Exclusivo! Ex-Detonautas, Tchello lança a banda Motel 11-11 e declara: “Me sinto com 18 anos e disposição total para recomeçar”


O músico participa do grupo de “rock-arte” com Tomaz Lenz, Áureo Gandur, Marcelo Magalhães e Rick de La Torre, e já disponibiliza o primeiro EP gratuitamente na internet

Pouco mais de um ano após deixar o Detonautas Roque Clube, banda na qual tocou como baixista por mais de 17 anos, Tchello está pronto e entusiasmado para dar o próximo passo em sua carreira. Essa nova fase se materializa em Motel 11-11, grupo de rock no qual ainda participam Tomaz Lenz (vocal, violão e bateria), Áureo Gandur e Marcelo Magalhães nas guitarras e Rick de La Torre (bateria). “Eu me sinto com 18 anos e disposição total para recomeçar tudo de novo! Quem me dera ter essa experiência de agora quando comecei o Detonautas”, Tchello conta em exclusividade a HT.

Com o Detonautas, Tchello viveu mais de uma década fazendo sucesso nacional com hits como “Olhos Certos”, “Você me faz tão bem” e “Quando o  sol se for”, que estouraram nas rádios, novelas e na memória de todos os brasileiros. Ainda assim, ele comenta que sua saída do grupo foi parte de um momento crucial na sua vida: “Em 2006, a gente perdeu o [guitarrista] Rodrigo Neto, um grande amigo meu de antes da banda. Quando ele morreu, eu ganhei um filho no mesmo dia. Acabei perdendo um pouco do interesse pela música, porque o Rodrigo era o meu grande amigo ali dentro. Passei a tocar não como uma obrigação, mas perdi o entusiasmo mesmo”, explica.

Detonautas – “Olhos Certos”

Pouco tempo depois, Tchello encontrou Tomaz em um show e lhe pareceu a dose extra de empolgação que ele precisava para se sentir novamente animado com ato de fazer música. “Aquilo me despertou alguma coisa. Pensei ‘caramba, estou com vontade de fazer arte e música de novo'”. Foi então que surgiu o Projeto 11-11, que começou apenas com a espontaneidade de amigos criando um som pelo simples prazer de tocar. Oito anos se passaram, Tchello fez uma viagem ao Taiti para filmar o documentário “O Legado” – acompanhando surfistas capixabas e sua imersão na cultura da ilha – e apenas quando voltou ao Brasil, em novembro do ano passado, que o “Projeto” tomou a forma e ganhou o conteúdo de “Motel”. “Era quase um movimento, um descarrego. Sem regra e sem compromissos com imprensa. Éramos um grupo de amigos que ficava no estúdio pela música e pela arte”, explica o artista sobre a fase inicial da banda.

A seriedade e a alta produção de músicas fizeram com que nascesse a Motel 11-11: “Decidimos por o nome de um lugar onde as pessoas pudessem representar as letras das músicas e concluímos que o motel é o de maior rotatividade com pessoas sentimentais. Se encaixou como uma luva! As letras falam sobre alguns desabafos, mágoas, felicidades e outros sentimentos que quem se hospeda nesse local está suscetível a vivenciar”, conta. Hoje, o grupo já tem disponibilizado gratuitamente online o EP “A Vida Como Ela É”, além das versões de outros clássicos inusitados: “Pensamos quais são os grupos mais carentes e criamos essas versões – não covers, porque mudamos o arranjo e são coisas que os fãs vão conhecer. Há Legião Urbana, Los Hermanos, Cazuza, Raul Seixas etc”, fala Tchello, animado. “Hoje em dia não dá para fazer um vídeo e uma música. Tem que ser um monte de conteúdo, tem que se preocupar com o conceito, a divulgação, a internet, o discurso… Tudo tem que estar no mesmo nível da música”, comenta, acrescentando que tem também um arquivo enorme de filmagens de estúdio, tudo programado para entrar em breve no Youtube.

Essa produção em massa de vídeos é um dos prós de Motel 11-11 ser uma banda independente, sem contratos sufocantes com gravadoras, um fruto genuíno da era online, onde basta talento e perseverança para divulgar um trabalho musical. Entretanto, Tchello admite que nem na época dos Detonautas ele teve muitos problemas com engravatados da indústria: “Eu poderia ter passado por gravadoras e anos de estrada, mas tenho uma noção maior de mercado e de como podemos trabalhar. Existe esse mito de que as empresas impõem as coisas, mas sempre há diálogo. Algo que eu discordo do que tem sido feito é que as gravadoras determinam o que podemos ou não publicar como vídeos na internet. É até um dos motivos pelos quais pretendemos seguir assim, de forma independente – existe uma democracia muito bonita dentro da banda. Quando chega em algum impasse é sempre resolvido através de votação, de uma harmonia muito homogênea e rica. Só consegui isso com essa banda”.

11017576_1590056284614123_1897183309_n

Através de “Os Varandistas”, coletivo musical do qual Tomaz participa, o Motel 11-11 ganhou uma música de Maria Gadú, que também integra o grupo com o vocalista da banda. “Varanda”, que foi um presente da cantora e compositora, deve entrar na tracklist do primeiro álbum do grupo, ainda sem data definida para ser lançado, mas com muito material pronto. “Ela falou para nós pegarmos a música e achou que ficou linda a versão. Estamos guardando com carinho. Ela casa muito bem com “Saber das estrelas”, que traz  essa mistura de rock com MPB, a qual chamamos de ‘arte-rock'”.

Motel 11-11 – “A Vida Como Ela É”

Por sinal, de acordo com Tchello, a teoria de que o rock está morrendo não faz o menor sentido. “Quem morre são as pessoas, o rock fica aí para sempre. Pode ser que a mídia o esconda às vezes, mas as bandas de rock nunca deixarão de fazer show”, comenta com convicção. “Às vezes falta um pouco mais de coragem, sabe. Tanto das gravadoras quanto dos organizadores de eventos e de festivais, em colocar o rock para jogo. Eu não sou contra os outros estilos, tem espaço para todo mundo. Com o Motel 11-11, a gente veio com muita coragem mesmo. Os maiores nomes foram os que tiveram coragem de mudar, tipo o Nirvana com o grunge. Acho que falta um pouco mais de ousadia no rock”.