“O Brasil sempre será a minha casa, mas mudar para Los Angeles foi a melhor decisão da vida”, diz Thiago Müller


Radicado há sete anos nos Estados Unidos, o cantor e compositor, filho dos atores Anderson Müller e Marcella Muniz, experimenta sucesso na Venezuela, no México e no mercado americano. Com estilo musical que aposta em ritmos latinos como o samba, confessa que um dia gostaria de criar o samba para a Beija-Flor, onde seu avô paterno Anísio Abraão David é presidente de honra

* Por Carlos Lima Costa

Filho dos atores Anderson Müller e Marcella Muniz, Thiago Müller até fez testes na área quando era criança. Ele admira a profissão dos pais, a considera nobre, mas nunca quis realmente atuar. A paixão artística está nas suas veias, mas a música é que sempre o tocou. Há sete anos, ele está radicado, em Los Angeles, Estados Unidos, para onde se mudou visando investir na carreira musical. Seu trabalho é inspirado em ritmos latinos, onde mescla vários gêneros. “Amo misturar estilos, o samba com o reggaeton, a bossa com o merengue. Adoro folk e sons naturais. Mas meu estilo hoje é baseado no samba e na música brasileira, na minha raiz”, explica. Muito disso se deve ao ambiente que frequentou desde bebê: o das escolas de samba, mais especificamente a Beija-Flor, onde seu avô paterno, Anísio Abraão David, é o presidente de honra. Aquele universo é responsável por muito de sua inspiração.

Thiago Müller está radicado há sete anos em Los Angeles (Foto: Divulgação)

Thiago Müller está radicado há sete anos em Los Angeles (Foto: Divulgação)

“A Beija-Flor sempre fez parte da minha vida e o ritmo junto, marcando presença desde que eu ainda usava fralda. Engraçado, estava falando sobre isso com meu produtor Nico Farias: ‘Nunca achei que o samba seria tão forte na minha música.’, Não foi algo que eu escolhi, aconteceu naturalmente. Dia desses, estava tocando uma canção autoral com uns amigos aqui e eles começaram a tocar pandeiro e uma batida de samba em volta da música. Fiquei apaixonado pela forma como ficou. Este gênero é a minha raiz, é inexplicável a sensação que eu sinto, sou muito grato a minha família por ter me criado nesse mundo. Tenho orgulho da Beija-flor e o samba aqui me deixa um pouco mais perto de casa”, explica, emocionado.

Em LA, Thiago começa a colher os frutos de suas escolhas musicais. Sua canção Llevame vem alcançando grande destaque. É difícil conseguir um espaço lutando contra os “leões” no Spotify? “Sim, essa música foi um susto para todos nós, crescendo de forma muito orgânica. Llevame ficou em 10º lugar das mais tocadas na rádio da Venezuela e isso nos ajudou muito. Todos que escutam tem um carinho especial por ela. Llevame foi minha primeira música que tocou em uma Rádio, fiquei orgulhoso. No Spotify, continua crescendo, já são 230 mil execuções, hoje. Meu objetivo é que chegue a 300 mil, meta que estabeleci quando a lançamos. É difícil entender o algoritmo do Spotify, mas meu time me ajuda e nesse momento temos muitos lançamentos chegando também para ajudar nisso”, conta. Seu trabalho vem ganhando destaque também no México. “No mercado americano tocamos bastante em Miami. Sou muito grato pela base latina que temos lá com a nossa canção”, acrescenta.

Thiago aposta na mistura de ritmos latinos (Foto: Divulgação)

Thiago aposta na mistura de ritmos latinos (Foto: Divulgação)

Thiago decidiu que trabalharia com música, compondo e cantando, aos 16 anos. “Sempre tive todo apoio na minha casa, mas precisava entender esse mundo da música. Então, quando realmente me mudei para Los Angeles, foi a melhor decisão que eu tomei na vida. Não sabia nem como funcionava o mundo da composição, como fazer dinheiro nesse ramo ou como me tornar um profissional”, recorda ele, que no Musicians Institute, em LA, estudou composição para a indústria de entretenimento (trilha sonora para filme, seriado, videogame) que inclui arranjo e estudo sobre instrumentos clássicos e também técnica vocal. “Vim determinado a estudar mais sobre o Music Business e aprender tudo que eu posso sobre a música”, completa.

Ele reconhece que sendo brasileiro, latino, é difícil conquistar um espaço nos Estados Unidos. “Mas ao mesmo tempo a música latina vem crescendo bastante no mercado. Aqui a competição é grande, mas prefiro ver como uma mão ajudando a outra. Não quero pegar o espaço de ninguém, quero é trabalhar com muita gente talentosa que tem aqui. Tem espaço para todos. Meu foco é fazer o que eu amo e o sucesso vai ser a consequência disso”, reflete. E fala da alegria ao ver um artista brasileiro fazendo sucesso em solo americano. “Acho que tanto a Ivete Sangalo quanto a Anitta têm públicos aqui fora. Fico muito feliz de ver o Brasil sendo representado por essas duas artistas. São mulheres que conquistaram um público internacional. Acredito que a Anitta atinge um público latino pop aqui e a Ivete, os latinos que desejam outros sabores da música brasileira. As duas têm um poder forte no cenário internacional”, analisa.

Thiago e o pai, o ator Anderson Müller (Foto: Divulgação)

Thiago e o pai, o ator Anderson Müller (Foto: Divulgação)

Thiago pontua algumas alegrias dos últimos sete anos. “Escrevi com tanta gente quando comecei a entender o que é trabalhar com música. Nos primeiros anos estava tentando aprender a tocar piano e escrever tudo em inglês, lendo bastante e estudando as músicas pop daqui e como funcionava esse processo de songwriting. Eu toquei em vários bares e lugares lendários de LA, descobri o mundo da música latina no qual trabalho hoje quase todo dia com amigos. Escrevi com todo mundo que tive a oportunidade, acredito que a gente aprende muito sobre diversidade musical com essas parcerias. Minhas amizades e todos meus trabalhos foram desse networking. Tive a oportunidade de trabalhar com uma diretora da Dream Works em um curta infantil onde eu fui condutor e criei a trilha para o filme dela. Gravamos com mais de 50 instrumentistas, tudo da melhor qualidade. Consigo escrever um livro sobre esses sete anos de muitos aprendizados e amizades. Hoje, sou assinado com a MUSTDIE MGMT e meu empresário e amigo Andre Rodriguez me ajudou muito na minha carreira profissional. Acredito em colaboração. Ela foi fundamental para estar aonde estou hoje”, relata orgulhoso, e ressalta alguns de seus ídolos musicais: Cazuza, Billy Joel, Ray Charles e Marilyn Monroe. “Sou apaixonado pela artista e pela figura dela, tenho um EP inteiro que estou escrevendo sobre ela”, revela.

Neste momento, pelo menos, Thiago não pensa em voltar a viver no Brasil. “Gosto da minha vida aqui! Amo meu cotidiano e a Califórnia. Agora, quero muito que meu trabalho possa me fazer passar uns 3 meses ao ano no Brasil. Esse seria o cenário perfeito. Estou trabalhando para poder fazer isso. Mas não penso em voltar de vez. Ainda tem muitos lugares nesse mundo que eu quero morar um tempo”, ressalta.

Em consequência da pandemia, faz 1 ano que Thiago não vem ao Brasil. “Não consigo ficar muito tempo distante de casa. Sou muito ligado à minha família e esse ano vai ser o primeiro Natal que vou estar longe deles. Sacrifícios que, às vezes, temos que passar. Sinto saudade dos meus pais todos os dias”, frisa. Além da família, do que mais sente falta? “Dos amigos. E das padarias, restaurantes, água de coco na praia, chope de domingo, dessas coisas simples da nossa cultura, o café da tarde, o pôr do sol na praia, o jeito brasileiro de ser. O Brasil é meu berço e sempre vai ser a minha casa.”

Thiago canta e compõe (Foto: Divulgação)

Thiago canta e compõe (Foto: Divulgação)

Em Los Angeles, sua rotina depende da demanda de trabalho. “Geralmente começo o dia escrevendo no meu diário. É minha terapia e me ajuda muito no inglês. Foi dica de um professor. Esse exercício virou fundamental e parte prioritária da minha rotina. Foi assim que comecei a escrever letra de música em inglês. Depois me exercito e começo meu dia. Às vezes, vou para o estúdio do meu produtor e de lá vemos com quem vamos escrever na semana… fazemos músicas novas, às vezes trabalhamos para uma trilha sonora. Mesmo quando não tem demanda, estou escrevendo e tentando criar algo. E gosto de separar um dia na semana para sair completamente da rotina. Em Los Angeles, sempre que não tem uma session em um estúdio vai ter algum evento de networking ou algum show de um artista para me inspirar. Amo essa cidade que estava sempre movimentada, antes desse cenário da pandemia”, realça ele, que está solteiro. “Mas estou sempre preparado para viver uma história de amor”, avisa.

Entre os projetos atuais, ele compõe a trilha para o filme O Meu É Meu O Seu É Nosso, do diretor Guga Sabatiê. No elenco da comédia romântica investigativa estão sua mãe e uma de suas irmãs, a atriz Thais Müller. E por falar em família, Thiago confessa que já pensou em criar um samba-enredo para a Beija-Flor. “Mas não é fácil. Já conversei com meu tio (Gabriel David) sobre como é a preparação do samba, ele me explicou tudo e como seria se eu quisesse competir. Criar um samba é bem difícil, a comunidade tem que gostar, os competidores fazem apresentações. Para isso, precisaria estar mais presente no Brasil, mais perto da comunidade de Nilópolis. Seria um sonho poder criar um samba para a Beija-Flor e estar mais perto de todos ali. Tudo no seu tempo”, acredita.