Orlando Morais: “Tudo que não convive e divide é ruim. Não ao preconceito, racismo, arrogância e injustiça!”


Com 30 anos de carreira fonográfica, o cantor e compositor está lançando toda sua discografia nas plataformas digitais, além de Le Silence Tue, canção inédita, com as participações de Sting, Peter Gabriel e do saxofonista americano Branford Marsalis. “Foi uma loucura, algo imenso que realizei”, explica sobre este projeto. Em 2020, por conta da pandemia, pela primeira vez depois de muito tempo, permaneceu o ano inteiro no Brasil, onde construiu uma linda casa em São Miguel dos Milagres, Alagoas

* Por Carlos Lima Costa

A pandemia transformou muitos hábitos. No caso do cantor e compositor Orlando Morais, em 2020, pela primeira vez, após mais de uma década, ele deixou de passar a maior parte de seu tempo em Paris, onde tem desenvolvido sua carreira. Permaneceu o ano todo no Brasil, onde tem feito o isolamento social com a família formada com a atriz Gloria Pires. A convivência diária acabou gerando inúmeros posts em suas páginas nas redes sociais. Mas, ele tem percebido o lado ruim do que tem acontecido pela web como os cancelamentos e a polarização que tomou conta do Brasil: “Eu acho que tudo que não convive e que divide é ruim. Hoje a gente vive uma polarização, fulano é preto, fulano é branco, azul, amarelo. Chega de preconceito, racismo, arrogância, maldade e injustiça!”.

Mesmo nessa fase difícil que o mundo está atravessando por conta da pandemia, Orlando produziu muita música. Ele acaba de lançar a canção Le Silence Tue, com as participações de Sting, Peter Gabriel e do saxofonista americano Branford Marsalis. “Sempre fui fã Número 1 do Peter Gabriel, assim como também ouvia o The Police com o Sting cantando. E pensar que, agora, gravei com eles. Uma realização imensa. Foi o Manu Katché, um grande amigo, que é um dos maiores bateristas do mundo, quem fez a ponte com eles e pensou o projeto como um todo”, comenta.

Orlando acaba de lançar a música Le Silence Tue, onde divide os vocais com Sting e Peter Gabriel (Foto: Divulgação)

Orlando acaba de lançar a música ‘Le Silence Tue’, na qual divide os vocais com Sting e Peter Gabriel (Foto: Divulgação)

Nos últimos anos, o cantor começou a trilhar uma história de sucesso, em Paris. Com Patrick Bruel, um dos principais cantores franceses, ele gravou Où Es-tu?, que alcançou o primeiro lugar em vendas no Itunes francês, e participou como convidado internacional de vários shows dele. Depois, desenvolveu o projeto Rivière Noire, um trio formado por ele, Pascal Danae e Jean Lamoot, com o qual ganhou o prêmio de Melhor Álbum de Música do Mundo, no Victoire de La Musique, principal prêmio francês equivalente ao Grammy americano. “Várias projetos foram acontecendo e eu sempre me prometendo disponibilizar Le Silence Tue. Bom, passaram-se anos e, agora, com a história de lançar toda minha discografia nas plataformas digitais, me deparei não só com esse trabalho, que terá um desdobramento em dois álbuns, mas com vários outros que vão começar a chegar às plataformas”, ressalta.

Toda a discografia já lançada por Orlando, no Brasil, está disponível em streaming desde o dia 11. Até, então, somente dois de seus 10 álbuns podiam ser acessados. Com quase 40 anos de trajetória artística, ele está celebrando 30 anos de carreira fonográfica desde o lançamento do CD Orlando Morais, em 1990. “Cada ano que passa eu fico mais feliz e agradecido a Deus por ter saúde, mente sã, que acredita no ser humano, no amor, na relação, na convivência de pessoas. Eu não apostei as minhas fichas no lugar errado. Coloquei tudo que eu tinha na sinceridade e fico feliz com o resultado”, analisa.

Agora, em 2020, por conta da pandemia, o cantor mudou a rotina dos últimos anos, as idas e vindas entre Rio de Janeiro e Paris. “Eu nem me dividia, minha carreira tinha mudado toda para lá. Nunca mais lancei nada aqui, porque trabalhei muito na Europa. Além do programa de televisão (, exibido no Canal Brasil), que eu fazia, foram muitos shows, discos lançados. Estava sempre pensando em fazer algo no Brasil, mas nunca tinha tempo. Quando chegava aqui, estava tão cansado, e como tenho algumas empresas, trabalhava e ficava com a família. Agora, por conta do Covid-19, este foi o primeiro ano em que não voltei à França para trabalhar, então, pude me organizar um pouco”, explica.

Com 30 anos de carreira fonográfica, o cantor está lançando toda sua obra nas plataformas digitais (Foto: Youri Lenquette)

Com 30 anos de carreira fonográfica, o cantor está lançando toda sua obra nas plataformas digitais (Foto: Youri Lenquette)

E Orlando colhe os louros de uma trajetória na Europa. “Os projetos chegam, eu faço e fico feliz. Mas não sou uma pessoa de programar tipo ‘vou chegar em tal lugar’. É uma alegria, mas também foi tanta alegria poder cantar, fazer uma parceria com Dominguinhos (1941-2013), por exemplo. Tem um valor gigantesco para mim. Sou brasileiro, gosto muito da música do meu país, do que se faz aqui. Então, me realizo da mesma forma aqui e lá”, diz.

Em 2021, ele planeja um disco feito totalmente no Brasil. “Já estou começando a compor”, avisa ele, que este ano lançou a ShowIn, plataforma de transmissões ao vivo. “Criamos não só para dar visibilidade ao artista, mas para monetizá-lo. Qualquer artista pode ter espaço ali, desde o cara que toca no barzinho até a grande estrela. Em janeiro, está programada uma live com o Luiz Caldas e o Manno Góes”, conta. O valor arrecadado com a venda dos ingressos será todo doado à Associação Acolhimento Mãe das Graças, que atende idosos com doenças como Parkinson e Alzheimer.

Orlando vem de família de fazendeiros. “Continuo com as fazendas, mas tem muito tempo que não tenho focado no agronegócio. Isso requer muito tempo”, explica, lembrando de seus inúmeros projetos. Há dois anos, fez um disco de samba. Mas somente duas músicas foram lançadas. Em breve, todas devem estar nas plataformas digitais, com a participação de nomes como Monarco e Áurea Martins. E conta que seu filme Orlamundo, lançado em 2019, quando conquistou o prêmio de Melhor Documentário no Los Angeles Independent Film Festival Awards, foi vendido agora para a Disney.

Orlando planeja voltar para Paris, em 2021, onde vai lançar um novo álbum (Foto: Divulgação)

Orlando planeja voltar para Paris, em 2021, onde vai lançar um novo álbum (Foto: Divulgação)

No momento, Orlando está em São Miguel dos Milagres, Alagoas. “Acabei de construir uma casa muito linda aqui. Este local é um paraíso, um dos lugares mais lindos do mundo. Só penso em ficar aqui, andando na praia, correndo. Vamos ficar o mês inteiro”, conta. A família mora no Rio de Janeiro, mas passou os últimos meses reunida, em uma casa, em Brasília, durante a quarentena. “Temos essa casa há muitos anos, e resolvemos passar a pandemia nela. Mas não penso em morar lá”, diz.

E lembra sobre o início da pandemia. “Começou muito triste, mas todo mundo se reuniu, conversamos mais, vivemos mais. A gente pôde ficar mais junto todo mundo, porque Cleo e Antonia (Morais) voltaram a ficar com a gente”. No início do mês, Gloria testou positivo para Covid-19. Bento, o caçula do casal também. “Mas estão recuperados, graças a Deus”, pontua. No ano que vem, Orlando vai celebrar 33 anos de união com Gloria. “É maravilhoso, cada dia melhor, porque a Gloria é uma pessoa extraordinária, uma árvore frondosa, de uma simplicidade, uma humanidade. É um encontro fundamental em todos os aspectos”.

Nos últimos tempos, Orlando tem visto as filhas seguirem seus passos na música. Em outubro, Antonia Morais lançou Luzia 20.20, seu segundo álbum, e, no momento, Ana desenvolve o seu primeiro. “Antonia fez um disco deslumbrantemente lindo, a Ana já está gravando um EP, ela compõe e toca também. Cleo (Pires) está fazendo os trabalhos dela de música, atriz, de internet. E Bento não quer seguir essa carreira. Eu os criei com muita liberdade, cada um faz aquilo que quer, do jeito que quer. Acho ótimo elas seguirem o caminho da música. São muito independentes e poderosas artisticamente. Cada uma tem sua linha, sua voz, o seu jeito. Eu não fico em cima de nada, são meninas muito livres”, assegura.