (Bateria) participou da terceira temporada do SuperStar, da Rede Globo e foi vice-campeã. Essa apresentação, que contou com a presença especial de Carol Navarro, da Supercombo no baixo, liquidificou hits dos discos, ‘Daqui Pra Lá’, 2014 e ‘A Última Palavra Feche a Porta’, 2017. Os primeiros acordes de ‘O Ficar e ir da gente’ e ‘Pra gente ser feliz’, transformou a plateia em um enorme o coro. Depois vieram ‘Lua em Rita Lee’ canção que fora produzida pela cantora Mahmundi, que já introduziu os sucessos ‘Hit’, ‘Calor do amor’ e ‘Qual é a sua’. “Esse show foi muito bom, fico muito feliz pela confiança e pela história do Rock In Rio e o que ele representa para muita gente. Minha mãe veio em 1985, e eu estou aqui 30 anos depois cantando. É muito gratificante”, conta Marcela.
‘Anunciação’, de Alceu Valença foi o ápice desse show que foi só amor. O encerramento se deu com as faixas ‘Mesa 16’, ‘Viagem Perdida’ e ‘Alto Mar’ um repertório que botou todo mundo para dançar, acionando um clima tropical nessa primavera fria carioca. O telão mostrava dados sobre os casos de assassinatos por bala perdida aqui no Rio e fez uma homenagem a Ágatha Felix. #AgathaPresente
O sol se fez presente. Era Elza Soares que surgiu em um palco todo amarelo iluminando a plateia com muito amor, cultura e fé. Seu recente álbum ‘Planeta Fome’ foi lançado oficialmente, com críticas ao genocídio do corpo negro, força feminina, racismo, homofobia e a fome pela vida. A estrela emprestou seu brilho para um time de primeira, como uma madrinha ou uma rainha que ia abençoando todos os convidados, que não foram poucos. A apresentação começou com ‘Libertação’, ‘Menino/Brasis’ e uma versão de ‘Comportamento geral’, de Gonzaguinha, cheia de ritmos eletrônicos, mostrando a veia sempre inovadora de Elza.
Com Jéssica Ellen cantou ‘A Carne’, um hino pela luta das vidas negras. Logo em seguida, foi a vez de Rafael Mike cantar em ‘Não tá mais de graça’, uma atualização da música anterior. Com todas as reverências, os beats eletrônicos daquela que ousamos dizer ser uma das músicas mais poderosas de sua carreira, ‘Maria da Vila Matilde’, acompanhada por Kell Smith, virou um manifesto pela luta das mulheres. “Mulheres, a história agora é outra. Gemer só de prazer”, gritou a estrela, conclamando o público a denunciar a violência contra as mulheres no Brasil.
Acompanhada de Assucena Assucena e Raquel Virgínia, nos vocais, e Rafael Acerbi, na guitarra, o trio d’As Bahias e a Cozinha Mineira cantou ‘Se acaso você chegasse’, um clássico de seu repertório. Com uma leve alteração na letra de Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974)
‘Se acaso você chegasse
No meu chateau encontrasse
Aquela travesti que você gostou’, a versão faz uma alusão à música ‘Das estrelas’, de Assucena que fala de um ‘amor’ transfóbico. “A Elza é uma cantora em suas escolhas e repertório uma consonância muito grande com o nosso trabalho. Foi uma união que aconteceu quase que espontânea. Ela sempre está inovando, procurando oxigenar o trabalho, e a gente enxerga nela um farol de possibilidades, principalmente por tudo o que representa para a música, para a formação da nossa cultura e da cidadania brasileira”, conta Raquel Virgínia, vocalista d’As Bahias e a Cozinha Mineira.
A apresentação serviu como um ‘acorda, povo’, pela força política, com ‘A mulher do fim do mundo’, ‘Pequena memória de um país sem memória’, ‘País dos sonhos’ e ‘Blá-blá-blá’, com participação do rapper Edgar e Pedro Loureiro. O final apoteótico se deu com ‘Volta por cima’, um clássico de Paulo Vanzolini (1924 – 2013) com todos os convidados de maneira otimista acreditando em um Brasil melhor. Elza sempre ‘Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima’, porque ela não vai sucumbir e quer cantar sempre. Um show repleto de força que exalava muitas expressões artísticas. “Vou te dizer como esse Brasil é rico de talentos e poderoso e o que mais me entristece diante de tanta riqueza é que estamos adormecidos e ninguém fala nada diante de tantos problemas. Chega de perseguir os negros. Vamos parar com isso, chega! Falar não é difícil, o difícil é o eco. Essa emoção continua cada vez mais forte”, ressaltou Elza, em seu camarim logo depois do show.
Um grande encontro de gerações foi assim que se deu passagem meteórica de Iza no Palco Sunset. A cantora optou pela leveza do branco e prata – palco e figurinos – cheios de forma como uma Iza Squad, nessa performance que chegou grandiosa, forte e cheia de ginga, uma verdadeira potência. Ah, a artista vestia um top e uma calça repleta de recortes que deixavam sua pele à mostra. Logo no início do show, ela contou que “há quatro anos, estava no meio da muvuca vendo o show do San Smith, no dia 29 de 2015, eu me ajoelhei e pedi a Deus”, e como canta Xande de Pilares, ‘É Deus que aponta a estrela que tem que brilhar’, na faixa ‘Esse brilho é meu’, ela canta ‘esse brilho é meu e ninguém vai tirar’… E não tira mesmo, ainda mais depois dessa apresentação com direito à ‘profecia de Alcione‘, sua grande convidada, que disse: “Se Deus quiser no próximo Rock in Rio eu quero te ver no palco Mundo”. Considerando que sua carreira estão em ascensão, faz todo o sentido.
Além da cantora, que tem 29 anos, o público ainda foi presenteado com a experiência de 71 anos da Marrom e os 9 anos da pequena dançarina Luara, com o figurino inspirado no da anfitriã que evoluiu nas faixas ‘Bateu’ e ‘Ioiô’. O dueto ‘Chain of fools’ tinha tudo para ser o ápice desse show, mas confessamos que é impossível competir com o hit ‘Você me vira a cabeça’, a plateia cantava com os pulmões abertos, ‘Mas tem que me prenderrrr, TEM’. Queríamos ter visto mais Alcione. Destaque para a entrada triunfal da diva do samba que apareceu cantando à capela ‘Não deixe o samba morrer’, com sua voz ecoando pelo mar de gente que acompanhava esse show. Aproveitamos aqui para levantar uma campanha #AlcioneNoRIR2021
Uma curiosidade sobre a Marrom é que ela tem uma tradição que é chegar no Rock In Rio sempre vestindo uma roupa com a imagem de um de seus ídolos (já vestiu Axl Rose e Elza Soares) e desta vez o escolhido foi seu Nelson Sargento, grande baluarte, da Estação Primeira de Mangueira, que acaba de completar 95 anos. Todas as notas 10 para esse patrimônio da verde e rosa que é compositor, cantor, pesquisador da música popular brasileira, artista plástico, ator e escritor brasileiro.
A britânica, Jessi J, conquistou e emocionou o público no encerramento do primeiro fim de semana do Palco Sunset, do Rock in Rio, com uma apresentação que funcionou como um livro de auto-ajuda, repleta de mensagens motivacionais. A cantora abriu o show com ‘Masterpiece’, seguida por ‘Do It Like a Dude’. Logo depois se apresentou para o público. “Oi, meu nome é Jessica, prazer em conhecê-los. Hoje a noite é nossa”, empolgando a plateia, animada, em meio a garoa que caia na Cidade do Rock. A artista ainda cantou ‘Bang Bang’ e fechou sua performance com ‘Price Tag’. A estrela ainda teve um fotógrafo de luxo, seu namorado o ator Channing Tatum registrou toda a performance da artista.
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