Lucy Alves combate xenofobia e lembra de Juliette no BBB: ‘Somos vistas como bichinhos exóticos ou artistas sazonais’


Cantora, compositora, multi-instrumentista e que toca uma sanfona como ninguém, ela lança o single ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’ com releitura de músicas da banda Falamansa. Paraibana, Lucy compartilha suas experiências de ter garra e força para enfrentar sempre a xenofobia: “Passei por muita coisa e, toda vez que um de nós ocupa grandes espaços midiáticos, é importante que ouçam o nosso sotaque, gírias e respeitem nosso jeito de ser. Isso inspira, fortalece e motiva mais nordestinos a nunca esquecerem de quem são”

*Com Bell Magalhães

A atriz, cantora e multi-instrumentista Lucy Alves lançou esta semana o single ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’, parte integrante do álbum batizado ‘Avisa’, que será lançado em junho. No single, ela faz releituras das músicas ‘Gotas de Amor’ e ‘Oh Chuva’ do grupo Falamansa. O álbum, além de seis faixas do grupo paulistano, contará ainda com dobradinha de Lucy com Ricardo Ramos da Cruz, o Tato, vocalista do Falamansa em uma música inédita.

Sobre a parceria que vem por aí, Lucy conta que todo o processo de composição foi feito virtualmente entre ela e Tato e ainda com a participação do produtor Marcel Souza. “Tato é um cara muito atencioso, positivo e um super compositor. Mandei ideias do que tinha pensado para a música e logo completamos juntos. Foi lindo!”, conta. O grupo Falamansa tem uma história sólida e está na estrada há mais de 20 anos. Segundo a cantora, “os integrantes da banda sempre fizeram bonito na difusão do forró em todo o Brasil. Esse encontro é perfeito em todos os sentidos: promove a união de Nordeste e Sudeste em prol do forró e ainda traz música gostosa para alma”.

Lucy Alves, lança o single ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’, releitura de clássicos da banda Falamansa (Foto: André Hawk)

Lucy Alves lança o single ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’, releitura de músicas da banda Falamansa (Foto: André Hawk)

Lucy diz que pretende levar as festividades de São João – interrompidas desde o ano passado por conta do agravamento da pandemia – para a casa das pessoas com o novo álbum, tanto que a versão completa será lançada dia 17 de junho, uma semana antes do Dia de São João. “Espero ajudar a matar um pouco da saudade da maior festa do país e que faz falta para todos nós. Movimenta famílias, emprega pessoas, promove entretenimento e celebra uma importante tradição do Brasil” diz, acrescentando: “A música tem o poder de proporcionar a sensação de acolhimento. Queremos mensagens boas e de esperança. Enquanto aguardamos ansiosos pela vacina em nossas casas, a música pode trazer um pouco de alento e de boas memórias”. 

Capa do single 'Gotas de Amor/Oh Chuva' (Divulgação)

Capa do single ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’ (Divulgação)

Sem shows ou eventos presenciais, inúmeros artistas de várias vertentes optaram por continuar a produzir conteúdos durante a pandemia para, de alguma forma, alimentar a alma do próprio público. “No início da pandemia, eu cheguei a acreditar que precisaria gerar muito conteúdo para manter o meu trabalho em dia. Fiquei meio desesperada. Depois, me acalmei. Entendi que não era por aí e que precisava me respeitar, senão poderia endoidar. Estamos todos vivendo um tempo de muito medo, angústias e incerteza”, desabafa. No seu tempo, Lucy começou a alinhavar novos projetos. “A música me mantém feliz, forte e esperançosa e deságua sentimentos. Estou seguindo da forma que posso, mas sem me pressionar, pois estamos vulneráveis e precisamos nos acolher também”, frisa.

"Fiquei meio desesperada. Depois me acalmei, entendi que não era por aí e que precisava me respeitar" (Foto: André Hawk)

“Fiquei meio desesperada. Depois me acalmei, entendi que não era por aí e que precisava me respeitar” (Foto: André Hawk)

De fato, a reflexão foi uma ferramenta importante durante este período para a a artista reavaliar algumas questões, inclusive da própria personalidade: Foi um tempo muito importante para escutar o meu próprio eu. Tive que exercitar mais do que nunca a paciência, pois sou imediatista. E entendi que nem tudo está no nosso controle. Virei ‘mainha’ de pets, passei a me comunicar mais com meus amigos e comecei a aprender uma nova língua. A pandemia me fez perceber o tempo de forma diferente e valorizar ainda mais o que realmente importa para mim nessa vida”.

"Tive que exercitar mais do que nunca a paciência, pois sou imediatista, e entendi que nem tudo está no nosso controle" (Foto: André Hawk)

“Tive que exercitar mais do que nunca a paciência, pois sou imediatista, e entendi que nem tudo está no nosso controle” (Foto: André Hawk)

A força da mulher nordestina

Natural de João Pessoa, capital da Paraíba, Lucy foi uma torcedora ferrenha da conterrânea Juliette Freire, ganhadora da última edição do ‘Big Brother Brasil’, e dispara: “Eu torci muito por Juliette! Doce, forte, potente e corajosa. Ela é uma mulher de fibra e uma paraibana de respeito!”. Nas palavras da artista, Juliette representa a ‘força da mulher nordestina’ pela atitude, mas também pela resiliência e forma com que a ex-participante encarou a xenofobia que sofreu no programa. “Até hoje a xenofobia existe e só cada um de nós sabemos o que passamos para conquistar os grandes espaços. Muitas vezes, nós temos que abdicar de ficar perto da família, migrar para os grandes centros em busca de outras oportunidades para, no final, sermos vistos como bichinhos exóticos ou artistas sazonais”.

"Muitas vezes temos que abdicar de ficar perto da família para migrar para os grandes centros e ser visto como bichinho exótico ou artista sazonal" (Foto: André Hawk)

“Muitas vezes temos que abdicar de ficar perto da família para migrar para os grandes centros e ser visto como bichinho exótico ou artista sazonal” (Foto: André Hawk)

“Passei por muita coisa e, toda vez que um de nós ocupa grandes espaços midiáticos, é importante que ouçam o nosso sotaque, gírias e respeitem o nosso jeito de ser. Isso inspira, motiva e fortalece mais nordestinos a nunca esquecerem quem são. A nossa história é muito bonita para ser abafada por qualquer tipo de preconceito”.

Ser mulher ainda é sinônimo de luta diária no combate ataques machistas e misóginos. “Calar não é opção e precisamos falar sobre feminismo para nos fortalecer e nos proteger. Estamos conquistando nosso espaço na sociedade com muita luta e resiliência. Vivemos numa sociedade patriarcal e devemos usar todos os meios de comunicação para desconstruir isso. Uma puxa a outra!”

E como atriz, Lucy arrasou em emprestar o seu talento à personagem Lurdes, da primeira fase da novela “Amor de Mãe” – posteriormente interpretada também magistralmente por Regina Casé. “Eu gosto muito de atuar e tive a sorte de interpretar personagens marcantes e com muito a dizer”, pontua. E a gente continua aplaudindo o trabalho da atriz, cantora, compositora, multi-instrumentista e que toca uma sanfona como ninguém.

"Precisamos falar sobre feminismo para nos fortalecer. Estamos conquistando nosso espaço na sociedade com muita luta e resiliência" (Foto: André Hawk)

“Precisamos falar sobre feminismo para nos fortalecer. Estamos conquistando nosso espaço na sociedade com muita luta e resiliência” (Foto: André Hawk)

Ouça ‘Gotas de Amor/Oh Chuva’ abaixo: