Gal Costa: ‘Medo é termômetro de quem tem coragem. Eu tenho e esperança para lutar contra desigualdade e injustiça’


Aos 75 anos e 55 de carreira, a cantora, que acaba de lançar o álbum ‘Nenhuma Dor’, gravado durante a pandemia e em dueto com 10 nomes das mais diversas gerações, ressalta ainda o sentimento que a domina nesses 11 meses de pandemia. “É difícil se isolar das pessoas, a falta de um abraço, de ver os amigos. Nesse ponto, tenho sofrido como todo mundo que tem alguma sensibilidade”, pontua

Gal Costa: 'Medo é termômetro de quem tem coragem. Eu tenho e esperança para lutar contra desigualdade e injustiça'

* Por Carlos Lima Costa

Os adjetivos dizem muito ao nossos corações: diva, uma das maiores vozes da música brasileira, musa da Tropicália, a cantora do  sorriso do Gato de Alice. Sim, o nome dela é Gal… Gal Costa. E, desde a semana passada, só vem colhendo os louros com o lançamento do álbum ‘Nenhuma Dor’. Uma sinergia com um elenco masculino de 10 artistas de diferentes gerações regravando, em dueto com a cantora, músicas eternizadas em sua voz. O presente que Gal nos propicia é um tilintar de taças brindando os 75 anos e 55 de carreira. O trabalho foi idealizado e gravado durante o isolamento social decorrente da pandemia da Covid-19, período que a artista passou em São Paulo, onde mora. “Sou muito caseira, então, ficar em casa, não é sofrimento. Mas sei que é difícil se isolar das pessoas, a falta de um abraço, de ver os amigos. Nesse ponto, tenho sofrido como todo mundo que tem alguma sensibilidade, que tem amor pelo próximo”, comentou ela em entrevista a Fábio Júdice, no RJ TV.

'Nenhuma Dor', novo CD de Gal Costa, celebra os 75 anos da cantora e 55 anos de carreira (Foto: Julia Rodrigues)

‘Nenhuma Dor’, novo CD de Gal Costa, celebra os 75 anos da cantora e 55 anos de carreira (Foto: Julia Rodrigues)

Nesse momento atípico que vivemos, ela garantiu ainda que é bem diferente dos versos “Não sou mais tola/Não mais me queixo/Não tenho medo/Nem esperança”, da canção Sem Medo Nem Esperança, que faz parte de Estratosférica, seu álbum anterior, de 2015. “A esperança move a humanidade. A gente tem sempre que ter esperança para lutar contra a desigualdade, as injustiças. O medo? O medo a gente tem. O medo é o termômetro para quem tem coragem. E eu sou corajosa, minha carreira mostra isso”, observa ela. Fazer um show e reencontrar os fãs é o que Gal mais deseja realizar quando a pandemia passar, pois ela tem muito trabalho ainda para nos presentear.

Capa do recém lançado álbum de Gal Costa

Capa do recém lançado álbum de Gal Costa assinada por Omar Salomão, filho de Waly Salomão (1943-2003), que esteve à frente de shows e discos da cantora

Gal conta que o novo disco nasceu de ela sempre sentir o reverberar do seu trabalho junto a jovens artistas. E a gente sente que super valeram as conversas com Marcus Preto, que assina a direção artística e foi grande incentivador do projeto. Ele soube valorizar a voz de Gal Costa e respeitar as cinco décadas e meia de carreira da artista fazendo uma conexão do passado e presente com os registros originais das músicas escolhidas para fazerem parte do projeto. Com a generosidade das grandes estrelas, Gal abriu espaço para seus convidados brilharem e foi lançando desde novembro de 2020 os singles desse projeto, que sai pela Biscoito Fino. É bom ouvir as versões de “Avarandado”“Nenhuma dor”“Juventude transviada”“Meu bem, meu mal”“Negro amor”“Coração vagabundo”“Baby” e “Paula e Bebeto”.

Entre os convidados que participam das releituras de clássicos da trajetória de Gal, estão Seu Jorge com Juventude Transviada; Zeca Veloso (filho de Caetano Veloso) na canção título; Criolo, em Paula e Bebeto; o uruguaio Jorge Drexler, em Negro Amor; Rubel com Coração Vagabundo; Silva, que canta Só Louco, Rodrigo Amarante, em Avarandado; e Zé Ibarra, na música Meu Bem, Meu Mal.

Uma semana antes do lançamento de Nenhuma Dor, um novo single com Gal chegou nos streamings: A canção Quando o Carnaval Chegar, frevo composto e lançado por Daniela Mercury. “Ela mandou mensagem me convidando para uma homenagem ao Moraes Moreira (1947-2020), de quem gravei muitas composições, incluindo Festa do Interior, que foi bem marcante. Então, fiquei contente de ter feito esse projeto”, disse.

No último sábado, dia 13, vimos Maria Bethânia, outra diva baiana, realizar sua primeira live, apresentações que se tornaram populares na internet durante a pandemia. Gal fez a dela, em 26 de setembro, dia em que completou seus 75 anos. “Gostei da experiência da live. Acho que é oportunidade que a gente tem de chegar as pessoas que estão presas em casa. Claro que o público faz muita falta, mas temos que continuar trabalhando”, disse ainda no telejornal global.

Gal vive com o filho adolescente, Gabriel, de 15 anos. E com ele nutre o mesmo tipo de relacionamento que tinha com a mãe, Mariah Costa Penna, morta em 1993, a quem tanto admirava. “Ela não era uma mãe castradora, tão pouco me proibia de ir aos lugares, nem de ver os amigos e eu sou igual com o Gabriel. Tenho confiança nele. E ele tem confiança em mim e assim era a minha relação com a minha mãe”, ressaltou.