Ludmilla em papo exclusivo: “Eu e Brunna sonhamos em gerar e também adotar! Crianças trazem alegria”


De férias, nas Maldivas, e, agora, em Dubai, a cantora falou sobre o momento profissional mais amadurecido, o aprofundamento no exercício da fé, sua relação com Brunna Gonçalves e racismo: “Tenho certeza de que se não estivesse na posição que estou hoje, tudo seria bem diferente. Mas nem por isso deixo de ver o que está acontecendo e de lutar contra o racismo, que é um tema importante e muito pertinente, que deve ser debatido à exaustão até que isso se dissipe de uma vez por todas. É difícil? Pra caramba! Mas estamos no caminho”

*Por Brunna Condini

De férias nas Ilhas Maldivas, na Ásia, e agora em Dubai, nos Emirados Árabes, com a esposa, Brunna Gonçalves, e a mãe Silvana, Ludmilla conversou com exclusividade sobre do ano intenso, o crescimento profissional e pessoal, e também do controle da própria carreira e dos planos de gerar ou adotar uma criança. Aos 25 anos, a artista que canta desde a infância, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, tem apenas oito anos separando o início da carreira profissional – ainda como MC Beyoncé – da Ludmilla que está entre as dez cantoras negras mais seguidas do mundo no Instagram, com 22, 9 milhões de seguidores, e a mais seguida do Brasil. Em agosto deste ano, ela também se tornou a primeira cantora negra de toda a América Latina a alcançar 1 bilhão de reproduções no Spotify. E já considerada uma das cantoras negras mais premiadas do país, tendo levado 20 troféus para casa, entre eles, o de Melhor Cantora no Prêmio Multishow em mais de 25 anos da premiação. Ou seja, Ludmilla é uma potência em alta velocidade.

Ludmilla em ‘Rainha da Favela’, que tem participação de divas do funk que fizeram história no gênero (Divulgação)

Ludmilla dorme pouco, trabalha muito, é determinada, quer muito mais, mas faz questão de deixar claro que não esquece suas raízes e referências. Tanto que lançou recentemente o hit (e também uma homenagem), ‘Rainha da Favela’, com participação de divas do funk que fizeram história no gênero, como MC Carol, MC Kátia, a fiel, Tati Quebra Barraco e Valesca Popozuda, tudo gravado na maior favela do Brasil, a Rocinha.

“Aprendi com as ‘rainhas da favela’ a não desistir, até porque, muitas delas nem têm essa opção, não têm nem tempo para ficarem tristes e lidarem com os problemas que vivem” (Divulgação)

‘Rainha da Favela’ é o trabalho que fala mais alto à sua essência até hoje? “Posso dizer que sim, mas não pela canção em si, que foi feita há um tempo atrás, mas porque assumi minha carreira. ‘Rainha da Favela’ foi um projeto que pensei do zero e desenvolvi junto com a minha equipe, uma galera que me ajuda demais a colocar as minhas ideias em prática. Essa música é o início de um novo ciclo que já começou com um saldo bastante positivo: entrou na playlist “viva latino” organicamente, figurou no Top 10 do Brasil, ela vem na esteira do 1 bilhão de streams, o que me deixa muito orgulhosa”.

O que mais aprendeu e tem aprendido com as ‘rainhas da favela’ famosas e as anônimas, as do clipe e as que estão em seu documentário? “A não desistir, até porque, muitas delas nem têm essa opção, não têm nem tempo para ficarem tristes e lidarem com os problemas que vivem, porque quando vão ver, já está na hora de acordar e irem à luta novamente. Então eu vejo que não se deve esmorecer, desanimar, muito menos desistir”, diz.

“Eu e muitas outras artistas mulheres só estamos e chegamos em algum lugar, por causa delas” (Divulgação)

Neste trabalho, que veio logo depois do elogiado EP de pagode ‘Numanice’, Ludmilla exalta as mulheres potentes e destaca as que batalham vivendo dentro das comunidades. Chamá-las de ‘rainhas’ é reverenciá-las e lembrar de quem fez o caminho antes de você. Em uma época, inclusive, que não se ganhava tanto por esse tipo de show. Então, também podemos dizer que você faz questão de empoderar outras mulheres em sua trajetória? É um objetivo e uma preocupação constante? “Mas é claro. Eu e muitas outras artistas mulheres só estamos e chegamos em algum lugar, por causa delas. Tenho muita consciência em relação a isso. Então reconhecer, mostrar, divulgar a trajetória delas para quem não vivenciou isso, porque nasceu depois, é importante demais. Precisamos deixar vivas essas memórias”.

Novas versões

Em uma fase mais madura da carreira, depois de experimentar a versão apresentadora no ‘Só Toca Top Verão’ este ano, e experimentar a versão atriz, como Diana, na segunda temporada da série ‘Arcanjo Renegado’, da Globoplay, que será sua estreia na televisão, ela segue se lançando em novos desafios.

Como Diana, sua estreia como atriz na televisão, em ‘Arcanjo Renegado’, da Globoplay (Reprodução)

Ludmilla será uma das juradas do novo The Voice, que terá apenas competidores acima de 60 anos. Além dela, também serão jurados Daniel, Mumuzinho e Claudia Leitte. Ela se diz honrada com o convite, mas já identifica no que vai encontrar dificuldades: “Com certeza vai ser escolher quem fica e quem sai. É do reality, eu sei, mas como lidar com o sonho do outro, que também foi meu um dia? Ainda mais para pessoas mais experientes, que devem ter aguardado tanto por essa chance. Já sinto o peso dessa responsa”.

Mulher de fé

Em outubro deste ano, a artista falou da abertura da ‘Big Célula da Lud’, em que reúne um pequeno grupo de pessoas para orações e para o estudo da Bíblia. “Um pouco da minha primeira célula aberta, que eu coloquei o nome de BIG célula, esse nome remete a algo grande, que cabe tudo, todos, exatamente como o amor de Deus por nós, um amor que nos acolhe e ensina tudo. Essa célula tem um propósito muito importante no meu coração, algo que faço como forma de agradecer ao Senhor por cuidar tanto de mim. Sempre acreditei em Deus mas nunca tinha vivido uma experiência real com Ele, até o dia em que me vi travada em uma cama com a crise da coluna, ali foi quando Deus se apresentou a mim e mudou meu quadro.
Desde então quis buscar conhecer mais sobre esse amor tão lindo”, postou em seu Instagram na ocasião.

A‘Big Célula da Lud’, em que reúne um pequeno grupo de pessoas para orações e para o estudo da Bíblia (Reprodução)

Você sempre se disse com fé, mas acha que este ano pediu um mergulho maior na espiritualidade? “Embora o ano realmente tenha sido atípico e mais difícil, esse ‘mergulho maior’ aconteceu com naturalidade. Eu faço células em minha casa há mais de um ano, mas só agora fiz algo maior e mostrei ao público. Mas teria acontecido de qualquer forma, independente da pandemia”, afirma.

E revela que a fé também a auxilia a lidar com medos e angústias: “Eu confio muito no meu Pai, a minha vida é toda regida por ele e sei que, mesmo quando não entendo alguma situação que eu esteja passando, ele está preparando algo melhor para mim. Por isso, não há o que temer”.

Planos à duas

Casada com a bailarina Brunna Gonçalves desde o ano passado, ela se declara: “O nosso amor se fortalece a cada ano, alegria, obstáculo que superamos, viagem, confidência que trocamos, miojo que comemos juntas de madrugada, porque tudo isso constrói a nossa história e é o que solidifica ainda mais o nosso casamento”.

Ludmilla já havia comentado sobre a vontade das duas terem filhos juntas e faz questão de reafirmar o desejo de construir uma família com Brunna. “Sonhamos em gerar e também adotar! Crianças trazem muita alegria e nos sentimos prontas para amar e cuidar, quando formos presenteadas com as nossas”, revela.

Empoderamento negro e conquistas

A artista sofreu com episódios de preconceito e discriminação ao longo da sua vida. E até quando fez história no Prêmio Multishow ano passado, Ludmilla passou por uma cena racista, quando ao se direcionar para pegar seu prêmio, foi chamada de ‘macaca’, por algumas pessoas que estavam na plateia e seriam supostos ‘fãs’ de outra cantora. Na época, ela se posicionou nas redes questionando até quando estes ataques aconteceriam com vidas negras. E aproveitou sua performance na mesma premiação este ano para fazer um protesto: enquanto dançava, áudios mostravam o tipo de preconceito que ela já sofreu em sua trajetória, e ao fim da coreografia, ela deu ‘o dedo do meio’ para o racismo.

“Tenho certeza de que se não estivesse na posição que estou hoje, tudo seria bem diferente. Mas nem por isso deixo de ver o que está acontecendo e de lutar contra o racismo” (Reprodução)

Em outras situações a fama já chegou a blindar do racismo ou ele ainda passa perto com frequência? “Creio que sim. Tenho certeza de que se não estivesse na posição que estou hoje, tudo seria bem diferente. Mas nem por isso deixo de ver o que está acontecendo e de lutar contra o racismo, que é um tema importante e muito pertinente, que deve ser debatido à exaustão até que isso se dissipe de uma vez por todas. É difícil? Pra caramba! Mas estamos no caminho”.

Você já se declarou feminista e lembrou recentemente, que ele também precisa ser antirracista. Na prática, o que é isso? “São tantas coisas…desde as expressões extremamente racistas, como ‘mulata’, ‘denegrir’, ‘a coisa está preta’, passando pelas piadas de mau gosto e até desprezar pessoas pretas por serem mais humildes ou desdenhar de um preto que conquistou uma posição bacana. Somos todos iguais, mas se hoje estamos nessa batalha é porque as pessoas não entenderam isso ainda e a nossa luta se faz necessária”.

Nos seus melhores sonhos, lá, antes de tudo, sabia, sentia, que chegaria longe? “Olha! Eu costumo dizer que a gente sonha e quer muito que isso aconteça. É um sonho poder viver da sua arte. Há tantos talentos por aí que não conseguem… mas não imaginava acontecer tudo o que está acontecendo comigo. Sou muito feliz e grata”.

Tem sido anunciada uma segunda onda da covid-19. Já pensou como serão suas festas de fim de ano? Você é uma pessoa que gosta de reunir a família…com pensa em lidar com tudo isso? “Meu fim de ano está bem agitado em relação ao trabalho, ainda estamos trabalhando em ‘Rainha da Favela’, tem lançamento de uma faixa do projeto audiovisual de ‘Numanice’, início das gravações do The Voice+, nem tive tempo ainda de pensar em como será, mas moro com minha família, então, provavelmente, estaremos juntos”.