“Tenho fé que as pessoas terão atitudes mais efetivas e não apenas hastags no mundo virtual”, frisa Luciane Dom


A cantora em parceria com o Dona Conceição acaba de lançar o single e o clipe de ‘Azul’, uma canção sobre cuidado, empatia e construção de uma vida em longa caminhada. “Além da potente mensagem de amor e aquilombamento que curam, um som acolhedor que irá te envolver sensorialmente a cada segundo”, diz a cantora que ainda conversou sobre racismo e a quarentena. Vem saber!

Dona Conceição e Luciane Dom lançam o single ‘Azul’

*Por Rafael Moura

Em 2013, o diretor, Abdellatif Kechiche no longa ‘Azul é a cor mais quente’ trouxe à tona a a simbologia da cor azul, que representa a cor do céu e do mar. Frequentemente associada com a profundidade e estabilidade, ela simboliza a confiança, lealdade, sabedoria, inteligência, fé e verdade. O azul é considerado benéfico para o corpo e a mente. “Eu acredito que o mundo precisa de empatia e afeto”, conta Luciane Dom. Desde o lançamento de ‘Liberte esse banzo’, 2018, a artista vem nos surpreendendo com suas produções musicais, videoclipes, sua luta anti racista sempre propondo reflexões sobre as mulheres negras com ‘Some (2019)’. E, desta vez, ela vem acompanhada do vibrante Dona Conceição, responsável pelo inovador álbum ‘Asé de Fala’ (2018), o percussionista, cantor e compositor, diretor de cinema, trazendo todos os batuques do Rio Grande do Sul, para a música ‘Azul’.

O single é uma canção que fala sobre cuidado, uma música sobre o amor de uma forma positiva, de construir uma caminhada. “É uma música sobre empatia e construção de uma vida em longa caminhada. Além da potente mensagem de amor e aquilombamento que curam, um som acolhedor que irá te envolver sensorialmente a cada segundo. A suavidade da canção e os batuques ancestrais, dentro do sotaque brasileiro, te conduzem à cosmovisão de África”, revela a artista.

A capa do novo single dos cantores Luciane Dom e Dona Conceição, ‘Azul’, que fala sobre afeto e cuidado.

“Eu entendi, com o passar do tempo, que Azul era mais que uma canção romântica, era sobre o afeto compartilhado através do tempo e também sobre a dimensão do afeto que só a passagem do tempo nos dá”, explica Dona Conceição. E Luciane completa: “Essa canção me faz lembrar toda a preocupação de quem ama, em construir uma história juntos. Lembra meus pais, minha avó, dos poemas de Conceição Evaristo, traz todo o clima de aconchego”. A gravação do clipe foi feita em setembro de 2019, aqui no RJ, no Teatro do Oprimido e nas Praias de Botafogo e da Urca, e em Alvorada para transmitir o ritual da vida, da passagem do tempo sobre envelhecer junto.

Leia Mais – “Se antes eu não me reconhecia, hoje vou lá, me represento e levo o bonde todo junto”, dispara Luciane Dom

Segundo Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 os trabalhadores negros no Brasil recebem, em média, R$ 1,2 mil a menos que os brancos. Um balanço divulgado pelo Grupo de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), do MPT, mostra que somente nos últimos cinco anos, o órgão recebeu 896 denúncias por discriminação em razão da origem, raça, cor ou etnia. No ano passado foram 205, um crescimento de 30,5% em relação a 2014, que foi de 157. O DataPoder360 recentemente fez uma pesquisa sobre o racismo. O resultado do levantamento mostra que 28% dos brasileiros afirmam que sim, consideram ter preconceito contra negros. Outros 59% dizem que não. “Eu tenho a esperança que as pessoas terão atitudes mais efetivas e não apenas hastags. Que as pessoas parem de pensar além do virtual”, dispara.

A cantora revela que está aproveitando essa quarentena para fazer a pré-produção do EP novo, a partir de um edital do Oi Futuro. “Estou bem ansiosa, compondo e respeitando o meu tempo. As músicas que estava fazendo tinham a ver com esse caos. Quero pensar em músicas que transmitam esperanças. Estou com a minha família em Paraíba do Sul e está sendo um grande processo de autoconhecimento”.

“Estou bem ansiosa, compondo e respeitando o meu tempo”, revela a cantora Luciane Dom sobre a quarentena

Luciane faz parte da geração Y, uma turma que se caracteriza por jovens que representam um divisor de águas, uma mudança de comportamento marcante, muito influenciada pelo contexto socioeconômico e cultural da época. É a primeira a ter contato mais direto com a tecnologia, pois nasceu pouco depois da criação da internet.

“Eu tenho 30 anos e, apesar de ser uma nascida digital, é tudo muito novo para mim. Eu estou feliz de ver a força das redes sociais e dessas plataformas impulsionando novos artistas como eu. É um caminho necessário, por isso estou aprimorando minha comunicação e acesso. O artista precisa se mostrar para além da música. Quanto mais digital for teremos menos burocracias nesses processos. Mas o olho no olho ainda é primordial”, explica. No fim dessa conversa a cantora manda um recado. “Quero logo que essa pandemia passe para voltarmos a ter os abraços e a sentir o calor das pessoas com as nossas presenças”.

“Eu estou feliz de ver a força das redes sociais e dessas plataformas impulsionando novos artistas”, conta Luciane Dom (Foto: Wendy Andrade)

E para você que ainda não conhece essa super artista, Luciane Dom integra o line-up da 13ª edição do evento ‘Latinidades – Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha’, que vai até o dia 27 de julho, com uma edição 100% on-line, que contará com debates, oficinas, vivências, atividades infantis e literárias e apresentações artísticas. A cantora se apresentará no próximo domingo, dia 24 de julho, às 21h.