Rock in Rio: com carisma e pouca voz, Bon Jovi fecha dia mais fraco desta edição com seu ‘hard rock domesticado’


Com desfalques de peso e fragilidade vocal de seu líder, banda teve problemas em sua nostálgica viagem aos anos de glória

Por Pedro Willmersdorf

Já são 30 anos de carreira e mais de 130 milhões de álbuns vendidos ao redor do mundo. Um currículo invejável que, sem dúvida, transformou a passagem de Bon Jovi pelo Palco Mundo em um momento de grande expectativa na quinta noite de Rock in Rio. Mais uma vez, como em outras oportunidades já demonstradas pelo festival, seria uma oportunidade do público viajar no tempo, desembarcando em uma época que as madeixas de Bon Jovi e, principalmente, seu rebolado eram motivo de repercussão que ia além da música. No entanto, apesar de efetuada, a tal viagem teve certa turbulência.

As ausências do baterista Tico Torres – afastado por conta de uma crise de apendicite que vem atrapalhando a turnê da banda, sendo substituído por Rich Scanella –  e do guitarrista (cheio de personalidade/talento) Richie Sambora – afastado por problemas pessoais com a banda, sendo substituído por Phil X – foram sentidas em determinados instantes, quando algumas das faixas no repertório do show ganharam uma roupagem mais lenta, domesticando ainda mais o hard rock de Bon Jovi.

Ele, Jon, apesar de todo o carisma, simpatia e receptividade aos fãs (com direito a ‘dueto’ com uma fã de Campinas no palco), ficou devendo em um quesito, no mínimo, importante: a voz. Poucas notas alcançadas, agudos bissextos e um esforço hercúleo para ter fôlego até o fim de cada música executada. Sorte do vocalista-galã (ainda arrancando calcinhas com pensamento do alto de seus 51 anos) que tem uma base de fãs tão apaixonada.

No setlist, mais um porém: o início calcado em canções do álbum ‘What About Now’ (2013) fez com que a plateia não explodisse como poderia ser esperado, mesmo diante de grandes hits, como ‘You Give Love a Bad Name’, ‘Runaway’ e ‘It’s My Life’. Uma leve debandada da plateia foi sendo vista na primeira metade da apresentação, sem contar as centenas de pessoas que sentaram em locais mais distantes do palco para acompanhar Bon Jovi… pelos telões espalhados pelo Parque dos Atletas.

Na reta final, a retomada de fôlego (dos fãs, não de Jon) com a trinca de ouro formada por ‘Wanted Dead or Alive’, ‘Have a Nice Day’ e ‘Livin’ On a Prayer’. Um discurso emoticionado de Jon, ao fazer menção ao baterista Tico, trouxe à cena a imagem do substituto Scanella, banido da transmissão de TV brasileira (assim como Phil, o outro substituto) por questões contratuais da banda, já que a dupla não faz parte do time original.

Um detalhe que, para os fãs mais apaixonados que ficaram até o fim dos quase 120 minutos de show, é tão irrelevante quanto a ausência de voz de Jon que, sem sucesso, continuou em busca das notas não mais alcançadas em ‘Always’, faixa derradeira no repertório da banda neste Rock in Rio.

Aos 51 anos, Jon Bon Jovi exibiu disposição e simpatia, mas ficou devendo voz em show no Palco Mundo do Rock in Rio (Foto: Reprodução/Internet)

Aos 51 anos, Jon Bon Jovi exibiu disposição e simpatia, mas ficou devendo voz em show no Palco Mundo do Rock in Rio (Foto: Reprodução/Internet)

O quinto dia de Rock in Rio

O início do Palco Mundo foi marcado pelo divertido karaokê montado por Frejat, que trouxe ao festival um mix de sucessos do seu Barão Vermelho com hits de outros nomes, como Jorge Ben Jor e Tim Maia.

No Palco Sunset, a dupla formada por Ben Harper e Charlie Musselwhite proporcionou um espetáculo envolvente calcado no blues, mas que soou ‘deslocado’ diante de grande parte da plateia que esperava alguns hits do parceiro de Vanessa da Mata no música-chiclete ‘Boa Sorte’.

De volta ao espaço principal, o Matchbox Twenty brindou o evento com seu ‘rock de novela’, eficiente mas sem muita repercussão nos últimos anos no mercado. Hits como ‘Disease’ e ‘Unwell’ não ficaram de fora do setlist.

o Nickelback confirmou expectativas: seus fãs tiveram diante de si o espetáculo carismático e fanfarrão liderado por Chad Kroeger, enquanto seus ‘haters’ reforçaram sua agressiva relação com a banda, graças ao desfile de baladas melosas configurado pelo show dos canadenses neste Rock in Rio.

Fotos: Vinícius Pereira