Gabi lança single ‘Nirvana’ e comemora nova fase de vida depois de deixar a advocacia e sofrer assédio


A cantora lembra do trauma que sofreu, certa vez, em pleno estúdio de gravação. “Fui gravar em um estúdio e todos foram embora. Só fiquei eu e o produtor. Eu estava no aquário gravando a voz e ele operando a mesa de som. Subitamente, enquanto eu cantava, ele começou a me encarar de um jeito estranho e me assediar verbalmente com palavras realmente muito baixas. Fiquei em choque, não consegui responder nada. Terminei minha gravação, peguei minha bolsa e fui embora extremamente constrangida. Mesmo que eu não perceba sempre, isso me traumatizou de alguma forma”

Depois de criar o Song Camp Angra, reality musical que surgiu do desejo da cantora Gabi de reunir músicos, compositores e produtores para uma experiência imersiva de criação musical, ela segue trilhando um novo caminho empoderado. Quem acompanha a carreira da cantora, pode se preparar para vê-la em um trabalho extremamente maduro com ‘Nirvana’. O single será lançado neste final de semana com direito a clipe. “O trabalho demonstra um amadurecimento na minha carreira. Finalmente cheguei onde queria chegar, aliando letras e batidas, me encaixando no nicho que eu entendo que me pertence”, conta a cantora.

A artista, que tem seis singles lançados, orgulha-se da coragem que teve para abrir mão da bem-sucedida carreira de advogada, e se lançar no mundo da música. Se dependesse dela, faria tudo novamente. “Eu sempre soube que era isso que eu deveria estar fazendo, mas tinha medo de seguir meu coração. Hoje, me sinto muito mais segura. Entendi que a arte não é apenas entretenimento. A arte é força, é resistência. Me vejo exatamente onde eu gostaria de estar há um ano. Faria absolutamente tudo de novo. Não me arrependo de nada. Vejo meu amadurecimento como artista, e principalmente como compositora. Parece que estou permitindo que minha alma cresça, pois coloco tanta alma em tudo o que canto, que escrevo, me sinto tão feliz. Tenho um mantra que repito: o melhor sempre está por vir”, pontua.

A obra também marca a parceria musical de Gabi com o produtor Umberto Tavares, profissional que trabalhou em grandes hits da cantora Anitta, como ‘Show das Poderosas’ e ‘Bang’. “O Umberto é um gênio da música. Ele produziu meu primeiro show, que acabou não indo pra rua por conta da pandemia. Sempre fui sua fã e ele se apaixonou por Nirvana. Eu nem acreditei que ele tinha topado assinar essa produção, e quando ouvi o resultado, fiquei mais feliz ainda. Ele é muito profissional, talentoso e sabe os caminhos do mercado. São tantos hits que o Umberto assina, que eu já sabia que essa música ficaria incrível, antes mesmo de vê-la pronta”.

O trabalho chega acompanhado de um clipe muito bem produzido e que tem como cenário, o estilo colorido, aconchegante e despojado do Hotel Selina, em Copacabana. O local acolhe a história de amor do casal vivido por Becca  Perret e Julio Marra. “O lugar escolhido não poderia ter sido melhor. A energia descontraída do Selina fez com que todo mundo se sentisse em casa. Foram 14 horas de gravação que passaram rapidinho. Eu acredito muito em energias, e acho que a energia leve da música contagiou todo mundo também. Ficamos na mesma frequência”.

ASSÉDIO, NOVOS CICLOS E EMPODERAMENTO

A cantora nos conta que foi traumática a opção de romper uma sociedade em um escritório de advocacia: “Quando engravidei a primeira vez, era sócia de dois homens em um escritório de advocacia, e foi quando me vi tomada por uma avalanche de sentimentos: além da insegurança de ser mãe de primeira viagem, meus sócios não compreendiam meu momento mais sensível, minhas limitações, o barrigão, as dores, as ausências para exames, médicos, tudo o que acompanha uma gravidez. Então, quando meu bebê nasceu, decidi vender a minha parte e seguir sozinha trabalhando de casa. Queria ter tempo pro meu filho, qualidade de vida pra mim e pra ele, amamentar livremente, brincar”.

E desabafa: “Profissionalmente foi ainda mais difícil. As noites em claro e a incerteza se daria conta do trabalho e das contas a pagar me fizeram enlouquecer. Cheguei a pensar em desistir de ter uma profissão, e acredito que esse seja um sentimento muito comum nas demais mulheres. É uma carga muito pesada pra gente. Passei a admirar ainda mais minha mãe, que também era autônoma, e percebi que só mulheres podem compreender mulheres. Quando montei minha equipe e tive a oportunidade de gerar empregos, minha atitude foi de acolhimento a outras mulheres e mães como eu, de criar um ambiente de trabalho onde eu sei que cada uma ajuda a outra porque a gente entende como é ser mãe, esposa, profissional… E que uma função não anula a outra, pelo contrário, quando temos apoio podemos ser ainda mais produtivas e é importante que sejamos, pra nossa autoestima, nossa independência”.
Sua equipe no trabalho com a música é composta em 99% por mulheres. “Sinto que se posso fazer do mundo um lugar um pouquinho melhor que seja, é minha obrigação fazê-lo. As mães criam o futuro, e mães felizes e satisfeitas criam um futuro melhor para toda a sociedade. A gente se ajuda, trocamos figurinhas pra caramba, sobre tudo! Entendemos os momentos umas das outras, temos uma visão mais empática de nós mesmas. Costumo dizer que não somos uma equipe, somos uma família onde uma olha o filho da outra quando é preciso levá-los pro trabalho, passamos roupinha do maior pro menor… É um ambiente realmente acolhedor e real”.
Conta ainda que tem traumas do ambiente corporativo, da competição, da supressão exagerada da vida profissional sobre a pessoal. “E com a minha equipe temos um pacto: somos uma pela outra, e assim trabalhamos felizes e relaxadas. Criamos uma rede de apoio a nós mesmas, e ainda produzindo juntas. Isso faz até com que a minha capacidade criativa flua melhor. Além de tudo, e talvez o mais importante: eu me sinto segura”.

Gabi, já sentiu preconceito pelo simples fato de ser mulher? “Muitas vezes. Não só na minha atual carreira de cantora, como também na minha carreira anterior, de advogada. Não importa o seu tipo de trabalho, se é mais intelectual ou mais braçal, não importa o quanto você estudou, as suas experiências, as pessoas sempre questionarão a sua capacidade por ser mulher. Acham que as nossas conquistas são sempre por supostamente termos um homem nos alavancando. Seja o marido, o produtor, o empresário. Nunca somos nós por nós, pelo nosso talento, dedicação ou competência. As pessoas não questionam esse tipo de coisa aos homens. Não questionam se conquistam seus espaços pela beleza ou pela falta dela, pelos relacionamentos. Quando as pessoas veem um homem de sucesso, elas atribuem o sucesso a ele e ponto. Já quando veem uma mulher de sucesso, atribuem sempre às características físicas, aos relacionamentos amorosos (alguns até inventados), aos relacionamentos pessoais. Por último, se fala do talento. Eu já ouvi cada coisa que me decepcionou muito, de pessoas que considerava próximas inclusive. É muito triste e desanimador, mas seguimos na luta por nossos espaços”.

E já sofreu assédio na carreira? “Muito também, infelizmente. Eu realmente não consigo entender como um homem se acha no direito de expor e constranger mulheres que nitidamente não estão sexualmente à sua disposição em um ambiente profissional. Certa vez, fui gravar em um estúdio e todos foram embora. Só fiquei eu e o produtor. Eu estava no aquário gravando a voz e ele operando a mesa de som. Subitamente, enquanto eu cantava, ele começou a me encarar de um jeito estranho e me assediar verbalmente com palavras realmente muito baixas. Fiquei em choque, não consegui responder nada. Terminei minha gravação, peguei minha bolsa e fui embora extremamente constrangida. Mesmo que eu não perceba sempre, isso me traumatizou de alguma forma. Está no meu subconsciente. Não consigo ficar sozinha com um homem em um ambiente profissional. Assim, numa sala, eu e um homem só. Não consigo. A não ser que já tenha uma certa intimidade que me dê confiança nele. Do contrário, me dá uma sensação horrorosa, uma vontade de fugir dali correndo. Parece que em algum momento ele vai investir contra mim. É difícil até de explicar”.