*Por Rafael Moura
Com uma mala cheia de sabores, sonoridades, odores, frescor e mensagens, a cantora paraense Aíla está no Rio para cortar a fita, hoje, da 8ª edição do Festival Levada, que tem direção geral direção geral de Júlio Zucca e curadoria de Jorge Lz, DJ, radialista e pesquisador. Ela vai mostrar o seu calor aos cariocas no Teatro Firjan Sesi, no Centro do Rio. Um dos mais importantes eventos que divulga a música produzida por todo o Brasil traz ainda nomes como: Jards Macalé, Mombojó, JosyAra, Ronei Jorge e The Baggios que pulsarão sua energia três palcos da cidade: Teatro Firjan Sesi (Centro), Centro da Música Carioca Artur da Távola (Tijuca) e LabSonica Oi Futuro (Flamengo), onde vai rolar o Levada+, sucesso de público no ano passado e que, para 2019, traz Livia Nery, Bia Ferreira, Ana Frango Elétrico e Lucas Estrela. “O Pará sempre foi muito quente, essa nossa diversidade e multiplicidade resulta numa energia muito forte, que de uns anos para cá, começa a ser exportado para fora do Norte”, enfatiza a cantora Aíla, em entrevista ao site HT. Essa confirmação vem com uma apresentação especial dos ritmos como o carimbó, a guitarrada e o technobrega, no dia 3 de outubro, no Rock in Rio.
O curador Jorge Lz rende muitos elogios à paraense que retorna aos palcos do festival, que a levou a trilhar novos caminhos, com temas como feminismo e questões de gênero. “Aíla foi a primeira artista a se apresentar no Levada. Ela abriu a primeira edição do festival em 2012, quando lançou seu primeiro disco. Dá uma alegria imensa ver esse crescimento de uma artista que apostamos lá atrás… o que reforça o nosso desejo de continuar proporcionando espaço para os novos nomes que surgem todos os anos”. Aíla completa: “Voltar ao Levada é muito especial, eu toquei lá na primeira edição, ou melhor, no primeiro show, em 2012. O festival ganhou uma dimensão enorme. Foi um convite muito carinhoso do Jorge, que está sempre antenado nas tendências de mercado”.
O evento funciona como um grande holofote, projetando e divulgando novos artistas. Nomes como Letrux, BaianaSystem, Metá Metá, Anelis Assumpção, Ava Rocha, Curumin, Vanguart, Boogarins, Kassin, Pietá, Carne Doce, Ian Ramil e Maria Beraldo foram ingredientes fundamentais para temperar esse festival. “Temos artistas com talentos extraordinários, que seus trabalhos não chegam ao público, gerando uma sensação de que a música brasileira hoje é fraca. Quando, na verdade, o que acontece é justamente o contrário. Estamos em um momento incrível da nossa música, pois a produção atual é muito grande e rica. A nossa ideia com o Levada é justamente mostrar essa riqueza, dando destaque a esses cantores, além de fazer a formação de um público que seja atento às transformações pelas quais nossa música evolui”, explica Jorge.
Já o gestor de Cultura do Oi Futuro, Roberto Guimarães, corrobora com Lz enfatizando a importância dessas ações. “O Festival Levada foi criado para o Oi Futuro há sete anos e nasceu alinhado com a nossa visão de fomentar a inovação no campo do som e dar voz a uma novíssima geração de artistas de todas as regiões do país. O projeto funciona como uma importante plataforma de mapeamento de talentos e segue reverberando seu mote, que é atuar como um catalisador criativo, impulsionando pessoas através das artes e estimulando a produção colaborativa e abraçando a cidade por meio da cultura”. Segundo Julio Zucca, sócio da Zucca Produções e diretor geral do evento, “o Festival Levada tem os holofotes voltados para artistas independentes com carreiras em forte ascensão pelo Brasil”, o que consolida seu caráter inovador.
O curador Jorge Lz faz um interessante recorte do que está acontecendo na música popular brasileira contemporânea. Ele busca constantemente estreantes, mas também bota os olhos em artistas com alguma estrada ou mesmo consagrados, desde que estejam realizando trabalhos instigantes, provocativos e afinados com o novo cenário musical brasileiro, criando pontes e encurtando distâncias. “O Brasil conhece muito pouco sua cultura e sua história, precisamos valorizar mais esse intercâmbio, por isso apostamos em nomes como a Aíla”, exemplifica. Nascida na Terra Firme, bairro da periferia de Belém, a jovem é um dos principais nomes contemporâneos da música produzida no Brasil. Com um timbre marcante e intensa personalidade no palco, ganhou destaque em 2012, com o álbum ‘Trelêlê’, que liquidificou a tradição popular musical do Pará com uma pitada mais contemporânea, flertando com o brega, a lambada e o zouk love.
A cantora, que é uma intensa ativista dos direitos humanos e igualdade de gênero, em 2016, lançou seu segundo álbum, “Em Cada Verso Um Contra-Ataque”, pelo selo Natura Musical, com um molho ‘artvista’, com composições próprias e de parceiros, como Dona Onete e Chico César. Neste álbum, ela disseca temas urgentes, como feminismo e questões de gênero, e investe em uma sonoridade pop, vibrante, que flerta com as distorções do rock e ao mesmo tempo com os beats eletrônicos, reflexo também da conexão Belém-São Paulo, onde reside hoje. “É a poesia sempre instigando a reflexão. Essa cor e essa vibração que nasce nas periferias, tentando hackear a música, pop, faz o povo dançar em sinal de protesto. Que mexe bunda, mas também mexe as ideias”, pontua a cantora.
O Pará sempre teve uma forma muito peculiar de divulgar seus artistas, em entrevista a esse repórter, em 2012, no lançamento do álbum ‘Treme’ (2012), de Gaby Amarantos, o produtor musical Miranda (1962 – 2018), revelou que se os Cds não chegassem aos ‘camelôs’ os artistas não fariam sucesso. É um receita que só ganhou adaptações com o boom das plataformas digitais. “O streaming estão ganhando um lugar de bastante importância como as rádios ainda tem. É de suma importância os artistas se conectarem e estarem aliados com as tecnologias de trabalho. O grande ‘problema’ dessas plataformas é a velocidade, tem uma efemeridade incessante, não temos um tempo de maturação. A sacada é o mercado trabalhar single, a single, lançando clipes e se conectando com outras redes sociais, sempre alimentando seus fãs”, explica Aíla.
A cantora de visual marcante se considera uma ‘artsista’, por conta de sua paixão pelas artes visuais, o que acaba fervendo e respingando em seu figurino e clipes, que tem direção de arte do seu conterrâneo, Vitor Nunes, que também assina o styling do cantor Jaloo. “Mais do que nunca a música é imagem e para mim é extraordinário, porque eu sempre gostei de misturar músicas com performances, artes visuais, além de ritmos como a lambada, o dub reggae, sempre com um viés político. Foi muito importante para o meu crescimento esse amadurecimento de multi linguagens. Em cada clipe eu vou emergir em diferentes imagens”, conta.
No fim desse saboroso papo, Aíla contou que está buscando ingredientes mais pop, dançante e vibrante desde o lançamento do single ‘Treme Terra’ (dia 23 de julho). “Ao longo do ano irei lançar mais singles e o álbum sai do forno em 2020. Para o Levada eu preparei um show especial, pois, são muitas novidades: a banda, o repertório, os arranjos é novo, é uma experimentação. Eu trago músicas do primeiro e segundo disco, além de releituras de canções que eu gosto. Um show bem feminista, pop, abordando questões de gênero, é para dançar e se conscientizar”.
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